24.11.08

O rascunho...

Ando cansado. Mais que isso, ando exausto! Farto de você que luta por migalhas enquanto poderia ter o mais rico dos tesouros; que joga fora diamantes para pendurar no pescoço cacos de vidro.
Vá se cortar com eles!
Cansei de você, que só enxerga as próprias vontades, os próprios desejos. E que, quando esbarra nas consequências dos próprios atos, desculpa-se com ar de quem fez tudo sem querer...
Preguiça disso tudo!
Ando cansado de você, que desconsidera. Que não liga, que não atende, que não retorna. E que, quando o faz, diz as tais mentiras sinceras que (não) me interessam...
Ando cansado das lembranças todas que nem sei mais se traduzem o que se passou ou se são frutos de alguma espécie de disfunção dos meus mecanismos de memória. Cansado de reconhecer cheiros, de acumular imagens, de te ver nos mais diversos momentos do meu dia. De pensar em você...
Troca o que há de mais valoroso por um monte de...nada! Troca tudo o que poderia ser pelo que nunca será...
E vai! E não me diga que o faz sem saber; sei que sabe de tudo! Noto isso nesse teu olhar de quem fez bobagem; no teu tom de voz ao telefone; nos elogios que oferece como recompensa pelos atos que reconhece indignos de você.
Indignos de mim.
De nós...
Vai! E me deixa!
Só não diga que eu não avisei...

+ + +

Olhou para o texto. Leu e releu por diversas vezes. Trocou uma ou outra palavra, inverteu a ordem de dois parágrafos para, em seguida, desfazer a alteração. Mas, antes de enviar o tal e-mail, ponderou. Poderia ser uma fase; poderia estar num daqueles momentos de nervos aflorados; sensível demais para tomar decisão qualquer que fosse, ainda mais uma tão séria quanto aquela.
Respirou fundo e clicou em salvar como rascunho.
E aquele se tornou um esboço de mais um e-mail que nunca seria enviado...

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