14.12.13

E eu vi, enfim, uma palestra do Lula...

Aproveitei uma tarde livre no meio dessa semana agitada aqui em Brasília e dei um pulo no Fórum Mundial de Direitos Humanos. Estava cansado, arrumado demais pra ocasião e com muito sono, depois de uma noite em que havia dormido apenas por duas horas e meia. Mas a missão merecia o esforço: queria aproveitar a oportunidade de ver, ao vivo, uma palestra do ex-presidente Lula.
Sempre achei Lula um grande comunicador, capaz de conquistar plateias de todos os tipos com suas falas inflamadas, emocionantes e divertidas. Por isso, não hesitei em esperar, apesar do atraso de uma hora no início da mesa que teria a presença do metalúrgico mais famoso da história do Brasil...
E Lula veio em sua melhor forma. De cara, disparou: "Tenho aqui um discurso preparado para essa ocasião mas, de cara, vou abandoná-lo". Aplausos. Lula não tardou a dirigir sua fala aos manifestantes que faziam barulho e erguiam faixas, os mesmos que, pouco antes, haviam vaiado muito o discurso da presidenta Dilma. "Não tenho medo de cara feia, se tivesse, nem teria nascido! E teria morrido assim que me vi no espelho". Em meio às gargalhadas da plateia - que sufocaram e logo puseram fim aos protestos, o ex-presidente se pôs ao lado dos manifestantes: "É natural que se queira mais! O governante tem que saber ouvir críticas, porque muitas vezes está cercado de gente que só faz elogios". E prosseguiu: "Mas não se pode esquecer do quanto esse país avançou nós últimos anos."
O auditório, atento, passou a prestar atenção. Lula citou os mais de 20 milhões de brasileiros retirados de uma situação de extrema pobreza nos dois governos do PT. Lembrou que foi o presidente que mais construiu escolas técnicas na história do Brasil. E disse: "Fui candidato à presidência por três vezes e perdi. Poderia ter desistido, mas não desisti porque eu sabia que eu, um operário sem diploma universitário, poderia entrar para a história como o presidente que mais fez pela diversidade nesse país". Foi ovacionado e o auditório se rendeu a essas inegáveis conquistas.
"Vocês acham que eu não sei que sou odiado por muita gente?" - prosseguiu - "Eu sei! E como sei! Sou odiado por quem acha absurdo o pobre estar na universidade! O Brasil nunca teve tanto pobre estudando ora doutor, minha gente! Sou odiado pela madame que vê sua empregada chegar pra trabalhar na segunda usando o mesmo perfume que a patroa colocava nas noite de sexta pra ir jantar fora! E sou odiadopor aqueles que adorava viajar de avião com a poltrona do meio vazia, mas agora não podem mais fazer isso porque o pobre também tá andando de avião!"
Voltou-se para os jovens manifestantes e disse: "Vocês têm razão de querer mais saúde, mais educação, de quererem o fim da corrupção! Eu já levantei todas essas bandeiras! Tenho bursite de tanta bandeira que carreguei! Mas a desgraça do jovem é negar a política! Se você quer uma política diferente, entre você para a política e faça a diferença! Porque, acreditem: a desgraça de quem não gosta da política é ser governado por quem gosta dela!".
Saí do auditório como quem acaba de ver um show memorável. Aliás: vi mesmo um grande show! Lula é um orador carismático, tem alto poder de comunicação e uma oratória que toca diretamente no coração de todos que estão comprometidos com esse Brasil mais plural, diverso e inclusivo que brota em todos os cantos. Sou um desses. E agora posso dizer que, um dia, numa tarde abafada de Brasília, vi bem de perto o cara que começou a mudar essa história...

6.12.13

Tudo ou nada?

E de tantas promessas que fizeram, de todas as juras de amor, de todos os olhares ternos, de todos os beijos intermináveis, de tudo aquilo a que costumavam chamar de "nós" restou pouco, quase nada. E esse quase nada ainda era mais puro, mais verdadeiro e mais forte que o tudo que muita gente sonha experimentar ao longo da vida...

8.11.13

Vem?

Reviro na cama que não é minha. Estranho o quarto que também não é meu. Estranho os sons que desconheço, as luzes que teimam em entrar pelas frestas das cortinas, o ligar e desligar constante do ar condicionado. Estranho o som das passadas vindas do andar de cima. Estranho tudo...
E te extraño...
Falta-me você. Faltam seu sorriso, falta o brilho dos seus olhos, falta o som da tua voz que ainda desconheço. Faltam as brincadeiras tolas, só nossas, que criaremos para rir juntos. Falta a nossa música, falta o nosso filme preferido, falta te aquecer numa noite fria e pegar fogo quando encostar em você. Faltam o sabor do beijo que ainda não provei, a jura de amor que jamais ouvi e o abraço - cúmplice e igualmente inédito.
Tenho tanto.
Quase tudo...
E ainda falta você. 
Vem?

27.10.13

Ivete Sangalo e Silvio Santos: encontro de gigantes no Teleton 2013




Noite de sábado, em casa, sozinho. Troco de canal e me deparo com o Teleton. Parei pra ver na hora, claro. Como disse no Twitter, acho que essa campanha é um dos maiores acertos do SBT. O programa é um formato importado, criado por emissoras latinas - o que torna ainda maior sua identificação com a emissora de Silvio Santos. Aqui a causa é pra lá de nobre: o dinheiro das doações vai para a AACD,  mantenedora de centros de reabilitação para o tratamento de pessoas com deficiência.
A madrinha do projeto foi Hebe Camargo, como Silvio sempre faz questão de lembrar. Contratada do SBT, ela convenceu o patrão a embarcar na iniciativa. Hebe e Silvio acreditaram na solidariedade do povo brasileiro e, hoje, o tempo mostra que estavam certos...
Nesta noite, no entanto, o show foi de uma outra dupla. Se tradicionalmente Silvio Santos e Hebe encerravam a maratona televisiva juntos, desta vez o previsto era um desfecho em família: ao lado do dono do SBT estavam a filha, Patrícia, e o neto, Tiago Abravanel. E a atração musical era Ivete Sangalo. Mas bastaram poucos minutos em cena para Ivete e Silvio tomarem conta palco. Num bate-bola afiadíssimo, fizeram o auditório e o público de casa gargalhar. O carisma dos dois é incontestável, e resultou num espetáculo que deixou Tiago e Patrícia relegados à figuração. Teve de tudo: Silvio pisando no pé de Ivete durante uma dança, a cantora segurando dálias para o eterno Homem do Baú ler seus textos, poses para fotos do Instagram e muitos momentos hilários. Ao autografar as sandálias doadas para o leilão da campanha, Ivete ouviu Silvio criticar sua assinatura. "Não me venha cobrar caligrafia bonita que eu sou cantora, não preciso!". Ele também fez graça: "Ivete, até que você ainda tá bem...", brincou, pra logo elogiar a forma da baiana.
Mas o momento mais engraçado da noite - além da hora em que Silvio confundiu a marca de cosméticos Nívea com uma suposta convidada, perguntando: "Quem é Nívea? Cadê a Nívea?" - foi quando Ivete, num número digno dos melhores espetáculos de stand up comedy, imitou vários quadros de programas eternizados por Silvio Santos. Às gargalhadas, o dono do SBT não fez questão de esconder o quanto estava gostando da farra. Em um determinado momento, chegou a dizer: "Ivete, além de cantar você pode ser apresentadora".  Ela logo devolveu: "É só você me dar um programa aqui..."
Foi um programa memorável. Ivete Sangalo, goste-se ou não de suas músicas, é uma das personalidades mais carismáticas e versáteis do showbizz brasileiro. Hoje, na minha opinião, ela fez uma de suas melhores apresentações na televisão - e lá se vão 20 anos de carreira. Deixou o maior apresentador do país sem palavras, convertido ao papel de espectador. E comandou a festa da solidariedade com irreverência e alegria, suas marcas registradas. Antológico!
Em tempo: com Ivete no palco, o Teleton permaneceu na liderança da audiência. Por volta de uma da manhã, o SBT marcava 11 pontos. Sinal de que o público entendeu que o momento era mesmo único...  

18.10.13

O que é o amor?

Amor? Dizem que é paz, que é tranquilidade. Que é deitar do lado de quem se ama e ter vontade de sentir o tempo ir congelando até parar. Dizem que é encontrar refúgio em outra alma, aconchego em outros braços, confiança em outro olhar. Também dizem que amor é sintonia, encontro. Destino? Talvez...
Amor também é verdade. É respeito. É parceria. É crer, em dupla, que aquilo que se está construindo a quatro mãos pode se tornar uma das principais certezas da vida - essa sempre tão incerta. Amor é ter saudade, querer sempre mais. É contar segundos até estar novamente perto. Do lado. Dentro de quem se ama...
Amor é tanta coisa. Tem tantos sentidos, tão plurais significados. Dá até pena notar que tanta gente fala dele sem sequer roçar a superfície doce e grandiosa do sentimento traduzido pela bela união dessas quatro letras... 

1.10.13

Passa tão rápido...


Dia desses eu estava enfrentando naves alienígenas jogando Megamania no meu Atari. Ou lançando bombas sobre navios no River Raid. Isso foi pouco depois de ganhar meu primeiro Ferrorama, que, de tão grande, não cabia na sala da casa em que morava...
Foi nessa época em que ganhei um microfone e uma caixa amplificadora, pra brincar de apresentar o Jornal Nacional e o Globo de Ouro - aquele programa musical que os mais jovens descobriram agora, na reprise do Viva...
Meu Deus! Foi outro dia em que minha mãe me ensinou que o R minúsculo era um "caixotinho" e que o E, também minúsculo, parecia uma bailarina em movimento. Pouco depois eu fiz minhas primeiras redações, li os primeiros gibi da Mônica - dentre as centenas de outros que leria em seguida.
Terá sido ontem que aprendi a pintar? A colorir os mapas com bolinhas de papel crepom? A colocar um grão de feijão pra germinar no algodão? A achar o valor do quadradinho?
Ou foi na véspera que aprendi que uma notícia deve dizer sempre como, onde, quando, o quê e o porquê? Talvez tenha sido no mesmo dia em que aprendi a olhar pra lente da câmera como quem olha nos olhos de um querido interlocutor.
Não sei quando foi. Mas troquei de brinquedos e de brincadeiras. Tudo de um dia pro outro, de modo tão veloz que não me parece exagero algum dizer que transcorreu num piscar de olhos.
Cresci, namorei. Conheci o amor. O prazer. E a desilusão. Pedi uma moça em casamento e fiz dela minha esposa. Desenhamos juntos um futuro hipotético e foi lindo até acabar sem que tivéssemos podido ser felizes para sempre. E aprendi que levantar depois de cada tombo é fundamental pra que os passos se tornem cada vez mais firmes e certeiros. Como quando aprendi a andar....
Parece que foi algumas horas atrás que descobri a paixão pelo jornalismo, por contar histórias. Lembro da primeira reportagem. Lembro da sensação, da adrenalina. Da alegria ao ver o fruto do trabalho se materializar na tela da TV. Sensações que carrego comigo e que experimento ainda hoje, talvez até de modo mais intenso...
Nossa! Fecho os olhos e vejo os amigos que fiz por esses tantos dias (anos?!?!), as risadas que demos, as gargalhadas que nos marcaram tão fundo. Também de olhos fechados revivo as perdas que vivi até chegar aqui. E sinto a saudade tão viva como era semana passada. Ou mês passado. Ou há vinte anos.
Minto. A saudade cresceu muito de lá pra cá...
Parece que foi ontem. Semana passada. Talvez um ano atrás. Mas a verdade é que passou tão rápido que nem sei como, quando, o quê, onde e nem o porquê. Só sei que estou aqui, prestes a fazer 33 anos, e diante de uma descoberta devastadora: o tempo do calendário não é o nosso tempo! Fora das folhas de papel ele passa mais rápido! Ele me faz sentir jovem demais para a idade que tenho. E velho demais para a idade que sinto ter. Ardiloso esse tal tempo! Tempo parceiro, abranda dores e angústias. Oferece novas perspectivas conforme vai voando. E, mais que tudo, mostra que, dia após dia, temos sempre a chance de uma nova estreia...

9.9.13

Sobre a morte de Champignon...

Sempre passo pelo Twitter antes de dormir. Geralmente, para ler amenidades da @diImabolada ou a coluna de TV do @flavioricco. Mais ou menos um hora atrás, cumpri meu ritual e me deparei, de cara, com um tuíte do @fefito, jornalista de São Paulo, citando uma notícia - então ainda não confirmada - sobre o suposto suicídio do músico. Choque!
O @fefito sugeriu que os interessados acompanhassem o facebook do Gui Toledo, que fazia um live feed sobre o assunto. Fiz isso e, infelizmenfe, a notícia foi se confirmando. Em poucos minutos. CBN, Folha de São Paulo, R7 e G1 soltavam a confirmação.
Conheço muito pouco sobre o Charlie Brown Jr. Mas sei o suficiente para imaginar que muita gente deve estar arrasada - ou ficará arrasada pela manhã, quando souber de mais essa morte. Que Deus possa confortá-los, assim como aos familiares e amigos do Champignon.
Do meu canto, fico pensando que a internet mudou radicalmente nossas formas de buscar os fatos. Mudou caminhos, estratégias, fontes. Mudou tudo! Só não mudou, em mim, essa sensação de espanto diante de uma notícia como essa.
Tristeza...

1.8.13

Sobre Glee, Cory Monteith, o sempre e as amizades...

Acho que devo ter visto apenas um episódio completo de Glee, influenciado por um amigo que, então, estava encantado com a série americana. Vi e, embora achando muito avançada a abordagem de temas ligados à inclusão e à valorização das diferenças, não fui "roubado" pela produção. Sou bastante resistente aos musicais e achei a estética similar a dos (piores) programas de calouros, com canções gritadas demais - embora tenha ouvido, posteriormente, boas versões de clássicos do pop interpretados pelos atores-cantores do elenco. Dito isto, e deixando claro que não sou, portanto, um aficionado pela série, resolvi escrever depois de ver, esta madrugada, a homenagem a Cory Monteith exibida pela Fox.
Lamentei desde que soube da morte do ator. Aos 31 anos, popular entre adolescentes de todo o mundo e recém-saído de uma clínica de reabilitação, o ator parecia dono de um futuro promissor. Futuro que não haverá. Esta noite, revendo clipes estrelados por Cory, eu me transportei para o lugar de seus colegas de elenco. Pensei em seus familiares e em sua namorada - na vida e na arte. Vendo essas imagens, todos devem experimentar a dor pelos sonhos que não serão realizados, pelos sorrisos que só existirão nas recordações e por todos os planos que precisarão ser deixados de lado. Que tristeza...
Perder um amigo deve ser uma das piores trapaças que o destino nos pode reservar. Porque amigos nós elegemos, cultivamos, protegemos...tudo para tê-los por perto. Por perto sempre - embora cada dia mostre que pouco ou quase nada nessa vida combina com esse "sempre" que a gente adora distribuir nas frases, nas juras de amor e nas projeções de futuro.
Terminei a noite pensando nessas coisas e meio melancólico...
O especial da Fox foi uma bobagem oportunista. Teria sido mais tocante e sincero se alguém o tivesse resumido à última canção apresentada: Without you, que se tornou conhecida em todo o mundo na voz de Usher e remirada por David Guetta. No clipe de Glee, a música ganha a voz de Lea Michele - justo a namorada de Cory Monteith. E numa demonstração clara de como a arte também imita - e antecipa - a vida, a atriz, cantando para o namorado, diz:
"Eu estou perdida, eu sou inútil
Eu nunca vou ser a mesma
Sem você"
Queira Deus que quando eu vier a me sentir perdido ou inútil, tenha todos os meus loucos, sãos e fiéis amigos por perto. Porque without, pra mim, seria uma barra muito pesada...

19.6.13

Manifesto meu sobre o #vemprarua

1. Sou Dilma, já disse aqui antes. Portanto, acho que as vaias à presidenta em nada nos engrandeceram como nação. Quem estava no estádio - e pagou caro para estar lá - embora tenha todo o direito de se expressar, não traduz os anseios da maioria. E, além das questões ideológicas, acho que as vaias sempre são uma demonstração de covardia e falta de educação;

2. Votei em Eduardo Paes. Acho que a cidade experimentou avanços interessantes, investimentos relevantes em áreas como a saúde (clínicas da família) e a conservação (asfalto liso) em seu primeiro mandato. Porém, acho que o fato de ter votado no prefeito não tira de mim o direito de cobrar para que sua administração avance em outras áreas. Pelo contrário: eu me sinto ainda mais forte para fiscalizar, criticar e exigir para o Rio as melhorias que a cidade merece. E não para mim apenas, para todos os cariocas;

3. Sou favorável às manifestações populares. Creio que elas trazem vigor para a nossa democracia e seduzem jovens a discutirem política. Não a política partidária, que já deixou de nos representar há tempos, mas a política cotidiana, que nos toca diretamente no dia a dia;

4. Sou e serei sempre contrário a qualquer forma de violência e vandalismo. Mas entendo que esses são ônus envolvidos em circunstâncias como essa em qualquer parte do mundo. O que nos cabe é condenar, coibir e reforçar que esses atos criminosos não traduzem as convicções e os desejos da maioria;

5. Sou um democrata. Por isso, fico particularmente incomodado ao ler nas redes sociais mensagens de pessoas que culpabilizam os manifestantes por suas escolhas políticas. Também acho pobres os argumentos de quem diz que o Brasil "é uma merda" e sinto nojo ao ver vídeos como o que via dia desses, de um cara, nos Estados Unidos, dirigindo um carro e lamentando o fato de precisar voltar ao Brasil. Brasileiro de quinta, ele critica o fato de o povo só gostar de carnaval. Deve estar com a língua enfiada no rabo depois de ver o que tem acontecido nos últimos dias;

6. Sou jornalista e amo a minha profissão. Nos últimos dias tenho estado elétrico, acompanhando o desenrolar dos fatos o tempo todo, buscando entender melhor o que está nos dizendo o tal gigante desperto. E é como jornalista que alerto: os meios de comunicação terão, sempre, interesses. Terão seus conteúdos perpassados por suas ideologias, banhados por seus acordos comerciais e/ou institucionais. Todos os meios são assim; não apenas esta ou aquela emissora de TV, este ou aquele jornal. Por isso as redes sociais têm contribuído tanto para dar vazão à pluralidade de vozes, relatos, sons e imagens que chegam dos quatro cantos do país. Os tempos são outros, não há uma única lente a nos mostrar como a realidade é ou deveria ser. Nós somos autores dessa história. Protagonista da maior superprodução da história recente do Brasil. E se não lideramos a audiência na TV, somos trending topic nas redes sociais. Who care?

7. Tenho medo de boatos. E se as redes sociais oferecem diversas perspectivas do que tem acontecido no Brasil, também podem colaborar muito para propagar mentiras. Cuidado com o que compartilham! Não houve rádio retirada do ar e muito menos pode passar pela cabeça da presidenta a loucura de retirar do ar a internet. Ah! O juiz que queria deixar o Facebook inoperante teve essa ideia há quase um ano! É preciso ter critério para ler e interpretar o que os posts nos trazem;

8. Não participo de campanha de dia sem TV Globo ou sem qualquer outra rede. Acho uma bobagem! Respeito os profissionais que trabalham lá - alguns, amigos queridos - e acho que, embora haja equívocos na cobertura, tem havido, também, um interesse em corrigir o rumo da prosa. E se ainda há pontos questionáveis - e sei que os há - prefiro assistir para poder me posicionar;

9. Não concordo com os que condenam a realização da Copa e das Olimpíadas! Em absoluto! São eventos que podem trazer dividendos e prestígio para o país. Acho que todos devíamos questionar os fatores que contribuem para que os custos se desviem tanto dos orçamentos iniciais. E aí, meus caros, não falaremos apenas de obras de estádios. Infelizmente! O mal vai muito além das tais "arenas" da FIFA. E talvez venha desde antes da primeira copa brazuca, realizada em 1950;

10. Por fim: a luta por um Brasil melhor não me opõe à seleção brasileira. Sigo torcendo, achando que Neymar fez pouco ou quase nada com a amarelinha. E sigo sem grandes esperanças com o grupo. Confesso: no momento, tenho mais esperança na promessa de um país melhor que essas manifestações anunciam.

12.6.13

Sobre hoje...

Com o tempo, a gente se acostuma com a espera. Naturaliza o "estar só", administra as crises de abstinência causadas pela falta de um alguém que não se sabe onde está - ou se existe - e se vira como pode pra seguir em frente provando ao mundo - e à própria consciência - que o poeta estava errado ao dizer que é impossível ser feliz sozinho...
E o tempo passa.
De repente, quando ninguém mais espera, as coisas mudam. A gente troca a vida na primeira pessoa do singular por aquela outra, do plural. Somamos à nossa rotina novos hábitos, novos horários. O celular ganha um novo número favorito e o volume de mensagens no whatsapp e todas as que ficam inbox, no facebook, não deixam dúvidas: não é mais preciso esperar! É quando a gente nota que simplesmente aconteceu...
Isso não se planeja, não se idealiza - ao menos, não acho que se deva idealizar - e não convém impedir: quando é pra ser, tudo se estabelece! Aos poucos, dúvidas, angústias e inseguranças vão dando lugar a uma realidade. Um cotidiano novo e deliciosamente imperfeito, como tudo que há na vida. Como acontece em todas as histórias.
Aí, o que nos cabe é seguir. Seguir nessa viagem deliciosa que é conhecer um outro alguém e, dia após dia, se pegar com cara de bobo pensando nesse outro ser que tá lá longe. Fazer loucuras e rir juntos quando o mundo inteiro estaria se descabelando! É cruzar a cidade pra dar um oi; é dormir nas posições mais desconfortáveis e achar incrível o torcicolo do dia seguinte; consequência daquele braço-intruso sob seu travesseiro. É mandar um smile com um beijo no meio da tarde e rir feito um idiota quando, em vez de enviar, é nossa vez de receber a sorridente carinha amarela. É dirigir, na madrugada, com o som irritante de um defeituoso alarme do carro e, ainda assim, encontrar motivos para rir e se sentir calmo. É, enfim, ter, dia após dia, a ideia de que, sim, é possível achar alguém bacana pra dividir a caminhada. E não importa se ela vai ser longa: importa que os passos sejam firmes, verdadeiros e que, se um dia cessarem, tenham deixado um rastro de felicidade e boas memórias.
Que assim seja!

Feliz dia dos namorados...

7.5.13

Fantástico mostra a caçada a traficante e acende polêmica na internet

Reportagem expõe fragilidades da operação da polícia carioca na favela da Coreia 

Habituado a jogar games de tiros desde os tempos do Counter Strike, até os recentes Battlefield e Call of Dutty; vi bastante espantado as imagens exibidas pelo Fantástico ontem. Na tela, em ritmo frenético, policiais a bordo de um helicóptero da Polícia Civil caçavam o traficante Matemático. Sobrevoando uma favela, a força do Estado disparou uma enxurrada de tiros para deter o inimigo.
Fiquei chocado. Não com a morte do traficante - fato rotineiro e que, nesse caso, pareceu-me até menos impactante. Fiquei chocado ao ver o volume espantoso de disparos desferidos contra uma área residencial, civil, no meio de uma noite. Por mais que os envolvidos na operação neguem, é impossível afirmar que a população não tenha sido exposta a um enorme risco. E mais: é impossível dizer que os responsáveis por aquela ação tivessem segurança de que não haveria baixas entre os cidadãos que habitam a área. O que vimos foi um vale-tudo, em que, embora sem que isso tenha sido dito, a polícia assumiu os riscos de ferir e/ou matar inocentes em troca da cabeça do alvo da vez. 
"Mas não houve vítimas", podem dizer os defensores da operação. Sim, ao que parece, não houve vítimas. Mas não acho leviano afirmar que se ninguém morreu foi por obra da sorte. Ou da Graça Divina. Ou de um ou outro Anjo da Guarda de prontidão. Porque os tiros cravados nas residências da favela não deixam dúvidas: de precisa aquela caçada não teve nada!
Não bastasse o susto com o flagrante despreparo da força policial, fiquei novamente espantado ao ver a repercussão das imagens mostradas pela TV Globo nas redes sociais. Enxergando na reportagem uma defesa à vida do bandido, vi vários amigos descerem o pau na matéria. "Deixem a polícia trabalhar", dizia um. "Quantos inocentes morreriam se ele ficasse vivo?", questionava outro. Mas não vi ninguém, absolutamente ninguém, questionar o risco ao qual todos aqueles moradores, inocentes, estiveram expostos naquela noite. Calados ou, pior, defendendo a ação da polícia, o que todos fazem, ainda que de modo inconsciente, é legitimar uma polícia que trata de modo desigual pobres e ricos. Uma polícia que age com prudência e cautela nas áreas nobres e "larga o dedo" quando o alvo está escondido em favelas. É como se dissessem que "favelado pode acordar com tiro de fuzil furando suas casas". É como se achassem justo que, para proteger ricos e classe média, pobres sejam sacrificados por uma rotina de incursões policiais atabalhoadas e que, não raro, acabam por vitimar crianças, mulheres, velhos e cidadãos inocentes, moradores de comunidades dominadas pelo tráfico e massacradas por uma polícia que, quando surge, parece fazê-lo com o único objetivo de espalhar medo e insegurança por todos os lados.
É só refletir: alguém já viu um helicóptero dar rasantes sobre Ipanema, distribuindo tiros de modo quase aleatório? Quando foi capturado Nem, apontado como liderança do tráfico na favela da Rocinha, ouviu-se algum disparo? Respondo: não! À ocasião, aliás, cabe dizer que a polícia usou a mesma tecnologia de imagens para localizar e capturar o bandido na Gávea. Ali, sim, a precisão esteve presente. E os moradores da Zona Sul não ouviram um único estampido. Por que será?
O fato é que construímos, ao longo do tempo, uma polícia que trata de modo discrepante quem já é vítima da desigualdade. Quem mora numa favela não quer correr o risco de ser alvejado por uma bala de fuzil. Esse risco já está imposto pelo tráfico. A polícia, em suas operações, deve primar pelo zelo com a segurança dos moradores inocentes. É claro que aqui, como em qualquer parte do mundo, acidentes podem acontecer. Comunidades como a que foi mostrada na reportagem do Fantástico são densamente povoadas, a ocupação do terreno é irregular e esses são fatores que complicam as incursões do Estado. Mas, a julgar pelo que vi, acidente é uma operação como aquela transcorrer sem que nenhum inocente seja vitimado. Acidente é disparar trocentos tiros, acertar prédios e casas e, ainda assim, não matar moradores honestos.
Não sei quanto a vocês, mas o mínimo que eu posso esperar de uma polícia é que ela não conte com a Graça Divina, com a sorte ou com a benevolência de Anjos da Guarda ao fazer suas operações. A vida do cidadão – no asfalto  ou na favela – é bem maior, que deve ser garantido e preservado pelo Estado em quaisquer circunstâncias, seja onde for. E não há “remédio amargo” que justifique que a sociedade continue a tomar veneno e esperar se curar de toda essa violência.

12.4.13

Sobre a (eterna) polêmica da redução da maioridade penal...


Ontem eu li muitos posts revoltados com a história do menor que matou covardemente o estudante que era estagiário da Rede TV. Todo e qualquer assassinato é sempre algo que nos revira, que mexe com nossos instintos e que nos faz querer bradar para que os culpados sejam punidos.
No caso do menor, volta-se à discussão sobre a redução da maioridade penal. Eu acho que esse não é o caminho. Infelizmente, porque, se fosse, talvez até pudesse ser mais fácil. Explico minha discordância: a maioridade penal, estabelecida em 18 anos em nosso país, não vem impedindo que cidadãos com essa idade - ou mais velhos - cometam seus crimes. A lei que os pune - quando o faz - não traz o rigor que a sociedade busca; não está à altura do exemplo que se quer dar; da marca de correção que se quer imprimir a quem está à margem; a quem é marginal. 
Colocar gente mais nova em celas não vai reduzir nossos índices de criminalidade. Não vai nos trazer paz. Não nos deixará tranquilos. E não vai nos garantir que mais vidas sejam levadas pela violência. Creio que se faz necessária uma mudança mais profunda, de toda a sociedade. Uma mudança política, uma mudança na forma que nos portamos na vida, com os outros; na forma como enxergamos o mundo.
E só pra citar mais um exemplo: os Estados Unidos, que tanta gente tem por referência, tem vários estados em que menores de idade podem ser duramente punidos pela lei. E isso não fez com que eles deixassem de delinquir.
O buraco é (bem) mais embaixo...

9.4.13

Daniela Mercury: o "outing", a política e a mídia

No momento em que a Suprema Corte americana discute o casamento igualitário; no momento em que o Brasil discute a (im)propriedade da presidência da Comissão de Direitos Humanos e Minorias ter sido dada a um deputado que já deu declarações extremamente preconceituosas, um gesto que poderia ser prosaico ganhou repercussão semana passada: Daniela Mercury revelou que tem um novo amor. Uma mulher...
A cantora baiana anunciou, posteriormente, que comunicou o fato com a mesma naturalidade que já usou ao anunciar relacionamentos anteriores. A diferença: até então a artista, que ficou conhecida ao tornar popular a axé music, só havia assumido relacionamentos heterossexuais.
Desde o primeiro instante notei que a atitude de Daniela tinha um forte cunho político. São notórios seus compromissos com a diversidade e o combate a todas as formas de discriminação. Ao dizer-se apaixonada por uma mulher, a quem chama de esposa, a cantora deu mais uma demonstração do quanto é politizada. Mais tarde, voltou ao assunto ao criticar o deputado Marcos Feliciano, cuja eleição para a presidência da CNDHM colocou em cheque a própria comissão, além de demonstrar mais um litígio entre a sociedade civil e os rumos da política nacional.
Não é todo dia que uma artista do porte de Daniela Mercury se posiciona tão abertamente sobre um assunto que ainda é considerado tabu por boa parte da sociedade. O fato gerou grandes reportage
ns em jornais e sites. Foi notícia do Jornal Nacional, matéria do Fantástico e capa de Época e Veja. Todos perceberam a estreita relação entre o momento político - que não está restrito às fronteiras brasileiras - e a postura da cantora.
Ou quase todos...
Sim, quase, porque não tardou até que aparecessem aqueles que enxergaram no fato uma artimanha da cantora para voltar à mídia, para fazer sucesso. Achei estranho. Daniela Mercury é uma das cantoras brasileiras mais conhecidas no exterior atualmente. Estavam turnê em Portugal na semana passada, por exemplo. Já vendeu mais de 11 milhões de discos em todo o mundo. Foi a única artista brasileira convidada para a gravação do DVD de aniversário de 20 anos do Cirque de Soleil e parte da comemoração dos 25 anos do Festival de Jazz de Montreal. Nunca deixou de fazer shows e produzir seus próprios discos - forma de garantir sua independência artística. Muitas dessas produções, diga-se de passagem, receberam grandes elogios da crítica especializada. Destaco "Canibália", "Balé Mulato" e "Feijão com Arroz", entre os melhores CDs da cantora. Definitivamente, fracasso não é uma palavra que combine com Daniela Mercury. E, diante de tudo o que ela já conquistou e considerando o preconceito ainda tão forte em nossa sociedade, vejo que ela optou por correr riscos ao anunciar seu novo amor. Fez política, deu lição de humanidade e de coragem. Mas devo dizer que nada me surpreendeu: sou fã de Daniela há tempos e sei da inquietude da baiana que enxerga a arte como um grande poder transformador. Ao postar aquela bela montagem de fotos em p&b em que aparece com Malu, sua esposa, Daniela fez da vida real arte. E deu sua contribuição para transformar a todos nós...





28.3.13

E Xuxa fez 50 anos...

Blogueiro revê apresentação da loira e viaja no tempo


Xuxa fez 50 anos ontem. Muitos sites falando do assunto, muita gente comentando no Twitter e, por conta disso, acabo de ver um vídeo de uma chegada de Papai Noel, realizada no Maracanã, no fim dos anos 80. Caramba, eu tava lá!!!
Não entrei na nave da loira mas viajei no tempo! Lembrei do Maracanã lotado, balançando, da criançada louca com Xuxa, então, no auge do sucesso. Um perrengue inesquecível. E delicioso!
Xuxa nunca foi um ídolo pra mim. Via seus programas, gostava dos desenhos e das brincadeiras. De certa forma, fui um "baixinho". Até crescer e enxergar tudo aquilo com o olhar crítico que o tempo, a distância e, mais tarde, a profissão exigiram. Mas há pouco, vendo o vídeo e revivendo aquele momento, lembrei que a bunda de fora da loira nem parecia algo erótico. Xuxa era bobona, como uma prima maluca e mais velha que todo mundo tem. Lembrei que ela foi a primeira a falar - e mostrar - crianças com síndrome de Down na TV. Também foi ela a primeira a falar em LIBRAS e a bater na tecla de que era bacana cuidar dos bichos e respeitar a natureza.
Vendeu muito disco e boneca? Vendeu, claro! Mas também aproveitou todas as chances de deixar gravada uma mensagem bacana pros seus fãs pequenos. No fim do vídeo, por exemplo, deseja que todos tenham "fé e esperança em dias melhores". Pediu que todos tivessem "respeito"...
Depois, ficou cult tacar pedra na Xuxa. Também taquei as minhas. Mas, revendo o vídeo, lembrei que aquela moça loira tem seu valor na história da televisão. Achei bonito. E até lamentei por ver que, por exemplo, hoje em dia, em tempos de tanta intolerância, nossas crianças não têm alguém pregando o respeito na televisão todas as manhãs.
Eu tive.
Parabéns, Xuxa! 

17.3.13

RESENHA: "Amour"

Num dia, à mesa, em meio a uma conversa trivial, instala-se a ameaça derradeira. Silêncio, ausência e inércia se apoderam daquela companhia de toda uma vida, anunciando que nem sempre os finais são felizes...
Esse é o início do conflito que testemunhamos em "Amour", longa francês que venceu o Oscar de melhor filme estrangeiro em 2013. Na tela, acompanhamos a história de um casal de aposentados, Anne e Georges, que têm suas vidas transformadas depois que ela sofre uma complicação numa cirurgia e acaba com um lado de seu corpo paralisado. Em casa, sob os cuidados do companheiro, Anne exige que Georges prometa nunca mais levá-la de volta ao hospital. O que ninguém poderia imaginar é que, pouco tempo depois, ela passaria a sofrer as consequências de uma severa doença degenerativa...
A história é dura e o filme é cru, seco. Apesar do drama, não há sentimentalismo, não há trilha incidental para sublinhar a tragédia vivida pelos personagens. Há poucas lágrimas. O que se impõe é a história, os diálogos e todas as sutilezas usadas pelo diretor para nos levar para dentro do apartamento do casal. Confinados com Anne e Georges, sentimos suas dores, testemunhamos seu sofrimento e nos colocamos diante do que buscamos sempre enxergar como uma perspectiva longínqua: a finitude.
Emmanuelle Riva oferece ao espectador, aos fãs de cinema e aos admiradores de grandes representações uma primorosa construção (ou desconstrução?) de sua Anne. É comovente ver como, com o avançar da narrativa, ela consegue nos tocar apenas com um olhar perdido, com um grunhido lancinante ou com a contorção dos lábios, desfigurados na tentativa de pronunciar os versos de uma inocente canção infantil. Que grande atriz! E que patacoada saber que ela perdeu o Oscar para uma pretensa nova namoradeira de Hollywood. Ah, as premiações e suas históricas injustiças...
"Amour" é má bela história. De vida, de companheirismo. Uma istória de amor como não estamos mais habituados a ter por aí.
Recomendo!


16.3.13

RESENHA: "O quarteto"

Um filme sobre um grupo de músicos e cantores, idosos, moradores de uma casa de repouso, que têm a convivência alterada a partir da chegada de uma nova habitante, outrora grande estrela do canto lírico. Em linhas gerais, é assim que "O quarteto" vem sendo vendido pelas sinopses de cadernos de cultura e sites especializados em cinema. Um resumo exageradamente reducionista...
O filme marca a estreia de Dustin Hoffman na direção e oferece ao público um delicado olhar sobre o envelhecimento. É possível lidar bem com o fato de sermos podados pelo tempo? Como suportar o fato de não conseguir mais fazer o que antes parecia tão natural? Dá pra conviver com a ideia de que a cada dia passaremos a brilhar um pouco menos?
Todas essas perguntas fazem parte de reflexões universais. No longa, são potencializadas pelas trajetórias dos velhinhos artistas, donos de passados gloriosos, futuros abreviados e de um presente marcado por subtrações...
Parece amargo, deprimente? Não é! Longe disso: o filme tem momentos de boa comédia inglesa, alternados com sequências que são muito felizes ao retratar a velhice como uma fase em que, sim, é possível ser produtivo, criativo, divertido...vivo! E, sim, que enquanto estamos vivos, temos tempo de rever posturas, mágoas e sentimentos...
Deixei o cinema feliz da vida! Me vi na tela daqui a uns quarenta anos. Vi alguns amigos também. E torço pra que a gente seja, em 2053, uma turma tão animada quanto a que o filme mostra...
Recomendo!

14.3.13

Habemus Franciscum!!!

O cardeal argentino é o primeiro papa da América Latina, o primeiro jesuíta a assumir a liderança da Igreja e o primeiro a escolher o nome Francisco
Apesar de ser batizado, não me considero católico. Aliás, não me identifico com nenhuma religião especialmente. Tenho pontos de convergência com várias delas, como também guardo minhas divergências. Meu lado católico se manifesta quando rezo a Ave-Maria para me acalmar ou quando converso com Nossa Senhora de Aparecida, a quem costumo chamar de Nêga. Portanto, não sou o mais fervoroso seguidor da Igreja Católica.
Mas sou jornalista e, nesta terça, acompanhei a fumaça preta saindo da chaminé da Capela Sistina, por volta das sete e meia da manhã. Horas depois, no meio da redação, parei tudo para conhecer o rosto do mais novo ocupante do trono de Pedro...
Acho belíssimos os rituais envolvidos na escolha do papa. Há algo de fascinante numa ritualística secular. Algo que me captura, que me encanta. Para mim, testemunhar o surgimento de um novo papa é perceber a história acontecendo, é ver uma instituição milenar buscando corrigir os rumos do seu barco, ora navegando em tão revoltas águas. Por isso, vi com entusiasmo um sorridente Papa Francisco surgir na sacada da Basílica de São Pedro. Em pouco tempo, notei que o novo líder dos católicos é possuidor de um carisma muito superior ao de Joseph Ratzinger. Fui conquistado por um certo ar bonachão, que fez as moças da redação suspirarem ao constatar o teor de "fofura" do recém-eleito Bispo de Roma. E também achei bonito o gesto de humildade do papa ao pedir aos fiéis que rezassem por ele.
Mas eis que os tempos são outros, nada fica muito por baixo do pano e, minutos depois, quando o Papa Francisco já devia se preparar para dar seu longo e movimentado dia por encerrado, Twitter e facebook viraram celeiros de vaticanistas! As notícias sobre sua cumplicidade com a ditadura da Argentina e sobre posturas contrárias ao aborto e à união de pessoas do mesmo sexo pipocaram na internet.
Eu achei graça...
O que isso revela? Que o papa é conservador? Talvez! Mas também revela que nós estamos cada vez mais instantâneos. Cada vez mais reproduzimos histórias sobre as quais sequer tivemos tempo de refletir. E isso não faz de nós mais politizados ou bem informados.
A Igreja deve refletir a sociedade? Não sei. A Igreja precisa mudar? Sim, muito. Seus líderes sabem disso e, não por acaso, não elegeram papa o candidato da situação. Mas não dá pra esperar por um papa que pire na batatinha e saia concordando com todos os clamores do nosso tempo. Não é o caso! Da minha parte, se ele se mostrar favorável ao uso dos contraceptivos, combater duramente a pedofilia e a corrupção que corroem a Igreja pelas entranhas e se vier a defender suas crenças sem propagar preconceitos, já terá feito uma bela passagem pela história. Mas, acima de tudo, que ele possa ser um exemplo de que, mais do que a religião, é a fé que deve nos unir. Que possa mostrar a todos nós, a cada dia, que podemos ser melhores. Que podemos construir um mundo melhor e mais justo, em que todos possamos ser iguais. E que demonstre que quando um de nós é desrespeitado, todos saem perdendo.
Boa sorte, Papa Francisco. A luta é grande e está apenas começando...

RESENHA: "O impossível"

Em 26 de dezembro de 2004, às 7h59, a terra tremeu no fundo do mar, nas proximidades de Aceh, no norte da Indonésia. O terremoto de 9 graus na escala Richter causou o maior tsunami que o mundo havia visto em 40 anos - o primeiro de que muita gente, inclusive eu, ouviu falar. A onda avassaladora matou mais de 220 mil pessoas em 13 países. Aproximadamente 1,5 milhão de pessoas ficaram desabrigadas.
Lendo essas informações - e vendo vídeos da época - dá pra imaginar o gigantesco poder de devastação do tsunami. Mas, confesso, só vendo "O impossível", de Juan Antonio Bayona, consegui me aproximar da tragédia vivida por aqueles que estavam na área tomada pelas águas. Estrelado por Naomi Watts e Ewan McGregor - que jamais desperdiçam as boas cenas reunidas no roteiro - o filme conta a história real de uma família que, como tantas outras, estava passando férias na região e se depara com o imprevisto. Ou com o impossível...
Não darei detalhes do roteiro pra não estragar surpresas. Mas fiquei muito impressionado com a preciosa reconstituição do cenário arrasado pelas águas do tsunami. Todas as cenas relacionadas ao drama dos que foram atingidos pela onda gigante são muito bem feitas; desde a própria sequência da invasão das águas até as cenas que mostram hospitais abarrotados. Tudo muito bem cuidado, feito na medida certa para traduzir a angústia de quem viveu a dor de estar na Indonésia naquela manhã de dezembro.
"O impossível" me fez mergulhar na dor de toda aquela gente. Em vários momentos, eu me emocionei com tanta dor. Em outros, gestos de solidariedade igualmente me fizeram emocionar. Em suma: um filme tocante, que nos transporta para aquela manhã fatídica, nos faz imaginar a dor dos tantos que passaram por toda aquela tragédia e, mais que isso, nos faz pensar que, às vezes, o impossível acontece.
Eu recomendo!

10.3.13

Leme indomável

A gente acha que controla tudo. Que bobagem! Uma hora, quando menos se espera, vem a vida e dá uma pernada. Bagunça nossos dias, revira nossos sentimentos, desperta novos amores e ódios, faz mágoas antigas darem lugar a novas...reorganiza tudo e nos mostra quem é que está no comando do leme...

8.3.13

Sete de março: um dia vergonhoso para a política nacional!

É estarrecedor ver o autor de declarações racistas e homofóbicas eleito para presidir a Comissão de Direitos Humanos da Câmara Federal. É constrangedor perceber que a reação calorosa da sociedade - sobretudo dos movimentos sociais - sequer foi considerada por aqueles que ocupam cargos de representação.
Pergunto: a que esses senhores representam?
Não me sinto representado por quem cala diante de um fato tão sério. Não me sinto representado por quem impede que manifestantes se posicionem na casa do povo. Não me sinto representado por quem compactua com uma eleição que tem como marca inicial uma total ruptura com os ideais propostos por uma comissão tão importante: o respeito aos direitos humanos, sobretudo das minorias historicamente subjugadas por um país tão excludente.
Pergunto: que direitos defenderá uma comissão presidida por um senhor que se referiu aos negros como "amaldiçoados"?
Não me sinto representado por alguém que aparece, em vídeo, cobrando que um fiel passe a senha do cartão de débito para que o milagre desejado seja efetivado por Deus. Não me sinto representado por quem aceita motos como donativos em cultos religiosos. Não me sinto representado por quem faz varejão da fé alheia!
Pergunto: como não sentir vergonha de ser brasileiro nesta quinta-feira, sete de março de 2013???

6.3.13

Doutora Flávia...

Ao contrário do que diz o clássico sertanejo, eu aprendi a dizer adeus. Ainda é doloroso, ainda é difícil, mas sei que essa hora existe e - infelizmente - sempre chega...
Duro é quando não há tempo para esse adeus. Quando não dá pra dar o último abraço, um beijo, pra rir junto das bobagens da vida, ou pra oferecer o ombro nas horas de lamento. Duro é ver a vida nos negar essa oportunidade de dizer um até breve...
Há pouco, soube que uma amiga querida se foi. Estávamos distantes, mas o carinho por ela e sua família sempre foi grande. Não lembro de nosso último encontro. Não lembro de quando a vi sorrir pela última vez. Não lembro de muita coisa e isso é triste. É triste e faz pensar que, deixando o barco da vida correr, a gente também deixa mais frouxos os laços; deixa passar as oportunidades de estar perto. Deixa irem embora momentos que jamais poderemos viver de novo...
O que conforta é saber que, no nosso tempo, do nosso modo, naquele convívio tão intenso, festivo e feliz, a gente se curtiu muito! A gente se divertiu muito! E a gente riu muito! São essas as memórias que quero carregar comigo; agora somadas ao carinho e às saudades...
Fique bem, Flávia. Um dia a gente se encontra de novo...

1.3.13

Non habemus Papam!

Sou de uma geração que viu um papa carismático e midiático permanecer no trono de Pedro até o fim da vida, quando seu sacrifício era mais que evidente. João Paulo II, fragilizado pelo Mal de Parkinson, foi até o fim no papel de sucessor de Pedro.
Hoje, ver o helicóptero da república italiana sobrevoando Roma e levando o Papa para longe do Vaticano, foi uma imagem forte. Há algo de dramático nessa desistência, algo que permanece insondável para quem está fora dos salões onde são decididos os rumos da igreja. Há, também, algo de fascinante na renúncia de Bento XVI - ineditismo, provavelmente - que fez, como tem noticiado a mídia italiana, o agora Papa Emérito se tornar popular como nunca havia sido entre os romanos.
Abatido, com a voz enfraquecida e o rosto afinado pelos quilos perdidos nos últimos tempos, Joseph Ratzinger adquiriu as feições de avó que seu antecessor sempre ostentou. Parece mais humano, mais próximo. A feições, antes tão duras, soam dóceis. As palavras, mais carinhosas.
Entre as milhares de pessoas que resolveram se despedir do papa, também foi possível notar reações mais calorosas. Se esse foi um pontificado morno, teve um fim mais apaixonado. Sim, ao que parece, Bento XVI só conseguiu se aproximar verdadeiramente dos seus fiéis no momento em que resolveu deixar vago o posto de líder dos católicos...

27.2.13

O dia em que ouvi as histórias e canções de Bibi Ferreira...

No espetáculo, Bibi Ferreira canta em cinco idiomas, emociona e diverte a plateia
Quando surge no palco caminhando vagarosamente ao som de "Malandragem" - canção eternizada na voz de Cássia Eller, na qual ela questiona se ainda é uma garotinha - Bibi Ferreira bota a plateia no bolso. Ovacionada, dona da cena, a atriz, do alto de seus noventa anos, demonstra, desde o primeiro instante que olha para a vida - e para si mesma - com humor.
Humor acido, quando diz que no século dezessete tinha "treze ou catorze anos". Humor ácido utilizado novamente quando uma espectadora grita o ano em que uma de suas peças esteve em cartaz e, de primeira, Bibi devolve: "Você sabe a data? Mas essa coisa de data compromete a gente...", para risadaria geral.
Em "Bibi, Histórias & Canções", o público é conduzido por um passeio pela carreira dessa que é uma das maiores estrelas do teatro nacional. Se não for a maior, Bibi é a mais versátil: atua, canta, dirige; tudo com maestria exemplar! Nesse espetáculo em que passeia por épocas, países e gêneros diferentes, a atriz/cantora também navega por cinco idiomas: canta em inglês, espanhol, italiano e francês, além do português, língua materna. Forjada na escola dos palcos, a estrela tem pleno domínio de cena e demonstra que o tempo não lhe roubou o frescor. Nem no canto e nem no humor. Graciosa, canta temas de musicais americanos que despertaram seu encanto por Hollywood. Emociona ao unir canções de Elizeth Cardoso num medley que remete aos anos de ouro do rádio brasileiro. Seduz ao som dos tangos argentinos, apontados como herança musical da família. E arranca gargalhadas ao cantar árias consagradas com letras de clássicos da MPB. Tudo para voltar a emocionar logo em seguida, interpretando trecho de um de seus maiores sucessos, "Gota d'água". Outra ovação. Sem falar em Piaff, trunfo estrategicamente alocado no fim do roteiro.
Saí do teatro contente, leve. Que bom ver Bibi em cena! Que bom rir e me emocionar com as histórias e canções dessa estrela primeira da nossa arte! Bibi é o teatro brasileiro em sua melhor expressão, é o Brasil de que mais podemos nos orgulhar, é a vitória do talento, do dom, do saber ser e fazer. Ela não parece atriz: é. Das maiores! Não parece cantora: é, das mais hábeis ao interpretar. Não parece jovem, mas brinca em cena. Dá até pra pensar que, de algum jeito, Bibi Ferreira tem mesmo treze ou catorze anos...


26.2.13

Mudança infinita


Tenho calma. Em 32 anos, a vida me ensinou que tudo é transitório. Se é ruim saber que não tardará até que o riso dê lugar a um novo pranto qualquer, é fonte de alívio estar certo de que também as futuras lágrimas já brotarão condenadas ao fim. 
As coisas mudam. As alegrias mudam. As dores mudam. Os desafios mudam. As sensações mudam. 
Nós mudamos. 


Toda hora, todo tempo.
Tenha calma. Viver é um transformar-se sem fim. E, com fé, a mudança sempre há de ser pra melhor...

Salve nós!

Novela das nove tem a menor audiência dos últimos 12 anos
Li no UOL que a autora da novela das nove anunciou que vai reparar, num dos próximos capítulos, mais um furo de sua narrativa, prontamente captado pelos telespectadores. 
Glória Perez já fez belos trabalhos na TV. São parte da história da teledramaturgia obras como "Desejo", "Hilda Furacão", "Carmen" (da extinta TV Manchete); e mesmo trabalhos mais recentes, que não têm minha predileção, mas tiveram grande repercussão e audiência, como "O Clone" e "Caminho das Índias". Em "Salve Jorge", a autora demonstra estar numa baita entressafra. A trama não é das mais inspiradas, os personagens, pouco carismáticos e tudo parece inverossímil demais. Gloria desaprendeu a escrever novelas? Claro que não! Mas acho que o público aprendeu a acompanhar esses folhetins de outros modos... 
Com a internet, um furo numa cena, que antes poderia jamais ser notado, fica eternizado com um print screen. Com tudo online, é fácil dar uma busca e ver se o milionário já conhecia a protagonista ou não. E, sobretudo, em tempos de vida real tão inacreditável, algo que fuja do razoável soa como uma agressão ao espectador, que gosta de se sentir "malandro", caçando furos. "Avenida Brasil", de tom tão realista, também não escapou dessa armadilha: todos ficamos indignados com a ausência de um pendrive para que Nina armazenasse as fotos comprometedoras de Carminha e Max. A diferença é que foi um fato isolado. Um deslize. "Salve Jorge", ao menos até aqui, tem parecido um amontoado deles...

15.2.13

O encontro...


É quando os olhos se miram e se reconhecem. É quando o som da voz parece diferente de todos os outros, mais gostoso de ouvir que todos os outros. É quando o abraço é mais que abraço, é nó, é amarra, é laço! É quando a conversa inebria, flui solta, como as águas do rio em busca do mar. É quando, uma vez unidas, duas bocas parecem de volta ao porto inicial, como se fossem uma extensão da outra e, por conta disso, só unidas tivessem razão de ser...
É quando tudo isso acontece. Quando tudo é assim, gostoso assim, que se pode ter a certeza de ter havido um verdadeiro encontro...

13.2.13

Um carnaval inesquecível...

Se havia alguém mais feliz que eu na avenida o espelho meu não disse. Tomei muitos porres de felicidade, naveguei, naveguei e, mesmo longe do nordeste, fui cabra da peste. Sempre soube que sonhar não custa nada e, nesses dias mágicos, sonhei muito! Vivi uma overdose de alegria, um dilúvio de felicidade; afinal o rei mandou cair dentro da folia...
E lá fui eu...
Fui de Lapa, de Lagoa, de Gamboa. Fui de Aterro, fui de Praça XV, de Ipanema, de Avenida Rio Branco. Fui pelo Largo de São Francisco. Fui muitos! Fui mágico, turista! Voltei no tempo e brinquei de Faraó na lendária Rua do Ouvidor. Tirei onda de Nerd e peguei emprestado o Coalhada do mestre Chico Anysio. Fui esses todos. E fui alguns outros...
Fui atrás da folia onde ela estivesse e onde meus pés aguentaram me levar. E eles foram bravos companheiros! Com eles eu trilhei caminhos de samba, de frevo, de axé. A trilha de um carnaval plural, com funk, Beatles, Mamonas, Roberto, Raul e até sertanejo! Voltei no tempo com as marchinhas que não deixam ninguém parar e parei, na chuva, pra ver a alegria do nascimento de um bloco gigante: o Bloco do Chá, que trouxe um pouco de Salvador aqui pro Rio. Uma mistura perfeita para cariocas que, como eu, têm um bocado de dendê no sangue.
Usei lentes verdes pra me fantasiar de turista. Lentes de contato que me deixaram com os olhos de meu pai. Tive grandes companhias, senti falta de gente querida, e fiz a farra valer a pena nesses dias em que a única preocupação foi me divertir.
E como eu me diverti! É por essas e outras que eu também queria que essa fantasia fosse eterna...
Te vejo em 2014, carnaval!

5.2.13

Sobre Marília Gabriela e Silas Malafaia...

Só no fim da noite de ontem vi a entrevista de Silas Malafaia no De Frente com Gabi, exibida domingo, no SBT. Conhecedor das polêmicas que envolvem o líder religioso, não quis perder a oportunidade de ver seu encontro com a melhor entrevistadora da televisão brasileira.
Gabi perguntou de tudo: dos números envolvendo a suposta fortuna de Malafaia, recentemente divulgados pela Forbes, aos porquês envolvendo toda a eloquência com que ele tem se dedicado a combater a PEC de criminalização da homofobia. Foi uma grande entrevista, portanto, na qual o convidado se viu desafiado a explicar quais os fundamentos da dal Teologia da Prosperidade: "você tem até avião", pontuou Marília Gabriela, num dos momentos de grande tensão do programa.
Malafaia se comparou a Pelé ao dizer que os novos pastores não devem ter a ambição de repetir a sua trajetória. Vangloriou-se do trabalho desenvolvido junto a famílias precarizadas pelo álcool e por outras drogas, "sem dinheiro público", sem considerar que utiliza, para isso, dinheiro do público que lota seus cultos, compra seus livros e DVDs.
Quando o assunto foi a homossexualidade, tratada pelo religioso como "homossexualismo", apesar da tentativa de correção feita por Marília Gabriela, o que se viu foi um show de intolerância. De frente com Gabi, Malafaia berrava como se estivesse num púlpito, fazendo ecoar nos ares seu discurso repleto de contradições e interpretações rasteiras. Reduziu a proposta de lei que quer combater os crimes de ódio contra os homossexuais a uma tentativa de privilégio do Movimento Gay, desconsiderando as milhares de mortes violentas que vitimam cidadãos homossexuais ano a ano. Condenou a adoção de crianças por casais homossexuais ("tem muito casal hetero na fila querendo adotar") e profetizou sobre os casais que já conseguiram o direito à adoção, insinuando que (os problemas) "aparecerão daqui a 50, 60 anos". Gabi não resistiu e exclamou: "Você já tá julgando, você é Deus!"
Sim, é assim que Silas Malafaia se apresenta. E não só ele: muitos outros líderes religiosos também se colocam acima dos interesses humanistas para defender dogmas e preservar nichos de mercado. Um mercado da fé, bilionário, onde os homens que arrebanham multidões dormem em berço de ouro enquanto falta a cama para muitos de seus fiéis. Um mercado em que discursos radicais e extremos alimentam a violência, num caminho completamente impensável para os que acreditam na fé como uma forma de alcançar o bem estar individual e coletivo, o respeito ao próximo e, sobretudo, um convívio harmônico e pacífico. Se Jesus nos mandou amar ao próximo como a nós mesmos, duvido que aprovaria o tom raivoso empregado por tantos desses que falam em seu nome. Fé não combina com tanto ódio. Fé é aquilo que nos devia unir em torno de um bem comum, e não nos segregar.
Terminei de ver o vídeo e fiquei pensando muito. Como Marília Gabriela, também tenho dúvidas se o meu Deus é o mesmo de Silas Malafaia. A diferença é que não espero que o meu Deus o perdoe: quero mais é que lhe pesem sobre os ombros, na alma e onde mais lhe puder pesar todo o peso do ódio e do preconceito que tem ajudado a propagar nessa Terra. Amém!

28.1.13

Santa Maria...

Acordei com um alerta no celular. Era uma mensagem no whatsapp. Um amigo dizia que só se falava disso. Liguei a TV e levei um choque: 231 jovens, mortos num incêndio em Santa Maria. Uma noite que seria de diversão, de azaração, deu lugar a um domingo de imensa dor. Dor das famílias, dos amigos. Dor de todos nós.
É difícil buscar explicações para tantos sonhos impedidos, pra tantas vidas interrompidas. Destino? Vontade de Deus?
Creio em Deus e tenho muita fé. Isso me impede de crer que seja fruto do desejo Dele uma tragédia dessas proporções. Atribuo essa nossa dor à irresponsabilidade de alguns, ao descaso de outros. Gente que não imagina que suas atitudes - ou que a falta delas - possa resultar numa pilha de corpos espremidos, empilhados num banheiro qualquer, exalando tristeza por todos os lados. Gente que não pensa que é dolorido saber que os celulares das vítimas seguiriam tocando, horas depois do resgate dos corpos. Chamadas das mães, amputadas depois da morte de seus jovens filhos. Gente que, diante dos próprios interesses, não hesita em cortar custos pequenos, sem perceber que o ônus de uma pequena economia pode ser uma grande tragédia.
Enorme tragédia essa nossa...
Como disse, tenho fé. E peço que a Santa Maria cuide de cada um desses 231 pedaços do nosso povo. Que cubra-os com seu manto e os ajude a entender tudo. Que guie seus caminhos por estradas cheias de luz. E que olhe pelos familiares dilacerados por essa dor tão violenta.
Amém!

23.1.13

Rio Hudson

As fotos traduzem momentos em imagens. Mas eu, que tiro tantas e tão diversas fotografias, tenho pensado que há muito de "não dito" nessas traduções. O que escapa à imagem, o sentimento por trás do clique. Tudo vira uma paisagem, às vezes, um sorriso. E acaba se igualando a tantas outras fotos, de tantas outras paisagens e sorrisos. É essa memória que quero preservar com essa série de posts. Se todos são autobiográficos? Pouco importa. O que importa é que todos são, pra mim, a mais perfeita tradução do que escapou a esses instantes memoráveis que, até hoje, guardava apenas em imagens...



Ali, à margem do rio, vi que água e céu se encontravam num cinza que parecia não ter fim. No meio, a fina linha do horizonte - igualmente acinzentada - mostrava que o que separa coisas tão semelhantes, certas vezes, é apenas a sutileza de uma linha. Uma linha de raciocínio, um traço de personalidade, um risco que se resolve correr e que, só depois, percebe-se que não era nada compensador...
Olhando aquela paisagem de chumbo, notei que também era cinza o meu céu. Era carregado, pesado. Embora a maior tempestade já tivesse ficado pra trás, a calmaria ainda tardaria a vir. É preciso ter sabedoria para enfrentar a revolta dos dias cinzentos, pensava. Buscava na calma daquelas águas a inspiração para saber que mesmo quando a cor se faz ausente - e por mais que não seja possível entender isso - todos os tons continuam a existir em nós. Guardados, talvez. Mas estão ali, num canto qualquer. E mesmo quando tudo parece monótono como naquela paisagem, com muito mais que apenas cinquenta tons de cinza, as águas continuam a correr. A Terra segue a girar e nós, mesmo anestesiados, seguimos a caminhar. Afinal, o movimento é sempre constante...
Hoje, tantas léguas distante daquele rio pálido, sou outro. Cá no meu cais, já não enxergo mais o cinza como tom predominante. Tudo voltou a ter cor e o sol voltou a brilhar, intenso, no meu firmamento. Sim, sinto o céu aberto sobre mim, seus raios iluminam novamente minha existência e seu calor me lembra, a cada instante, que os dias nublados ficaram pra trás, ficaram pra longe. E cá do meu cantinho, mais perto das águas salgadas do que das doces e cinzentas águas daquele rio, posso dizer, finalmente,  que voltei a nadar a favor da correnteza...


21.1.13

Aquele beijo...

Tinha sido só um beijo. Nada de conversa, nada de carinho. Apenas olhares e um beijo. Um beijo intenso e rápido, como as chuvas que costumam cair no verão. Terminado, separaram-se e voltaram à solitária multidão de antes.
Mas quem disse que há regras? Quem disse que há um roteiro a ser seguido? Não há! Quando o assunto é o encontro, quem governa é o imprevisto! O desafio é abrir mão da falsa sensação de que temos algum controle sobre a vida, respirar fundo e se entregar...

17.1.13

Movimento sem fim...

Das estradas que já percorrera, aquela tinha sido a mais difícil. A mais tortuosa, a que dispunha do maior número de obstáculos, a que exigira mais esforço e determinação. Dura é toda estrada que se percorre sem saber o porquê. Dura é a caminhada em que, perdidos, tentamos descobrir para onde, como e porque ir. Duro é saber que a única alternativa é vencer e não dispor da mais vaga ideia sobre como cumprir essa meta.
Diante de uma trilha cheia de adversidades, nunca se sabe ao certo quão extensa ela será. Assim tinha dado o primeiro passo. E poucos pés antes do último, ainda se questionava sobre a finitude da percurso. E as dúvidas se fizeram presentes nos dias seguintes. E nos que se seguiram aos dias seguintes...
Até que um dia, também sem saber como e porque, sentiu que a jornada estava encerrada. Sentiu-se livre das amarras impostas pelas lembranças, pelas dores e pela saudade. E percebeu que os pés já estavam prontos para trilhar caminhos outros. Novos. Quem sabe, mais leves.
E caminhou!

15.1.13

O segundo iPad a gente nunca esquece...

Eu comprei um iPad no ano passado. Pra ser mais preciso, no dia 29 de março do ano passado. Lembro da data perfeitamente porque no mesmo dia fui assaltado, meu carro foi roubado e, com ele, foi junto o tablet que eu sequer havia retirado da caixa. Um brinde para os ladrões.
Ontem, voltei a encarar o desejo de experimentar esse gadget tão popular e comprei um. Escrevo dele. E devo dizer que a experiência é mesmo incrível!
A tela oferece conforto para a leitura, a sensação de "virar páginas" de publicações digitais é saborosa e todos os requintes que a convergência de mídias pode proporcionar oferece ao usuário um grande prazer na interação com esse aparelhinho tão popular - vale dizer que, na loja em que comprei o meu, havia uma fila de pretendentes. Fui o quarto!
Tô completamente encantado! Posso dizer que se trata de um caso de amor à segunda vista! E já fico pensando pra onde mais o futuro poderá nos levar...

8.1.13

RESENHA: De pernas pro ar 2 é diversão garantida!

Comédia estrelada por Ingrid Guimarães atingiu um público de 1,5 milhão de espectadores desde a estreia, em 28 de dezembro de 2012

Eu vi a primeira aventura de Alice, que se torna dona de um sex shop. Lembro de ter dado risada com uma ou outra cena do filme que inagurou a franquia, mas também me lembro de ter saído do cinema com a impressão de que se tratava de uma produção bem irregular. Mesmo Ingrid Guimarães, comediante de talento e carisma já conhecidos do grande público, acabou me parecendo perdida em indas e vindas no primeiro longa, lançado em 2010.
Ontem quando decidi ir ao cinema para conferir a sequência, já sabia de duas informações bem contraditórias: uma diz respeito ao fato de o filme já ter feito mais de um milhão de espectadores em sua primeira semana. A outra, vejam vocês, era um ícone: o bonequinho dorme para De pernas pro ar 2...
Entrei no cinema mais tentado a entender porque mais de um milhão de pessoas já tinham ido ver o filme. E saí convencido de que toda essa gente fez isso porque De pernas pro ar 2 é uma comédia muito divertida! Um blockbuster com cara, cores, piadas e trejeitos brasileiros, que faz rir do início ao fim! Ingrid Guimarães, que me parecera um tanto errante no primeiro filme, está perfeita no papel de uma Alice dividida entre a família e o trabalho - sempre pendendo para o trabalho, afinal, trata-se de uma workaholic! As sequências em que a personagem mistura bebida e tranquilizantes são de chorar de rir, sem falar do momento rehab encarado por essa desvairada mulher do século 21.
Não vou me alongar, porque seria inevitável entregar algumas das surpresas que a comédia reserva ao público. Mas vale ressaltar que Rodrigo Sant'anna surge impagável como garçom brasileiro, num ponto alto da comédia. O cinema veio abaixo quando ele surgiu na tela dizendo que era de...Governador Valadares.
As sequências em Nova Iorque enfeitam o filme, dão glamour à produção e enchem a tela de ritmo. No entanto, há momentos em que os efeitos visuais utilizados na finalização se revelam insuficientes, e é possível perceber que nem tudo foi filmado na Big Apple. Na época da alta definição, acaba parecendo quase amador. Um ponto fraco num filme feito para arrastar legiões aos cinemas...
Saí do cinema leve, relaxado. Cansado de rir. E certo de que a soneca tirada pelo bonequinho de O Globo só pode ter uma justificativa: um baita preconceito com o que tem forte apelo popular. Porque pode-se dizer muita coisa desse filme, menos acusá-lo de não cumprir aquilo a que ele se propõe: divertir!
E se você quer um último argumento pra ir ao cinema ver, guardei o mais forte deles pro fim do post: até a Maria Paula está engraçada!
Recomendo! Aprecie - e ria - sem moderação!