31.12.12

Revisitando 2012...


Olhar para trás nessas últimas horas do ano é revisitar lugares, sensações, dúvidas, temores, planos concretizados e outros, de realização sequer ensaiada. É reviver lembranças, amores, dores, sorrisos, lágrimas. É se perguntar se poderia ter sido diferente e, se, talvez, poderia ter sido melhor se fosse de outro modo. E é, também, silenciar diante de respostas que, quem sabe, podem jamais vir.
Mas hoje, nessas últimas horas de 2012, também é momento de agradecer. Pela graça que é ter saúde, disposição e dom para viver daquilo que escolhi. Pela família amorosa, presente, parceira. Pelos amigos que se somam à essa família e enchem a vida de cor, sorriso e dão a sensação de segurança quando as coisas não vão bem. É hora de agradecer pela leveza que há dentro de mim, por não ter endurecido com as pancadinhas dessa vida doida e tão boa de viver. De agradecer aos amigos do mundo virtual pelas curtidas, pelos compartilhamentos, pelos comentários, replys e retweets; enfim, por essa deliciosa farra que fazemos no cyberespaço! Por muitas vezes, e não há exagero nisso, essas bobagens cotidianas que fazemos por aqui desanuviam a mente, arrancam um sorriso de uma cara atordoada por problemas e impulsionam pra seguir adiante.Obrigado, gente! Mesmo! Que 2013 venha com mais saúde e força. Pra gente seguir leve, pra gente seguir junto! E pra gente ser muito, mas muito mais feliz que nesse 2012 que tá se despedindo!
Feliz Ano Novo!!!

14.12.12

Presentes...


Presente. Diz-se que é o tempo verbal indicado para se falar de tudo o que acontece agora. Também se costuma usar essa palavra pra definir aquilo que damos ou recebemos em ocasiões especiais. Ou mesmo em dias comuns. O mesmo termo aparece em outro contexto, para indicar quem está sempre perto, alguém com quem sempre se pode contar. Alguém que se faz presente. Mas, às vezes, presente é aquilo ou aquele alguém que surge em nosso caminho hoje, só pra sinalizar que o futuro pode ser bem melhor. Melhor até do que aquilo que esperávamos pra ele...
Presente pra mim.
Presente pra você.
Presente...pra nós?

13.11.12

E Maria Rita redescobriu Elis Regina...

Baixei a versão digital de "Redescobrir" na ITunes Store, nos primeiros minutos do aguardado dia seis de novembro. Sim, esse foi, realmente, um disco muito esperado por mim. Primeiro, claro, por conhecer o repertório de belas canções, tesouro maior deixado por Elis Regina. Depois, e não menos importante que isso, pela curiosidade de ouvir como elas soariam na voz da herdeira da Pimentinha. Como não tive a oportunidade de ver nenhuma das apresentações do show aqui no Rio, só me restava conferir a gravação.
Baixei as músicas e ouvi três vezes seguidas. Embaladas em arranjos mais enxutos - em muitos casos, atualizados - as canções de Elis seguem arrebatadoras. Mas, no disco, esse arrebatamento se limita à força do repertório. Maria Rita, grande cantora, dona de momentos consagradores em sua carreira de uma década, enfrenta com altivez o desafio de reler a obra da mãe, mas é impossível evitar a comparação entre elas. E não é apenas a filha de Elis quem sai em desvantagem: toda e qualquer cantora brasileira sairia na mesma situação diante desse desafio.
Elis era magistral. E segue assim: mestra de todas as intérpretes da MPB. Ia do grave ao agudo mais agudo sem titubear, intensa, num fôlego só. Brincava com a melodia, desafiava os músicos, parecia sempre na corda bamba, prestes a cair em cada verso. Nunca caiu! E segue no topo ainda hoje, passados 30 anos de sua morte.
Mas eu quis mais do que ouvir e, no último domingo, comprei o dvd do espetáculo. Achei a edição preguiçosa, e é flagrante que houve pressa no lançamento: há correções de câmera, perdas de foco e outros pequenos detalhes que jamais iriam para a versão final caso houvesse maior cuidado. Maria Rita está leve - apesar do barrigão - e soa um bocado careteira em algumas músicas, mas, apesar de suas interpretações sempre corretas e bem executadas, dosando bem emoção e técnica, fica longe do que a mãe fez em cena.
Há até um momento muito delicado no dvd: quando, em Arrastão, Maria Rita faz uma menção ao movimento frenético dos braços que Elis Regina executou no Festival da Música Popular Brasileira, da TV Excelsior, em 1965. É delicado porque ali, naquele movimentar de braços, a filha assume o risco de ser comparada à mãe e, mais que isso, se expõe diante dos que pensam que esse projeto é uma tentativa de reeditar, com Maria Rita, o fenômeno Elis. Não creio nisso. Creio, mesmo, na sutileza de uma bonita homenagem à maior cantora que o Brasil já viu. E ouviu...
A grande filha de Elis tem alguns belos momentos. Fascinação, Essa Mulher, Vou deitar e rolar, Águas de Março (número em que parece fazer um cover descarado do improviso final gravado por Elis no disco com Tom Jobim), Onze Tiros, Romaria e Redescobrir estão - até o momento - entre as minhas prediletas. Me Deixas Louca é outro grande momento. Pontos altos de um show que é, sim, memorável. 
Ainda no dvd, vale salientar como são belas as palavras que a cantora dedica à mãe na contracapa do disco e no encerramento do show. Aliás, cabe uma ressalva: o espetáculo soa mais frio do que deve ter sido, uma vez que os momentos em que a artista se direciona ao público foram suprimidos na edição.
Enfim, esse é um projeto arriscado. Para Maria Rita, para a gravadora e para o público: para as duas primeiras, pela comparação inevitável e pelo risco de uma rejeição dos mais puristas. Acho que esses riscos foram superados. Para o público, o risco é não se permitir embarcar na bela voz de Maria Rita e, assim, deixar de aproveitar a grandeza de repertório que o álbum oferece. Sigo firme, vendo e ouvindo de novo, em busca de superar o desafio que me cabe...

7.11.12

Fragmentado


Dessa vez foi lá, no meio da conversa fiada e deliciosa de sempre, entre um aperitivo e outro, beliscando uma porcaria aqui e outra ali que, de repente, veio com a mesma intensidade de sempre a saudade. A certeza de uma lacuna que jamais se poderá preencher, e, mais que isso, a certeza de não querer que o tal vazio seja extinto por uma presença outra...

8.10.12

Palavras do aniversariante mais feliz do mundo...


Quando soube que passaria o aniversário longe de casa, trabalhando, fiquei apreensivo. Tive receio de me bater aquela bad, de me sentir só numa data que, pra mim, sempre é tão festejada.
Acontece que a vida nos prega peças. Viajei com uma equipe incrível e desde os primeiros minutos do meu dia até agorinha, só recebi carinho e demonstrações de afeto de todos os cantos. Debone, o primeiro a ligar, de São Paulo, me fez lembrar que quem é sincero nunca tem o que temer. Fabi, que ligou em seguida, trouxe-me as gargalhadas de sempre, notícias boas, e um amor que quero cultivar enquanto viver...
De Lara, logo pela manhã, veio o primeiro abraço. E com um carinho tão sincero, tão fraterno, que me fez sentir presenteado logo de cara. E vieram os abraços de Ana, amiga tão querida, Cadu e Santhiago, companheiros nessa minha jornada sulista. Aí eu vi que, sim, de um jeito diferente, estava em casa.
Parti pra gravação e ouvi parabéns de uma turma de crianças lindas. Uma banda tocava uma música dos meus tempos de moleque, que reafirma a invencibilidade de quem luta sempre junto dos amigos. Como eu...
Aí vieram os torpedos, inboxes, posts no facebook, mensagens pelo whatsapp, tweets, ligações! Tanta palavra bonita, tantos desejos de coisas boas! De amigos, de colegas de trabalho, da família! Uma avalanche de carinho tão gostosa, tão acolhedora, tão cheia de força que me fez sentir emocionado como há tempos eu não ficava em aniversários meus...
E assim foi por todo o dia de hoje. Fui acolhido, acarinhado e recebi toda a energia boa, de toda a parte do mundo. Energia que vocês, meus amigos, mandaram pra mim. Fiquei achando que devo ser mesmo um cara legal, porque só isso explicaria o tantão de gente boa que tenho ao meu redor; que faz questão de me lembrar o quanto eu sou amado e querido. Se sou legal, devo isso a vocês, que a cada dia me mostram o valor da amizade, me ensinam que o melhor da vida fica ainda melhor se a gente divide com quem ama e que toda essa aventura que é viver só tem sentido de verdade quando a gente compartilha e cultiva sentimentos sinceros. 
Vou dormir certo de ser um cara muito abençoado. E certo, também, de ter sido, hoje, o aniversariante mais feliz do mundo. E devo isso a vocës todos!
Obrigado, turma! De verdade! 

29.9.12

Hebe: a televisão brasileira perde sua maior gracinha

Hebe era uma das poucas unanimidades da televisão brasileira.
Meu sábado desandou desde que soube da morte de Hebe. Recebi uma ligação de minha mãe, já arrasada e surpresa com a notícia. Éramos fãs da vitalidade dessa pioneira da televisão brasileira, do seu carisma, do seu jeitão espontâneo e festivo. Vimos juntos seu último programa no SBT - até escrevi aqui sobre ele - e ficamos entristecidos ao ver aquela grande estrela chorosa, despedindo-se de seu público. Depois, vimos sua estreia na Rede TV! com a nítida impressão de que ela estava usando um palco que não era seu. Nessa semana, quando foi anunciada a assinatura de um novo contrato com a emissora de Silvio Santos, comemorei no Facebook. 
Não sabia que não haveria tempo para que a maior estrela da Anhanguera voltasse a brilhar no seu palco...
É muito estranha a sensação que temos quando um ídolo morre. Há um sentimento de tristeza, de luto, por um alguém que tá lá longe, que, muitas vezes, jamais teremos tido a oportunidade de ver, e por quem, apesar da distância, guardamos tanto carinho, tanta admiração...
Hebe eu vi. Gravei uma reportagem nos bastidores de seu programa anos atrás. E estar ali, diante daquela grande comunicadora, fez de mim um admirador ainda maior de seu talento e, sobretudo, de sua simplicidade. Hebe cumprimentava todos, tirava foto com todos, fazia questão de ser gentil e retribuir a cada um dos acenos, dos beijos, dos sorrisos. Ela, rainha da televisão brasileira, não se escondia atrás do brilho de sua coroa, ou do luxo de suas jóias e vestidos: era humana, acessível. Era gente!
Talvez muita gente duvide da importância de Hebe para a comunicação de massa no Brasil, mas o que ela fez em sua carreira invejável é impressionante: como primeira mulher a apresentar um programa feminino, fundou um estilo. Ajudou a definir como e para quem se faz televisão. E era brasileira demais, no trato com os convidados, na forma de se portar. Ela não inaugurou apenas a televisão: inaugurou um modo de se estar na TV. Modo até hoje seguido por muitos dos profissionais que estão na televisão: à vontade, sem falar de cima pra baixo com o espectador e rindo dos erros - inclusive, e principalmente, dos próprios. 
Sabia tudo! 
Pra mim, Hebe vai ser sempre uma boa lembrança. Ela, que tanto chamou seus convidados de "gracinha" era, sim, a grande graça da televisão brasileira.
Descanse em paz, Loiruda!


21.8.12

Da coragem...

Falo é dessa urgência, dessa necessidade de você! De sentir teu abraço, de ouvir tua voz e de olhar nos teus olhos. De sentir teu cheiro, ver sua boca sorrindo e me encantar com a pintura que essa visão representa na minha vida. 
É disse que falo. Dessa saudade que me preenche quando não estamos perto - e, às vezes, até mesmo quando estamos juntos e sei que não tardará para que deixemos de estar. Dessa secura pelo teu beijo, por mensagens tuas durante o dia ou por aquele sorriso sem vergonha formado pelos dois pontos, pelo hífen e por um parêntese que você manda por inbox só pra me surpreender e me deixar todo bobo...
É isso que sinto: necessidade. De falar, de estar perto...de viver você! De viver essa coisa tão boa e intensa, de gastar essa força pra encarar todo o universo e as outras galáxias, pra enfrentar os  maiores gladiadores e sair com disposição suficiente pra escalar o Himalaia. Ou o Everest. Ou os dois!
Porque você me dá fôlego. 
Só pra me tirar todo o ar depois... 

13.8.12

Viva Elis!

Videoinstalação, com trechos de entrevistas e apresentações de Elis é um dos momentos altos da exposição, em cartaz no CCBB-RJ

A maior cantora brasileira de todos os tempos é tema de uma exposição imperdível para os que amam música e história. Para lembrar os 30 anos de morte de Elis, os filhos da Pimentinha, a mostra traz figurinos, fotos raras, textos, vídeos e, claro, muita música! É um mergulho no universo dessa intérprete que marcou tantas gerações e que, ainda hoje - como lembra um dos textos expostos - segue tão presente em nosso imaginário. E em nossos Ipods...
Quando Elis morreu eu tinha pouco mais de um ano. Mas esse desencontro não me impediu de me tornar um grande fã dessa mulher, dona de interpretações intensas, viscerais e, talvez até mesmo por isso, memoráveis. Dona de um sorriso doce e de um olhar de inquisidor, Elis Regina de Carvalho Costa é, ainda hoje, insuperável! Soube como poucas escolher o que cantar, onde por a voz privilegiada. E deixou um repertório coeso, de bom gosto, diversificado, ousado...único!
Percorrendo os salões do CCBB, vi, mais de uma vez, senhoras e senhores emocionados ao reviver o tempo em que Elis era mais do que uma projeção na tela, mais que uma foto impressa num painel. Choravam aqueles homens e mulheres que carregaram até aqui as marcas que a música dessa grande artista lhes fez na alma. E sei que as carregarão para sempre! 
Esse clima de emoção me sensibilizou. Que poder tem a voz de Elis! Que poder há em suas músicas, eternizadas em nossas memórias e em nossos corações! Que poder tem o artista que sabe zelar por sua obra, por seu dom! 
Enfim, a exposição é uma delícia! Fiquei viajando entre todo o incrível material exposto e imaginei como será daqui a 10, 20 anos, quando uma Elis projetada em holografia poderá cantar em 3D para seus fiéis e saudosos fãs! Se Deus quiser, serei mais um a aproveitar a tecnologia pra matar as saudades da Pimentinha mais doce que já temperou a MPB...

27.7.12

Um amor para sempre...

Poucas vezes na vida a gente se depara com uma possibilidade de uso adequada da expressão "para sempre". Ontem, no entanto, tive uma prova de que há ao menos uma circunstância em que o "para sempre" traduz com perfeição o sonho de um amor sem fim. Mais que isso: tive um exemplo de um amor que será, sem dúvida, para sempre.
Não foi numa circunstância alegre, longe disso! Vi uma amiga muito querida se despedir de sua única filha. Vi em seus olhos toda a dor que uma mãe pode experimentar na vida. Mas também pude sentir, em seu abraço sereno, a tranquilidade de quem pode dizer que viveu um amor de verdade, incondicional, inteiro. Tranquilidade de quem deu tudo. E de quem recebeu tudo de volta. De que viveu toda a intensidade de uma relação, toda a entrega que ela pode permitir. De quem se dedicou a fazer de outra vida uma vida mais feliz, mais confortável, mais digna, mais amorosa...
Minha amiga pode dizer tudo isso de si. Mas não o fará, eu sei disso. Nem precisa fazê-lo. Guardará essa história no peito, para sempre. Guardará todos os momentos com sua filhota no coração, também para sempre. E poderá, para sempre, dizer que viveu um grande amor.  
E esse grande amor não tem fim; é para sempre! Porque ela será, para sempre, a mãe daquela estrelinha que foi brilhar lá em cima. E toda a luz que ela irradiar do céu, para sempre, vai guiar os passos da mãezona que ela encontrou aqui na Terra.

18.7.12

Rush

Curioso esse tempo em que podemos ser encontrados por satélite o tempo todo e em que é cada vez mais rara a façanha de um encontro verdadeiro...
Visito lugares, conheço pessoas, recebo e ofereço abraços sinceros, passeio por caminhos não imaginados e me perco pensando nos rumos incertos dessa vida. Exercício diário esse de olhar para o mundo e pensar em como seria se ainda pudesse dividir o que enxergo contigo, compartilhar dúvidas e angústias, amparar-te em momentos de infortúnio e vibrar com cada uma das tuas conquistas.
Cansativo esse exercício de me inventar sem você. De buscar em mim um eu que não sei ao certo quem é, se existe e no que crê. De fazer a vida desse novo alguém ter graça e leveza, ser interessante e - quem sabe - alegre!
O que ajuda é notar que nosso encontro não foi verdadeiro. Ao menos, não na essência. Foi um esbarrão. E só. E tal como nas tumultuadas estações do metrô, cada um seguiu seu rumo, depois de refeito da trombada.
Até que venha a próxima. Porque a vida, também como as estações do metrô, nunca dá refresco...

12.7.12

Coração não responde...

Nunca haverá respostas. Não vai chegar o dia em que seja público o segredo do sucesso de uma relação. Não se sabe onde é acionado o tal click que faz com que duas pessoas se envolvam, se embolem, se misturem e queiram seguir juntas depois.
É dos segredos mais bem guardados em todos os tempos...
Quem nunca olhou alguém e disse: "taí, poderia ser essa pessoa..." sem que a tal pessoa jamais tenha se tornado, de fato, A pessoa?
Quem nunca se questionou sobre quem determina para onde vai nosso interesse? O que faz com que este - e não aquele - coração passe a ditar o ritmo das batidas dentro do próprio peito?
Nunca haverá respostas. E, verdadeiramente, pouco fazem sentido todas as perguntas. Afinal, quando se fala das coisas do coração, a grandeza é a do sentir. E não a do explicar.
E talvez toda a graça da brincadeira do amor seja exatamente essa...

20.5.12

Sobre o que Xuxa viu da vida...




Há tempos uma atração do Fantástico não repercutia tanto. Em uma longa edição, o quadro "O que vi da vida" exibiu depoimento de Xuxa Meneghel. A loira falou da infância no subúrbio, do começo da carreira como modelo, do  namoro com Pelé, do romance com Ayrton Senna e do preço da fama. Nenhuma novidade. Mas a loira guardou um desabafo para a parte final da entrevista e revelou ter sido vítima de abuso na adolescência.
O depoimento foi marcante. A história, triste como são todas as histórias de violência. E Xuxa pareceu um tanto perturbada. Não demorou até que aparecesse nas redes sociais muita gente duvidando do depoimento exibido no Fantástico. Cada um no seu direito, claro. Mas o fato é que muitas vítimas de abuso sexual passam a vida inteira sem conseguir revelar suas histórias de violência. Por isso, não me surpreende o fato de Xuxa falar do assunto somente às vésperas dos 50 anos. Muita gente também tá associando o tal depoimento à busca pelos holofotes. Ok, Xuxa não é mais o mesmo fenômeno, não rende mais o Ibope dos anos 90, mas...peraí...a loira tá milionária faz tempo, gente! Tem contrato longo em vigor, ou seja: não tem motivo algum pra chamar a atenção pra si com uma história desse tipo. 
Como postei no Facebook assim que acabou a entrevista, acho que ela precisa de um analista. E não é de hoje. Mas, em última análise, todos precisamos. Ficar atribuindo às declarações da loira sentidos incertos e suposições pretensamente críticas é bem esquisitão também! Acho que há uma grande diferença entre ser crítico e ser paranóico, querendo enxergar uma conspiração atrás de tudo o que acontece na TV.

16.5.12

Dicotomia

Recentemente, numa conversa com amigos, recuperei um assunto que há tempos me intriga: as diferenças entre o discurso que adotamos em nosso dia a dia e as ações que praticamos cotidianamente. De forma abrangente, essas discordâncias podem ser percebidas quando analisamos, por exemplo, a questão ambiental: às vésperas da Rio +20, nunca estivemos tão informados sobre a importância da preservação dos recursos naturais. Por outro lado, nunca consumimos tanto, nunca descartamos tantos resíduos de forma inadequada e nunca desperdiçamos tanta água.
Achou o exemplo amplo e complexo demais? Pois bem, lá vai outro: hoje, estamos conectados o tempo todo, ligados entre teias e mais teias de redes sociais. Curtimos, comentamos, compartilhamos, tuitamos, retuitamos; criamos e recriamos laços o tempo todo na esfera virtual. Ao mesmo tempo, parecemos ter perdido a capacidade de estabelecer vínculos mais fortes, sólidos. A própria palavra "amigo", popularizada em redes como Facebook e Twitter, ganha novos sentidos: qualquer um vira seu amigo a um clique. Uma vez dado o "aceito", todos caem na vala simples da "amizade" genérica, virtual, numérica. Em geral, todos valem rigorosamente a mesma coisa e essa mesma coisa é rigorosamente nada!
Polêmico? Talvez. É bom avisar que não sou um reacionário e que adoro usar o Facebook. Mas entendo que essas são questões do nosso tempo. E que têm, todas, reflexos sobre a mais profunda das nossas atuais dicotomias: a que envolve nossos relacionamentos sentimentais.
Note bem: se você tem amigos solteiros, é bem provável que os ouça constantemente falando do desejo de "encontrar alguém". Se ouve isso, você também deve escutá-los discorrendo sobre a necessidade de "estar junto", de "namorar", de "viver uma história de verdade, séria". E por aí vai...
Mas acontece que, embora essa discurso esteja presente de modo muito forte em nossa sociedade, ele é completamente antagônico às práticas que adotamos de uns tempos pra cá. Talvez contaminados pela mesma lógica do "descarte", passamos a rejeitar uns aos outros ao menor sinal de desacordo. É fácil como apertar um imaginário botão de "delete" e, assim, expurgar da vida real um alguém qualquer como se faz com qualquer arquivo inútil de computador. É rápido como clicar na opção "desfazer", quando se volta atrás depois de "curtir" um post do Facebook. Assustador!
Eu me assusto porque já estive casado - e gostei verdadeiramente da experiência. E encaro uma relação como uma construção diária, uma negociação permanente - muitas vezes cansativa, é bem verdade - em que um objetivo comum - a vida a dois - justifica muitos dos percalços. Mas pra que essa vida seja bacana, leve, é preciso que não percamos o foco: há de se fazer escolhas! Para que dure - e que seja eterno enquanto durar - é fundamental ter a coragem de abrir mão do que importa menos e investir na realização de um sonho que até pode acabar logo, mas que vai deixar gostinho bom no fim se essa entrega for verdadeira e menos egoísta. Afinal, se cada um seguir olhando apenas para o próprio umbigo, agindo de forma inconsequente e sem disposição de aprender a conviver, esse cenário de dicotomia só tende a se aprofundar. E aí, perceberemos todos que, no fundo, nossa sociedade está mesmo embolada numa rede que mais lembra uma cama de gato... 

11.4.12

Sobre a polêmica do aborto de fetos anencéfalos...

O Brasil acompanha - de modo menos interessado do que devia - o debate que envolve o julgamento do Supremo sobre a descriminalização do aborto de fetos anencéfalos. Quatro ministros do STF declararam hoje que votarão a favor do projeto que, caso aprovado, permitirá que pais e mães possam escolher como proceder em caso de gestação de um bebê sem cérebro - ou com comprometimento cerebral grave.
Tenho acompanhado as discussões pela mídia - e a TV é, de longe, a que menos tem se dedicado ao tema. Talvez para fugir de polêmicas com grupos religiosos e conservadores. Talvez por não reconhecer que essa seja uma temática de grande relevância. Vi apenas algumas discussões em programas como o Sem Censura e o Repórter Brasil, ambos da TV Brasil, e um debate no Entre Aspas, da Globonews.
Em todos os casos, fiquei surpreso com o nível de argumentação dos que são contrários ao projeto em discussão. Também me surpreende a total falta de sensibilidade à causa das mães que se deparam com um diagnóstico duro e decisivo: gerarão bebês com expectativa de vida limitadíssima. Bebês que podem existir por minutos, talvez horas.
Os que são contrários a descriminalização dos fetos anencéfalos se dizem a favor da vida. Também o sou. Totalmente. Mas fico penalizado ao imaginar que uma família pode ser obrigada a levar em frente uma gravidez que poderá terminar em morte sem que nada possa ser feito para diminuir, abreviar ou simplesmente evitar que tamanho sofrimento se torne ainda maior.
Não se trata de tornar o aborto de fetos anencéfalos uma obrigação. Seria contrário à ideia, caso fosse essa a proposta. Trata-se de oferecer aos familiares que atravessam esse momento tão delicado a possibilidade de escolher qual saída pode ser menos traumática. E só quem pode mensurar a dor que qualquer das escolhas vai ocasionar são aqueles que, de fato, vivenciam a angústia dessa decisão. Não acho justo que o Estado ou que as igrejas se arvorem no papel de defender uma vida para a qual virarão as costas em seguida. Ou alguma proposta e/ou dogma religioso prevê o acompanhamento psicológico para os familiares dos bebês anencéfalos depois que sua inevitável morte se consumar?
Alguns poderão dizer que há casos de crianças sem cérebro que conseguiram - e conseguem - viver por alguns anos. Sim, eu sei. Certamente são crianças amadas por seus pais. Mas também é certo que, infelizmente, elas representam uma exceção à regra. A maior parte jamais terá alta da maternidade.
Enquanto as TVs parecem negligenciar o debate - o que deve mudar nesta quarta, caso o STF chegue a uma conclusão - a Internet segue como tribuna livre. Hoje, no Twitter, os Trending Topics registraram algumas vezes expressões ligadas aos grupos que defendem que o abortamento de fetos anencéfalos deve continuar proibido por lei.
Felizes esses tempos de democracia. Mas sinto falta de argumentos menos "contaminados" por valores ligados à religião e mais sensíveis à delicadeza inerente à situação. Não se está falando de liberar o aborto. O que está em pauta é dar às mães e aos pais que vivenciam a situação a possibilidade de escolher de que forma melhor podem superá-la. 

30.3.12

Quando chega a nossa vez...

A gente vê, ouve, lê e fica sabendo de tantas histórias sobre roubo...mas nunca imagina como agir caso essa tragédia carioca bata à nossa porta. Ontem, bateu à minha. Voltava da academia, pelo Elevado da Perimetral, quando dois homens num carro prata me fecharam. O carona desembarcou apontando uma pistola pra minha cara. Tudo rápido, parecendo coisa de cinema. Mas não havia trilha sonora para criar clima: a tensão era real. Como a vida. 
Tive muita calma e mantive meus braços erguidos o tempo todo. Da fechada até a hora em que desci do meu ex-carro acho que não chegou a se passar um minuto. Desci, os bandidos zarparam e fiquei ali, perdido, durante aqueles segundos dos quais já lembro como os mais angustiantes da minha vida. Pra onde ir? Como caminhar com as pernas tão trêmulas? O que fazer para chegar em casa sem dinheiro, sem carteira, sem um celular para me comunicar com alguém?
Não tive tempo pra achar as respostas. Não fui atropelado - apesar de tantos carros que passavam pela via em grande velocidade. Comecei a correr me equilibrando pelo estreito canteiro da via até alcançar o começo da Avenida Brasil. Logo cheguei a um ponto de ônibus. Como tinha acabado de sair da academia, temia que os taxistas se recusassem a parar para um passageiro de camiseta e bermuda. Pedi ajuda a um senhor que parecia voltar pra casa depois do trabalho. Queria que ele me auxiliasse a parar um táxi. 
E ele me ajudou. Como também me ajudou o taxista, um senhor de uns 50 anos, calmo, solidário, que me emprestou o telefone celular para que eu cumprisse o ritual mais doloroso da noite: avisar minha mãe sobre o que acabara de acontecer. Fiquei preocupado porque sou filho único, minha mãe morre de medo dessas histórias todas, e não queria sequer pensar no susto que ela levaria com a ligação a cobrar.
Ela se assustou, claro. Mas ficou firme. E eu também.
O taxista continuou a me ajudar. Foi ele a me dizer o número de telefone da minha companhia de seguros - uma vez que meu celular e todos os meus contatos tinham ido embora no carro roubado. Foi ele a, mesmo dirigindo, apertar os botões do telefone durante o atendimento automático, ao perceber que minhas mãos tremiam demais. Foi ele a falar com a atendente da seguradora, até perceber que eu já estava mais calmo. E também foi dele a ideia de ligar para o 190 da Polícia Militar para disparar o tal "alarme de roubo de veículo". Coisas nas quais eu nem sei se teria a tranquilidade de pensar...
Ao chegar em casa, um alívio enorme: minha mãe, aflita, estava bem. Ela me esperava com os braços abertos e tentava dizer palavras de coragem, de força - quando eu sabia que ela estava tão arrasada quanto eu. Logo, ela me contou que quando liguei comunicando o roubo, acabara de fazer sua oração para Nossa Senhora Aparecida, nossa santinha protetora. Nossa Senhora, que estava coladinha no para-brisa do meu carro, foi minha mãe, mais uma vez, na noite de ontem. Ela me cobriu com seu manto azul e impediu que qualquer coisa de pior me acontecesse. Protegeu a mim, à minha mãe e a todos que me amam. Agradeço por isso. Muito! Por estar vivo, saudável e forte pra poder seguir em frente realizando meus sonhos. 
Também aproveito para agradecer aos meus amigos. Tantas ligações, tantas mensagens bonitas, tantas palavras doces e reconfortantes. Se já chorei algumas vezes depois dessas quase 24 horas, em muitas delas a motivação foi essa sensação de estar amparado por tanta gente querida. Que orgulho ter vocês na minha vida! Que tesouro inestimável é poder contar com tanta gente do bem, lado a lado, nessa jornada incrível que é viver! Estou firme, estejam certos! E vamos seguir em frente desbravando a vida, rindo e trabalhando muito juntos! Porque esse bem ninguém nos pode tomar!!!
Os prejuízos existem, claro! A dor-de-cabeça para resolver todos os trâmites, idem. Também há tristeza por ver que tantas coisas tão especiais, pelas quais lutei muito, viraram pó assim, num piscar de olhos. Há revolta também! Pela sensação de impotência, de insegurança de i...diotice! Por me sentir vítima de um Estado que olha pra mim como fonte de recursos, e não como pessoa que merece serviços essenciais bem prestados. Mas tudo isso, meus amigos, é algo menor. É menor que essa gratidão por estar vivo, é menor que o amor que tenho pela minha vida, pela minha família, pelos meus amigos, pelo que sou. É menor do que a certeza de que não faltarão as chances para que eu reconquiste o que se perdeu. 
Porque, na noite de ontem, tive, mais uma vez, a certeza de que sou um cara muito abençoado!
Amém! E vamo que vamo!!!

28.3.12

A agonia da Sessão da Tarde?

Uma nota da coluna da Patrícia Kogut no Segundo Caderno de hoje confirma algo que eu já imaginava: a Sessão da Tarde tá derrubando a audiência da TV Globo. Segundo a jornalista, há estudos para identificar o público-alvo da tradicional sessão de filmes, célebre por exibir títulos voltados para crianças e adolescentes que, ao que parece, já não se interessam mais por esse tipo de atração na TV. 
Não precisa ser um grande especialista para notar a grande variedade de estímulos disponíveis para os telespectadores mais jovens. Cito dois grandes rivais da TV: games e internet. Diante deles, tão cheios de recursos de interatividade e com tantas possibilidades de entretenimento, é quase ingênuo supor que meninos e meninas vão continuar se comportando como há 20,30 anos e, diariamente, permanecer sentados diante da telinha para acompanhar reprises de filmes inocentes, comédias românticas, aventuras bobocas e afins.
Acredito que o horário precisa privilegiar conteúdo inédito. Enlatado na TV aberta é conteúdo cada vez mais arriscado! Para concorrer com a internet em pé de igualdade, a televisão aberta precisa se debruçar sobre o novo, oferecer outras possibilidades de interação e, mais que isso, entender o comportamento desse público inquieto, que vê TV navegando na web, falando com amigos e trocando mensagens nas redes sociais. Uma realidade nova, ainda muito recente, e que deixou pra trás até mesmo a mais jetsoniana das previsões. Coisa que a gente não viu nem em "De volta para o Futuro", um dos clássicos da sessão de filmes vespertina mais tradicional da televisão brasileira...

Meu encontro com Regina...

Quando entrei pra faculdade de Comunicação, levei comigo a paixão pela escrita, pela leitura e o sonho de contar boas histórias na TV. Sim, eu sabia que a minha praia era o telejornalismo desde pequeno. E isso nada tem a ver com o glamour: sempre fui fascinado pela "mágica" dessa janela eletrônica, tão presente e - ainda hoje - tão forte em nossas vidas.
O curso tinha todas aquelas cadeiras mais teóricas - concentradas no primeiro e no segundo períodos, sobretudo. Mas uma me conquistou em cheio: Redação! O nome da disciplina não era exatamente esse, mas o objetivo era ensinar aos futuros jornalistas as técnicas do texto para os diferentes veículos de comunicação. Lembro de, logo na primeira aula, ter ficado fascinado com a ementa que nortearia nossos trabalhos ao longo do semestre. E, também logo na primeira aula, a professora nos encomendou um texto de caráter jornalístico, opinativo, sobre um tema livre. Teríamos, portanto, de criar uma espécie de artigo nessa primeira experiência de produção textual.
Era agosto de 1998. Voltei pra casa pensando no ônibus. Mas não tardou até chegar a um assunto do meu interesse: a história de Francisco de Assis Pereira, o Maníaco do Parque. Naquela mesma noite, fascinado com a tarefa que tinha pela frente, lotei de letras a tela branca do Word e senti uma felicidade tamanha ao notar que, sim, conseguira contar a história e opinar sobre um fato tão "quente", sério e polêmico.
Entreguei o trabalho e fiquei esperando o retorno, claro. E quando ele veio, algumas horas depois, trouxe a certeza de que eu não havia escolhido um caminho errado - embora ainda pretendesse cursar Publicidade: a professora elogiou meu texto! Disse que já parecia uma narrativa jornalística! Fiquei nas nuvens...
Claro, havia uma ressalva: com caneta vermelha, a professora envolveu os nove pronomes "que" com os quais eu tinha construído minha narrativa. Uma repetição excessiva, apontava ela. Lição das mais valiosas naquele início de graduação.
Hoje, 14 anos passados, revi essa professora. Estava trabalhando, finalizando um dos programas que exibiremos em abril e, coincidentemente, Regina apareceu para conhecer as novas instalações da TV Escola. Eu a reconheci imediatamente, claro. Fiz questão de abraçá-la, trocamos algumas palavras - ela, muito afetuosa, felicitando-me por estar no mercado, atuante - e nos despedimos em seguida. Um breve encontro, mas com sabor muito especial. Sem saber, 14 anos atrás, aquela mulher foi a primeira pessoa a acreditar que eu estava no caminho certo. A primeira a dizer que minhas palavras, agrupadas, produziam sentido, contavam uma história e emocionavam. A primeira a, com essa atitude, me dar força e confiança para seguir em busca de um sonho de menino.
Sonho que, há 12 anos, realizo todos os dias...
Professores são figuras fundamentais em nossas vidas. Tive muitos, muito queridos e especiais. De alguns, me tornei amigo. Por alguns, tenho profunda admiração. Mas tenho profunda gratidão pro todos. Sentimento que me moveu mais cedo, ao abraçar Regina. E que voltou a me motivar horas depois, na volta pra casa, quando, dirigindo, comecei a formatar esse texto na cabeça. Exatamente do modo como, 14 anos atrás, fizera com o tal primeiro artigo escrito sob encomenda dessa querida mestra...

23.3.12

Obrigado, Chico!

Alberto Roberto: meu personagem preferido, o "símbalo sescual" da incrível galeria de tipos criados por Chico Anysio
Quando eu era moleque, as caretas de uma das aberturas do "Chico Anysio Show" me metiam medo. Pudera! Esse cearense, célebre por criar tantos tipos, surgia na tela esticando orelhas e nariz, arregalando olhos e deformando a testa. Obras dos efeitos de edição da época, claro! Mas o susto provocado pela vinheta do programa logo dava lugar às crises de riso propiciadas por tantos personagens, tão ricos e diversos. Tão plurais e tão singulares. 
Obras de gênio!
Obras de Chico!
Eu ria de Haroldo, o hetero mais gay que a televisão brasileira já mostrou. Ou seria o gay mais hetero? Ria das mentiras de Pantaleão e das gírias do Jovem. Dava risada das peripércias de Bento Carneiro, vampiro brasileiro - e de sotaque mineiro! Tinha verdadeiras crises de riso com o "símbalo sescual" Alberto Roberto, galã de redinha nos cabelos e pai da canastrice. Das loucuras do Coalhada e das eternas rusgas de Nazareno com sua mulher, sempre maquiada de modo pouco ortodoxo.
Mas Chico não me fez apenas rir. Também aprendi muito com esse grande mestre do humor, que foi descansar hoje, depois de lenta agonia. Com Chico eu aprendi muito sobre generosidade, ao vê-lo servir de escada para tantos colegas, apesar de toda a sua genialidade, quando se  travestia  de professor Raimundo. O Bozó, o global mais orgulhoso que já existiu, me fez ver como o deslumbramento é algo que não quero para a minha vida. Por trás dos vastos bigodes de Justo Veríssimo, descobri, ainda criança, que a maior chaga do meu país é aquele tipo de político que tem total desprezo pelo povo. Nos cultos de Tim Tones, vinte e tantos anos atrás, Chico me ensinou como pode ser perigosa a mistura entre fé, fanatismo e dinheiro. Alguém quer lição mais atual?
Hoje, a morte de Chico Anysio me fez lembrar de tudo isso. E dos discos dele que meu pai tinha lá em casa. Da minha infância, da minha família, das brincadeiras com amigos - onde tantas vezes e pelos mais diversos motivos repeti e ouvi repetirem seus bordões inesquecíveis. Chico é peça sem reposição. 
E a esse grande artista, cabe apenas o meu muito obrigado...

21.3.12

BBB: o estupro que foi sem nunca ter sido?

Na tarde desta terça-feira, fui surpreendido com notícia publicada no UOL. O texto informava que a Justiça determinou o encerramento das investigações no inquérito que apurou a suposta violência sexual que marcou as primeiras semanas do Big Brother Brasil. O fato, vocês lembram, agitou as redes sociais e gerou uma interferência direta nos rumos da casa "mais vigiada do Brasil": o participante investigado pela denúncia foi expulso do reality e, desde então, seu paradeiro é ignorado.
Daniel saiu rotulado como estuprador, não tem jeito. Isso mesmo depois do depoimento de Monique, apontada como vítima no caso, no qual qualquer possibilidade de violência foi derrubada pela moça.
Com Monique eliminada do programa, e com mais negativas da parte dela, nada restou se não a ordem para arquivar a investigação.
Diante disso, pergunto: como os danos gerados à imagem de Daniel serão reparados a partir de agora? 
Fiz a pergunta no Twitter, mais cedo, e rendeu pano pra manga. A mensagem foi muito retuitada e recebi vários replys de pessoas que culpam a TV Globo pela mancha ora impressa no currículo - e na vida - do ex-participante do programa.
Bom, é claro que a Globo tem o seu quinhão nessa história. E nem preciso dizer que ele é grande. Daniel foi exilado e sequer pode usar o espaço que a emissora dedica a todos os ex-BBBs pra se explicar. À essa altura, não há dúvida, a emissora já deve estar ciente de que um processo pode estar a caminho ou, quem sabe, um belo acordo com o rapaz.
Mas acontece que a Globo não é a única implicada na história. Muitos programas de TV - de emissoras concorrentes - usaram a abusaram da polêmica na corrida pelo Ibope. E sapecaram o rótulo de estuprador em Daniel. E, além das pessoas jurídicas, muitas pessoas físicas também replicara a história indiscriminadamente. Sim, meus caros! Muitos internautas apregoaram na tribuna livre da web um veredicto sobre o qual ninguém poderia ter a menor certeza. Julgaram e condenaram o participante e, o que é pior, difundiram seus levianos julgamentos em sites, blogs e redes sociais. Ou seja: produziram provas contra si mesmos. Com base na decisão tomada ontem pela Justiça, não precisa ser expert em Direito pra dizer que Daniel foi difamado e caluniado. E, à essa altura, muita gente pode estar devendo uma grana ao ex-BBB a título de lhe reparar danos morais que, sinceramente, nem sei avaliar que extensão têm.
Que a internet é, por princípio, democrática, não há dúvidas. Mas há que se ter muito cuidado sobre tudo o que se publica e se comenta nesse território tão polifônico. Porque afinal uma hora a conta pode chegar. E sair muito mais cara que o serviço de banda larga...

PS.: No mínimo curioso notar que a Globo só deu espaço ao Daniel em seus telejornais depois que a Justiça tomou posição favorável ao rapaz. Não?

15.3.12

PARTE 1: Desce!

Sorrateiramente, como quem não quer se deixar perceber, fecha o grande portão. Guarda o molho de chaves no bolso e chama o elevador. Faz frio, o vento é constante e sacode sua barba e a vasta cabeleira branca. Há uma névoa seca e densa no ar. Enquanto espera, caminha de um lado para o outro, cruza e descruza os braços, estala os dedos e faz todo o possível para atenuar a ansiedade daquela espera.
Está exausto. Não tirava férias há milênios e aquela “escapadinha” seria providencial. Deu-se ao luxo de não pensar no destino dos negócios, não queria se preocupar com nada. Cercou-se de todos os cuidados para que seu destino não fosse descoberto e para que a sua fuga, portanto, não pudesse ser evitada.
Foi quando o elevador chegou. As portas se abriram e Gabriel, o ascensorista, nada perguntou. Em muitos anos naquele posto, aprendera que a discrição era um valor imprescindível: nada de olhares, nada de perguntas, nada de conversa! Gabava-se, inclusive, de sequer prestar atenção na fisionomia de seus passageiros. E não foram poucas as vezes em que transportara gente famosa...
Poucos instantes se passaram até que a porta se abriu. O calor que vinha lá de fora assustou o passageiro, mas não chegou a surpreendê-lo. Saiu do elevador e logo seus pés estavam sobre aquelas areias alvas, escaldantes. A luz era abundante e o som das ondas batendo na arrebentação soava como música em seus estressados ouvidos, surpreendidos com aquela voz que não escutava há tempos... 
- E então você veio mesmo! 
- Ãhn...sim, sim! E agradeço-lhe pela gentileza. Como você sabe, eu...
- Não precisa agradecer nada, meu camarada! Talvez você finalmente ser convença de que aqui é bem melhor que...
- Por favor, caríssimo! Não vamos começar a falar disso, certo? 
- Está bem, está bem! Bom, então venha comigo! Vou te mostrar que beleza é isso aqui! 
- Sim! Está tudo muito bonito! Não venho aqui faz séculos... 
- E não sabe o que está perdendo! - disse o anfitrião, colocando o braço tatuado em volta dos ombros do visitante e dando início a uma animada conversa.
Era muita gente! Corpos bem torneados, bronzeados, expostos ao sol e à toda beleza daquele verão que parecia jamais ter fim. A paisagem também era perfeita para um período de férias: céu azul, sem nuvens, mar calmo e verdinho, coqueiros muito altos e uma brisa incessante – bem quente, é verdade. Enquanto ouvia o que dizia o anfitrião, passou a observar várias placas colocadas no início da faixa de areia. O local estava muito bem sinalizado, pronto para receber turistas das mais variadas procedências: Strand der Hölle, sinalizava uma. Outras quatro indicavam, respectivamente: Παραλία της Κόλασης, شاطئ من الجحيم , חוף הגיהנום e ساحل جهنم. Achou curiosa toda aquela diversidade de idiomas: Bãi biển của địa ngục, नर्क का समुद्र तट, Plage de l'Enfer...parecia ter entrado numa espécie de Babel litorânea, com línguas dos mais diversos tipos e lugares! Strand van Hell, Hell's beach, continuavam as placas, até que seu bronzeado guia anunciou:
- Chegamos, meu Senhor! Seja bem-vindo às férias na praia!
- Pelo Meu amor! Ainda não acredito que vou passar férias aqui!, respondeu o ilustre convidado, quando pararam diante da última placa, na qual se podia ler:

PRAIA DO INFERNO


continua >>>

1.3.12

Berço do samba e das lindas canções...

É maravilhosa ou não é?

Amo te ver, minha linda, nos dias de sol e nos chuvosos, ornada de flores ou pela luz dourada do outono. Gosto de caminhar à procura dos teus cheiros, todos, misturados pela brisa que os mares sopram pra te perfumar ainda mais. Gosto dos teus sons, dos teus barulhos, da sinfonia produzida pelos sambas, pelos funks, pelas buzinas, pelas britadeiras, pela tua gente sempre risonha.
Gosto dos teus gostos, do copo de chope suado molhando a mesa num happy hour que parece até pleonástico: contigo, é difícil não haver felicidade nas horas...
Sofro com teus problemas. Dói quando te noto maltratada, esquecida, deixada de lado por aqueles que não sabem reconhecer em você esse grande tesouro que vejo. Sinto medo de, um dia, notar que, uma a uma, tuas maravilhas foram desperdiçadas, destruídas. Sinto medo porque não há, no mundo, nenhuma outra como você!
Não há outra com seus ângulos, com tuas cores, com tua vibração! Não há outra com tua malemolência, com tua ginga, com tua gargalhada e com essa sedução gostosa que você exala. Não há outra com a tua camaradagem, com o teu humor e com a tua capacidade de, dia após dia, surpreender a todos nós com sua infinita beleza.
Porque você sempre nos surpreende. Há 447 anos!
Não há outra cidade como você, Rio! 
Maravilhosa, sem igual. Meu coração e coração do meu Brasil...

14.2.12

We will always miss you, Whitney Houston...

Quando soube da morte de Whitney Houston na noite do último sábado, dia 12, levei um baita susto. Repentina, a saída de cena da cantora me colocou diante de uma série de lembranças de suas músicas. Uma delas, aliás, It's not right but it's ok, eu tinha dançado na noite anterior.
Sou um grande apreciador da música e, sobretudo, das vozes femininas. E acho que quando esse é o assunto, Whitney tem lugar de destaque. Dona de um timbre inconfundível, essa bela cantora tinha identidade: era impossível confundir uma de suas músicas com as de qualquer outra cantora. Mais que isso: Whitney se firmou no topo da indústria fonográfica mundial na década de 90 justamente por cantar - e muito - algo que parece fora de moda hoje em dia.
Tenho várias de suas músicas no Ipod. Try it on my own, I believe in you and me, Greatest love of all, When you believe - essa, em dueto com Mariah Carey - até a mais recente, I look to you. Belas músicas, que se tornaram ainda mais bonitas graças a interpretação dessa grande cantora.
Curiosamente, a música mais popular do repertório de Whitney Houston não fazia parte da minha playlist pessoal. Uma falha grave, uma vez que, mesmo moleque, lembro de ter achado I will always love you uma tremenda balada, já na primeira audição. E continuo a achar, ainda hoje, que esse é um dos mais belos vocais femininos da história da música pop. Um caso raro - e cada vez mais raro - em que interpretação, melodia, arranjos e letra estiveram perfeitamente unidos em torno do objetivo de emocionar. E como emociona...
Quem nunca disse pôs um ponto final a uma história a contragosto? Quem nunca precisou se afastar de alguém  mesmo com a certeza de que essa ausência seria uma dor quase insuportável? Quem nunca ficou de longe, torcendo para que as coisas dessem certo, desejando coisas boas?
Quem nunca disse "eu vou te amar pra sempre"?
Viva Whitney Elizabeth Houston, a dona de uma das vozes mais bonitas, eternizada numa das mais belas músicas de amor que a indústria do entretenimento dos Estados Unidos já ofereceu ao mundo... 

10.2.12

Pro Cecello...

Esse cara inteligente, sem medo da vida, carinhoso e engraçado chega de mansinho e se instala. Vira amigo fácil daqueles que sabem valorizar uma boa conversa, um abraço sincero e o bom humor. 
Com ele descobri como é surpreendente - e divertido - perceber o mau humor de alguém que sempre dá provas de estar de bem com a vida. E ri muito dos desejos de bom dia no Facebook e da ordem fora de hora pra pizza voltar.
Foi esse economista - que nunca poupa carinho e palavras doces - que me mostrou que o fundo do poço não tem mola nenhuma ao me apresentar ao canto de uma gordinha chamada...Adele. Que sofrimento! E que prazer! 
Esse cara corajoso e todas as suas voltinhas me ensinaram que o mundo dá muitas voltas. Mas que elas, todas, são suaves demais quando a gente tá cercado de amigos leais e queridos. Como ele.
Cecello, um grande dia pra você! Que todas as suas conquistas recentes, que se refletem nesse sorriso que não sai dos seus olhos, sejam apenas o início de uma fase de muitas realizações, em todos os campos. E que a gente possa estar junto pra comemorar, uma a uma, todas essas vitórias.
Beijo grande e feliz aniversário!

26.1.12

A invasão...

E aí, de repente, surge aquele alguém. Aquele alguém que poderia ser só mais um alguém, mas , de um jeito que ninguém jamais conseguiu explicar ou definir, pra você vira o alguém.
Quando se dá essa transformação, as coisas complicam! Porque os outros sorrisos não têm a mesma graça, as outras ligações telefônicas não importam mais e os torpedos só atingem o alvo exato se tiverem partido desse determinado remetente.
Esse seu alguém - que talvez possa nunca vir a ser realmente seu - acaba te raptando. Você fica refém, fica inseguro, não sabe onde colocar as mãos.  E numa simples conversa, se pega perdido, capturando detalhes daquela boca, daqueles olhos lindos, sentindo o toque daquelas mãos nas suas mãos. Tudo é único e até a mais boboca das brincadeiras parece incrivelmente original.
Tudo assim, de repente. Contra a sua vontade, contra as previsões. Contra a lei das probabilidades, contra o universo. Contra tudo e contra todos, esse alguém chega e, sem que você perceba ou consiga controlar, finca raízes naquele lugar que você julgava ter dominado. Invadindo seu lote mais precioso, o seu mais valioso lugar. 
Sim...sem anunciar, esse alguém aparece e se instala no terreno tantas vezes arrasado pelas intempéries da vida. Ali, bem no meio do seu coração. E aí, uma vez feita a invasão, só resta torcer para que a construção tenha vista para a felicidade...
Por que não?

Da série: "a pergunta que não quer calar..." 105

Alguém lembra de um episódio, unzinho, que seja, no qual o plantão da Globo foi usado pra dar uma notícia boa?

25.1.12

Nós, a mídia, Rio e o Oscar...

Assim que soube da indicação da música do filme "Rio" ao Oscar de Melhor Canção Original, fiz um comentário que rendeu polêmica no Facebook. Escrevi o seguinte:
Alguns amigos entenderam a mensagem como uma espécie de depreciação do Oscar. E, mais que isso, argumentaram que a indicação não tem a função de atestar a qualidade das produções nomeadas - no caso, a canção composta por brasileiros.
Como aqui o espaço é maior, volto ao tema. Sei da importância do Oscar, claro. E, obviamente, não sou louco de questionar o talento, a competência e os méritos de Sérgio Mendes e Carlinhos Brown, os compositores da canção-tema ora indicada à premiação. O que me impressiona, sempre, é a abordagem de uma notícia como essa. Soa ufanista demais; praticamente uma galvaobuenização de um fato que, isolado, não vai mudar a história da produção audiovisual brasileira. Falta, a meu ver, deixar claro à população qual o sentido dessa categoria do Oscar, quem vota e o que, a rigor, ela representa dentro do universo hollywoodiano. Mostrar a indicação como uma conquista e, pior, dar à entrega do Oscar um tom de final de campeonato, sim, me parece uma atitude colonialista. Coisa de time com complexo de segunda divisão, que vive querendo uma oportunidade para ser reconhecido. Como se desse reconhecimento, via Oscar, dependesse o futuro da música e da produção cinematográfica no país. Over demais, não acham?
Além disso, algo que ia postar ontem, também no Facebook, mas preferi guardar aqui pro blog. "Rio" tem todos os méritos que a tecnologia pode dar, é um filme bem feito, alegre, colorido, feliz. Mas, fica a reflexão: o Brasil, e a Cidade Maravilhosa, em especial, aparecem na tela exatamente da mesma forma que Walt Disney mostrava, 50 anos atrás, nos célebres desenhos do Zé Carioca. Um grande estereótipo! Somos o país da banana, do samba, da floresta, da mulata e dos malandros. Em pleno terceiro milênio, Hollywood olha pra nós e nos enxerga do mesmo modo que éramos vistos na metade do século passado. E nisso, sinceramente, eu não sei se dá pra achar tanta graça...

24.1.12

Sim, todo amor é sagrado...


Beto Guedes estava coberto de razão ao pensar nesse verso. Há algo de santo nesse sentimento que nos transforma, que muda o compasso das batidas do coração, faz nossa respiração degringolar e que pode, de uma hora pra outra, mudar nossa vida.
De mãe, de pai, de irmão, de avô, de avó, de amigo, de casal...
Sim, todo amor é sagrado!
E exatamente por concordar tanto com o verso de "Amor de índio", acho que pecam feio aqueles que jogam fora um amor por conta das mentiras e das demais oscilações de caráter. E não se trata de um pecado de cunho religioso, sequer de uma infração que possa gerar qualquer tipo de punição divina. Não é nisso que creio. A meu ver, esse pecado representa uma espécie de atentado que flagela o próprio autor, esse ser errante que, num ato de fraqueza, joga fora toda uma história, um vida, os sonhos, todas as conquistas e o que havia por conquistar.
Triste é perceber que não são raros os casos em que esses pecadores passam a vida a se lamentar pelo que tinham de precioso e descartaram...

17.1.12

Aquele abraço...


Ao contrário do que diz a canção famosa, tudo não continuava lindo. Pelo contrário: tudo estava cinza, amargo, triste. Não havia sorrisos iluminando o lugar e, sim, lágrimas que pendiam daqueles dois rostos. Uma cena estranha, já que sempre foram tão habituados a rir juntos...
Pedidos de desculpas, palavras secas, gargantas unidas por um mesmo nó. Não havia dúvidas: tudo anunciava o fim. Mesmo assim havia cordialidade, carinho, até. Talvez, algum resquício de tudo o que puderam viver antes. Talvez, receio de tornar ainda mais dolorido aquele momento. Talvez, a certeza de, em instantes, tudo viraria apenas memória.
De pé, na penumbra, abraçaram-se. Soluçavam, e o ruído parecia traduzir a agonia daquele amor. Sim, eram aqueles os momentos finais de uma longa história, de idas e vindas, escrita por algum autor que não conseguiu criar um fim melhor que toda aquela mágoa. Poderiam ter dito muita coisa e seria tudo verdade: as saudades que já sentiam, a torcida para que fossem felizes mesmo distantes, as dificuldades para viver com a lacuna que um deixaria na vida do outro, o desejo de que tudo fosse diferente, a esperança de que um dia, quem sabe, as coisas voltassem a ficar bem...
Pensavam e sentiam tudo isso. Mas nada disseram. Afastaram-se e, ato contínuo, puseram-se a secar um o rosto do outro. Havia muito afeto ali e era difícil demais perceber tão entristecidos os olhos que sempre desejaram ver cheios de alegria. Olhos que, por tanto tempo, viveram repletos de amor.
Ligados por esses olhos úmidos, despediram-se sem testemunhas. Era fim de madrugada, hora em que sequer sol e lua têm definidos seus lugares no céu. Momento perfeito para encerrarem uma história que também não tivera plateia.
A luz entrou apenas quando a porta foi aberta. E foi embora quando ela se fechou, levando consigo metade de tudo aquilo. À outra metade coube mergulhar na escuridão, esperando o momento em que o sol voltasse a iluminar seu caminho. 
Por ora, sabia apenas que isso não aconteceria ao amanhecer...

16.1.12

Da série: "a pergunta que não quer calar..." 104

Veja a foto e responda:


Marília Gabriela, por que óculos tão grandes? E tão...roxos???
Cartas para a redação.

15.1.12

Pra minha cálega...

Quem diria que eu, que brincava de apresentar o Jornal Nacional quando criança, um dia ia parar na frente das câmeras? E quem diria que, uma vez na TV, encontraria uma parceira com o mesmo sobrenome, nascida e criada no mesmo bairro, que estudou na mesma escola?
Pois é...a vida nos traz muitas surpresas!
Por obra e graça delas, parei naquela redação e tinha a missão de trabalhar diretamente contigo. E hoje, passado esse tempo todo, acho bacana dizer coisas que nunca te disse. Você, toda durona, foi, sempre, muito paciente. Muito empenhada em me ensinar como aquela engenharia toda funcionava e em me fazer dominar esse processo. Foi muito compreensiva nas vezes em que os problemas da vida me tiraram o foco, como quando me separei e deixei claro que não tinha condições de cumprir os prazos acordados. Ou quando minha vó morreu e precisei ficar uns dias fora...
Sabe, cálega, eu acho que você me adotou. Por ver em mim qualidades que eu nem sabia possuir, mas, talvez, também por saber da importância dessa adoção para alguém que tem uma história como a nossa, que vem de onde viemos e que agarra as oportunidades com todas as unhas e dentes disponíveis. Sou grato de verdade, viu?
Mas nem tudo foi poesia - como, aliás, eu nem acho que deva ser. Não foram poucas as vezes em que, mesmo sendo seu subordinado, discordei de você - sendo até mais veemente do que mandaria o bom senso - e acho que daí nasceu essa confiança que, hoje, temos um no outro. Porque o tempo nos deu essa certeza de que não há reservas e nem pudores para que a gente atue com sinceridade e transparência nessa nossa louca rotina, seja na frente ou atrás das câmeras.
O tempo também nos fez mais próximos, mais cúmplices, mais amigos. Não são poucas as vezes em que a gente percebe no ar o que o outro está pensando, o que é um forte sinal dessa sintonia que nos une. Diante das câmeras, isso resulta harmonioso, integrado. Longe delas, faz o convívio mais fácil e divertido. E faz com que a gente seja uma dupla complementar. Acho que é esse o segredo, viu?
Então, nesse teu dia, além de agradecer por tudo isso que já disse, quero te agradecer por ter se tornado essa amiga leal, carinhosa (do seu jeitinho, claro!), e por permitir que eu também passasse a fazer parte da sua vida.  Quero te dar os parabéns por ser a profissional que você é, mas, mais que isso, por ser guerreira, batalhadora, engraçada e divertida - e por estar se permitindo cada vez mais experimentar a graça e a leveza que estão por trás dessa fama de durona. É tudo casca, sua boba! De ranzinza, você só tem o charme!
Um beijão, titia! Muita poesia na sua vida!
E feliz aniversário!

13.1.12

Amor em tempos de Twitter...

Dei uma passada pelos principais portais de notícias agora e uma nota publicada na home da Globo.com chamou a minha atenção...
Sei pouquíssimo sobre o rapaz e menos ainda sobre a moça em questão. Mas o que me fez pensar mesmo foi a exposição que as redes sociais propiciam nesse momento universal que é a dor-de-cotovelo. Aquela hora triste, que a gente viveu, vive ou viverá um dia, independente da idade, da cor, da condição social, do time, da orientação sexual, da nacionalidade e de ser ou não fã e telespectador assíduo do Big Brother Brasil...
Não critico o que o Pe Lanza fez. Mas acho curiosa essa necessidade de expor os sentimentos assim, de forma tão pública. E essa não é uma característica exclusiva dele. Eu já fiz isso aqui por inúmeras vezes, de modo, digamos, mais discreto, menos direto e muito mais anônimo - até porque não uso roupas coloridas, não canto e nunca namorei uma atriz. Bom, pelo menos, que eu saiba, nenhuma era profissional!
O fato é que amor e desamor são experiências universais, que comovem e, portanto, interessam a todos. Não há quem nunca tenha se identificado com um filme ou com uma música falando das tais coisas do coração. O novo é a possibilidade de qualquer mortal deixar isso registrado na rede. E aberto a julgamentos, opiniões e relativizações tão úteis quanto o célebre processo de enxugamento do gelo.
Como já disse, eu já fiz isso. Já vivi momentos de sofrimento e escrevi inúmeros posts aqui.  Escrever textos nesses momentos é quase terapêutico, funciona como parte do processo de recuperação dos dissabores dessa vida. Mas, além de publicar no blog, também já compartilhei momentos dessa natureza nas incensadas redes sociais, sempre com cuidado pra não dizer nada além daquilo que possa vir a interessar os diferentes tipos de amigos que mantenho nesses espaços. Mas aprendi que essa não é uma escolha que me faça bem. Há gente com que a gente simplesmente não deve compartilhar nada além de alegria. Há pessoas que, mesmo travestidas de amigáveis, não merecem saber dos nossos problemas, pelo simples fato de estarem mais preocupadas com o próprio umbigo ou com a necessidade de julgar, classificar, especular e rotular todos os que estão à sua volta. E, não raro, ainda se arvoram a ridicularizar, tripudiar em cima da fragilidade alheia, esquecendo-se de que, cedo ou tarde, o universal pé na bunda também irá lhes acertar.
Se fosse amigo do Pe Lanza, sugeriria que ele guardasse sua dor para os ombros dos amigos verdadeiros. E a protegesse dos olhos de curiosos. Sairia mais fortalecido e resguardado.
E, claro, se fosse amigo do Pe Lanza, saberia, enfim, se isso é nome, sobrenome ou apelido...


12.1.12

Sobre Dercy de Verdade...

As Dercys de mentirinha: Fafy Siqueira e Heloísa Perissé...

Venho de uma família na qual os palavrões são vistos com naturalidade. São parte do discurso oral, permeiam causos, piadas, conversas leves, desabafos. Não são ofensivos, porque, quando usados - e são muito! - jamais surgem com a proposta de melindrar alguém.
Acho que essa é a razão de, desde muito criança, admirar tanto Dercy Gonçalves. Ver aquela senhora na TV, tão deliciosamente anárquica e desbocada, produzia em mim uma sensação de identificação. Era como se Dercy fosse da família, agisse e se comportasse como nós. Com o passar dos anos, pude perceber que, além daquele escracho todo, a longeva atriz também trazia uma marca única! Entre todos os atores de comédia do país, Dercy se destacava: não há quem confunda o estilo dela com o de qualquer outro comediante brasileiro. E isso não é pouco...
Quando ela morreu, falei dessa admiração aqui.
Por isso, vi com entuasiasmo a iniciativa da TV Globo de produzir uma microssérie sobre a vida de Dercy. E como não poderia deixar de ser, a produção logo se revelou um programão. Primeiro, pela acertada escolha do elenco. Helóisa Perissé e Fafy Siqueira já demonstraram ter entrado em perfeita sintonia com a aura da personagem real, embora, em alguns momentos, Perissé soe um pouco caricata demais. Mas não é nada que comprometa seu desempenho, convincente tantos nos momentos de comédia como nas cenas dramáticas.
Em cena, Fafy resulta curiosa: célebre pelas imitações de outro grande humorista, Ronald Golias, ela parece personificar a cruza desses dois gênios do humor nacional. E o resultado é perfeito: o tempo, a respiração, o jeito ansioso e as famosas repetições de palavras, marcas das falas de Dercy, estão todos na tela.
A anunciada utilização dos palavrões nos diálogos foi mesmo um acerto. Alguém seria capaz de imaginar uma Dercy pudica? Além disso, pesa a favor do roteiro o fato de, ao menos até o momento, esses palavrões não terem surgido gratuitamente na tela. São usados com perspicácia, pontuando falas naturalmente, como bem sabe quem tem o hábito de utilizá-los na vida real. 
O ponto negativo, a meu ver, é a opção por um formato tão micro. Mostrar 101 anos de vida em quatro capítulos está longe de ser tarefa das mais simples e, mesmo com todo o talento e a competência da dupla Maria Adelaide Amaral e Jorge Fernando - autora e diretor da série - os capítulos têm apresentado um ritmo acelerado demais, e episódios interessantes da vida da estrela passam na tela sem maiores explicações - o que ficou ainda mais evidente no segundo capítulo, exibido ontem. Deixa gosto de quero mais, o que talvez seja interessante, uma vez que o resultado das gravações será transformado em um filme previsto para estrear em 2013.
Apesar do ritmo frenético, considero Dercy de Verdade uma das boas surpresas desse início de ano televisivo. Uma homenagem justa e merecida, a começar pela excelente abertura da série, na qual Dercy aparece como o primeiro nome do elenco. Um reconhecimento para a estrela que, nos últimos anos de sua longa trajetória, acabou por ficar rotulada como a velhinha sem-vergonha e desbocada que aparecia na TV dizendo cobras e lagartos. Dercy foi muito mais que isso. E, felizmente, ainda que de maneira tão veloz, o público está podendo descobrir.

11.1.12

Tirando a poeira...

Por cinco anos, enfrentei diariamente o desafio de vencer a página em branco que se apresentava diante dos meus olhos. Não raro, superei essa adversária mais de uma vez ao dia, postando, aqui, textos sobre coisas que via, lia, ouvia...coisas que sentia. 
Mas 2011 foi diferente. Por uma série de razões, eu me vi vencido pela página vazia. Foi como se os acontecimentos que se sucediam na minha vida analógica canalizassem minha atenção, meu pensamento, meus sentimentos de tal forma que, mesmo nas vezes em que decidia parar para escrever sobre eles, acabava por me sentir cansado...deles!
O afastamento do blog me fez mal. Gosto de cultivar esse espaço como o agricultor que cuida, vela e se orgulha da sua roça. Gosto de plantar minhas ideias aqui, de percebê-las crescendo nos comentários - ou nas respostas via twitter e facebook, marcas desse tempo de tantos links. Vivi essa seca com a mesma agonia dos sertanejos que acompanham o minguar de suas plantações. Ano estranho esse que passou. Aqui no B@belturbo, nada mais foi que um período sem chuvas, marcado pela terra seca e rachada.  Infértil.
O bom é que, como dizia na canção o grande Nelson Ned - com o perdão do trocadilho, claro - "tudo passa, tudo passará...". E aquele 2011 tão infrutífero se foi!
Portanto, esperem um blogueiro mais presente nesse 2012 - apesar do atraso deste primeiro post. Quero voltar a plantar - e a colher. Já não sinto sob meus pés a terra tão seca e rachada e o cheiro de chuva demonstra que os tempos de estiagem não vão demorar muito para ficar definitivamente pra trás!
Quem quer se molhar? Vambora tomar banho de chuva?
Feliz 2012, turma!!!