15.12.14

Sobre a possível saída de Xuxa da Globo...

Xuxa fora da Globo? Emissora e assessoria da apresentadora ainda não confirmam a informação


A notícia da não renovação do contrato de Xuxa pela TV Globo sacudiu a internet nesta segunda. Ainda não confirmada, a informação gerou enorme repercussão nas redes sociais e Xuxa é trending topic no Twitter desde a publicação da nota, pelo Notícias da TV. Tanto barulho já permite supor que - se confirmada - a decisão da emissora pode não ser a mais acertada. Mesmo fora do ar desde o início de 2014, Xuxa é uma das artistas mais populares - e queridas - do país. Tem carisma, fãs e atrai anunciantes. Faltou, até aqui, competência para colocá-la à frente de uma atração que se encaixe ao seu perfil - e ao perfil desse imenso público.
A história da TV demonstra que falta tato ao lidar com grandes ídolos tidos como "ultrapassados". Chacrinha e Dercy Gonçalves já foram dispensados pela Globo, lá atrás, depois de ajudarem a consolidar a liderança do canal, por serem considerados popularescos demais para o chamado "padrão globo de qualidade". Hebe, mais recentemente, teve seu vínculo interrompido com o SBT - a despeito da sua enorme identificação com a rede de Silvio Santos - por não dar mais a audiência dos áureos tempos. Nos casos de Chacrinha e Dercy, a Globo se arrependeu anos depois e repatriou os artistas, trazendo-os de volta à telinha; oportunidade que o SBT não teve, dado o avançado estágio do câncer de Hebe Camargo, morta um dia depois de assinar um novo contrato com a emissora que era a sua cara. Outro astro de grandeza inquestionável, Chico Anysio também ficou na geladeira global até o fim da vida. Xuxa, ao que parece, será a protagonista de mais um capítulo dessa história...
Acho que há uma clara falta de posicionamento de Xuxa no atual contexto da televisão brasileira. Num momento em que as grandes redes investem cada vez menos em programas para as crianças, não faz sentido insistir em falar para o público infantil. Por outro lado, afastada de adolescentes e jovens dede que deixou o comando do Planeta Xuxa, a apresentadora perdeu o poder de influência sobre o público mais maduro. Xuxa ficou numa espécie de limbo: não fala mais para as crianças e se afastou dos "altinhos" que cresceram com ela. Um problema? Sim. Só há comunicação com interlocução - e se não há quem ouça, não há a necessidade de alguém que fale. Mas esse é um problema que pode ser solucionado reposicionando a apresentadora e criando para ela um formato capaz de atrair e reconquistar a audiência. O sucesso do Planeta Xuxa, que vem sendo reprisado pelo Viva, é prova mais do que clara de que há, ainda, muito espaço para a loira na TV. Ela só precisa soar interessante para a plateia, coisa que seus últimos programas jamais foram capazes de fazer. E aí, justiça seja feita, a culpa não é só da estrela.
Fica aqui um palpite: se a notícia for confirmada, aposto: Xuxa vai fazer barulho e sucesso onde quer que vá. 
A conferir... 

EM TEMPO: acabo de descobrir que fui bloqueado pela Xuxa - ou pela sua equipe - no Twitter. Alguém deve ter ficado xatiado com alguma piada que fiz por lá. Bobagem. Não dá pra se levar a sério o tempo todo. Mas esse pequeno incidente (diplomático) não me faz mudar minha opinião. Xuxa é estrela de alta grandeza da televisão brasileira. Merece respeito e reconhecimento. Seja qual for o caminho que estiver pela frente, toda a sorte do mundo pra loira...

14.12.14

Eu ♥️ música...

Esse post surgiu da foto, tirada hoje, 13/12/2014, no show da Ivete Sangalo aqui no Rio. Postei no instagram e, depois, achei que tinha sentido publicar aqui também. Lá vai...
Acho que a música nos arrepia não por acaso. Ela nos toca porque nos lembra do que temos de melhor. Porque nos faz lembrar daquele beijo gostoso, da voz da mãe, dos amigos queridos com quem tantas vezes dançamos e cantamos juntos, daquele lugar inesquecível, daquele amor que se foi - ou que ficou congelado no tempo. A música nos faz rir e chorar. Nos faz pular e cair na fossa. Nos contagia e nos deprime. A música nos faz mais humanos. Nos une, nos energiza. E é uma energia tão boa, mas tão boa que não há quem não se contagie. Seja qual for o estilo, seja de quem for a voz, sejam a cadência e o estilo que forem; não importa: onde houver música, vai haver gente feliz. 
Eu sou feliz e canto. E hoje, na hora dessa foto, agradeci por isso. 
Viva a música!

2.12.14

Sobre a professora Vera Gissoni...



Quando eu entrei para a universidade, já conhecia a história da professora Vera. Minha família é da região do Barata, em Realengo, e todos testemunharam a luta dessa educadora para realizar seu sonho. Nos anos 60, numa escola simples, com uma única sala, ela era merendeira, professora e diretora. Fazia tudo: da sopa, preparada com legumes levados pelos alunos, ao planejamento pedagógico. Era aquilo que hoje em dia se chama de multimídia mesmo! Pois bem, em 1998 entrei para a universidade e recebi a encomenda de ajudar a pensar num telejornal para o curso de Jornalismo da UCB - a Universidade Castelo Branco, que era aquilo em que havia se tornado a escolinha simples, de uma só sala. Então, há 15 anos, na hora de dar forma ao "Jornal da Castelo", eu defendi que tivéssemos um bloco com grandes entrevistas. E sugeri que ela fosse a primeira entrevistada, por acreditar que histórias de luta e de vitória são sempre inspiradoras... 
Sempre que há poder em jogo, há milhões de ressalvas, claro. A sugestão dividiu opiniões mas, no fim, foi aprovada. A assessora de imprensa da universidade gostou da ideia e, como estávamos iniciando os trabalhos, lá fomos nós para uma sala apertada - que fazia as vezes de estúdio - sem ar condicionado, com luzes de teatro - quentíssimas!!! - para gravar a entrevista com a chanceler da universidade. Gravamos um longo depoimento em que, entre outras coisas, ela contou que sempre telefonava para a universidade de manhã cedo e no fim da noite para saber se os alunos tinham entrado e saído com tranquilidade. No fim, desligadas as câmeras, disse que adorou a conversa. 
Eu também tinha adorado! Foi a minha primeira grande entrevista e confirmei, ali, minha vocação para ouvir e ajudar a (re)contar histórias...
Dali pra frente, virei uma espécie de "correspondente dos eventos da professora Vera": sempre que ela participava de alguma cerimônia, lá estava eu! E dia a dia, que acabamos nos aproximando. Ela me chamava de "meu filho" - como fazia com todos os alunos - oferecia pão-de-queijo sempre que me encontrava na fila da cantina e, nas festas, antes de subir ao palco, pedia para que eu guardasse alguns salgadinhos - quibes, em especial - para garantir o seu lanche pós-discurso.
Foi assim que a minha admiração só cresceu. A mulher que tanta gente temia; a dona da universidade, a chanceler; a "dona Vera"; comigo sempre foi um doce. E me deu a maior prova de carinho quando aceitou ser minha madrinha de casamento, por conta de uma emergência, apenas uma semana antes do casório. A professora Vera foi a primeira a chegar à igreja, me cumprimentou com o maior dos sorrisos quando cheguei e foi só elogios ao falar de mim pra minha mãe. Na última vez em que estivemos juntos, viu as fotos da cerimônia, me parabenizou, convidou para passar um fim de semana na sua casa de veraneio e me desejou muitas felicidades...
O casamento acabou, professora. Mas sigo sendo feliz. Sigo conhecendo e reportando trajetórias bonitas como a sua e acreditando na força motivadora das histórias de luta, perseverança e trabalho. Sigo acreditando que o trabalho é capaz de nos trazer a realização de nossos sonhos mais íntimos. E acreditando que eles - os nossos sonhos - têm o tamanho da nossa fé. Foi assim, sei, que sua única sala de aula virou uma universidade. E foi assim que ser jornalista deixou de ser minha brincadeira de menino, meu sonho de adolescente e se tornou minha grande paixão.
De certa forma, professora Vera, essa lição eu aprendi também com a senhora...
Fique com Deus.

11.11.14

Estou lendo a terceira biografia de Michael Jackson! É grave?

Michael, na coletiva de lançamento da turnê "This is It", em Londres: no livro, autor relata que integrantes da equipe do cantor o encontraram completamente bêbado, momentos antes de aparecer em público para encontrar os jornalistas...


Minha admiração por Michael começou, claro, pela música. Também já contei aqui do fascínio que seus clipes despertavam quando eram lançados no Fantástico, nos idos dos anos 80/90. Mas, conforme os escândalos passaram a ganhar mais espaço na vida do artista, sua personalidade e os fatos que o cercavam passaram a parecer tão interessantes quanto a própria obra que havia sido construída por ele. O Rei do Pop vivia num mundo em que tudo era superlativo: o sucesso, a fama, a ruína, a bizarrice e a loucura. Ninguém fez tanto sucesso quanto ele em todo o mundo. E, proporcionalmente, ninguém teve a vida tão vasculhada, ridicularizada e exposta...
A primeira biografia que li, logo depois da morte de Jackson, foi "Michael Jackson - a magia e a loucura", de J. Randy Taraborrelli. Foi uma leitura agradável, que me apresentou ao (controverso) universo do artista que mudou de cor diante dos olhos de todo o planeta. A segunda biografia, "Meu amigo Michael", de Frank Cascio, foi um relato mais afetivo, de alguém que conviveu com o Rei do Pop muito proximamente. Frank Cascio foi uma das crianças que o mundo se habituou a ver cercando Michael Jackson onde quer que fosse. Mais que isso: a família Cascio era uma espécie de família adotada pelo artista, diante da impossibilidade de qualquer relacionamento minimamente convencional com os demais Jacksons. Por ser escrito por alguém que viveu tão perto do popstar, o livro é mais emotivo, oferece uma pintura mais sentimental, que nos ajuda a entender como deve ter sido difícil ser Michael Jackson.
Pois bem. Agora estou às voltas com "Intocável: a estranha vida e a trágica morte de Michael Jackson", de Randall Sullivan, jornalista americano que iniciou o texto como uma reportagem para a revista "Rolling Stone". Diante do imenso volume de acontecimentos que marcaram os 50 anos vividos pelo personagem principal do que seria a matéria, Sullivan se viu obrigado a contar tudo sem as limitações de espaço impostas por uma revista. O resultado? Uma obra de quase 900 páginas - 129 delas de referências bibliográficas e outras 32 de fotos. Pra mim, o maior, mais completo e mais fascinante trabalho de pesquisa sobre a vida do artista.
O autor optou por não obedecer a uma ordem cronológica ao construir sua narrativa - o que, a bem da verdade, pode confundir leitores mais dispersos. Mas o resultado é um texto fluido, saboroso, e rico em detalhes - alguns, assustadores! Quem poderia imaginar que o homem mais famoso do mundo tinha um pote de vidro cheio de próteses de nariz, cercado por tubos de cola, em seu quarto? Segundo Sullivan, Michael tinha as próteses porque lhe faltava o nariz original, arruinado depois de uma série de sucessivas rinoplastias cujo número sequer se pode precisar. Ainda no campo das plásticas, o livro contabiliza que, num período de 10 anos, o Rei do Pop alterou cirurgicamente a própria fisionomia entre 10 e 12 vezes - algumas vezes, com um intervalo de poucas semanas entre uma intervenção e outra. No texto, o leitor descobre que a pele de Michael esteve tão sensível que, num acidente doméstico enquanto brincava com um dos filhos, seu lábio simplesmente "desabou"ao ser atingido.
Mas os detalhes não se limitam à estranha obsessão do astro com sua aparência - numa busca irrefreável para apagar qualquer traço que o fizesse enxergar o pai ao se olhar num espelho. "Intocável" também apresenta elementos que permitem compreender como a família era vista por Michael, ao descrever as inúmeras vezes em que o artista se recusou a receber parentes em sua casa. Ou ao detalhar como ele orientava membros de seu staff a impedirem a aproximação de familiares; à exceção da mãe, por quem nutria uma espécie de idolatria. O livro também descreve como a família enxergava Michael Jackson e, nesse aspecto, a declaração de um dos entrevistados é definitiva: "Eles o viam como um caixa eletrônico!". Impactante, a frase me pareceu ganhar ainda mais sentido em uma passagem em que o autor revela que, para comparecer a um show em homenagem aos 30 anos de carreira do Rei do Pop, pais e irmãos de Michael exigiram o pagamento de cachês milionários; mesmo para os familiares que iriam apenas sentar na plateia do Madison Square Garden para ver a apresentação.
A amizade com Liz Taylor também é tema de passagens interessantes, em que é possível perceber que, por mais que amasse o amigo, a eterna Cleópatra parecia gostar muito mesmo dos presentes caríssimos que ele lhe dava. E esse é um dos pontos que permitem entender como, surpreendentemente, um artista tão rentável como Michael Jackson mergulhou numa profunda e inacreditável crise financeira a partir de meados dos anos 90. Às voltas com ações judiciais de toda ordem, acordos milionários para livrá-lo de processos e dívidas que cresciam abastecidas pelo seu oneroso - e insustentável, mesmo para ele!!! - padrão de vida, Michael Jackson chegou a ter seu único cartão de crédito - sem limites - bloqueado pela American Express, o que o obrigou a passar uma temporada escondido em New Jersey, morando de favor com os filhos na casa da família Cascio - aquela do autor de uma das biografias que citei nesse post. O endividamento crescente, aliás, foi o grande argumento para que sua equipe convencesse o astro a voltar aos palcos para uma série de 10 shows na O2 Arena, em Londres, no verão de 2009. Michael demorou a concordar - estar no palco não era mais algo que o atraísse minimamente. Foi confrontado pelos administradores de sua carreira - e de suas dívidas - que provaram que os shows eram a única saída para evitar a falência e a liquidação de seu patrimônio - que incluía o catálogo dos Beatles. Com o aval de Michael e diante da demanda pelos shows, os empresários fizeram novos cálculos e concluíram que, para serem realmente lucrativas para o artista, o número de apresentações deveria ser aumentado para 45. Michael quase desistiu da empreitada e só assinou o contrato depois de saber que Prince, por quem nutria uma estranha rivalidade, já tinha feito uma temporada de 21 shows na arena inglesa. E assim nasceu "This is It", a turnê que foi sem nunca ter sido.
Foi nessa negociação envolvendo os shows em Londres que Michael exigiu, em contrato, o acompanhamento de um médico pago pelos contratantes. Hipocondríaco e viciado em analgésicos, o cantor mais famoso do pop mundial também é descrito no livro como alguém capaz de tudo para conseguir as drogas que o faziam sentir melhor; o que envolvia um sofisticado sistema de aquisição de receitas, prescritas para pacientes de variadas identidades. O abuso das drogas - sobretudo dos analgésicos - levou Michael a uma dependência que, muitas vezes, o deixava com a expressão indiferente; como se não estivesse conectado à realidade. E que, em junho de 2009, foi decisiva para abreviar uma carreira que tentava se reconstruir, depois que a arte cedeu o lugar para os escândalos na vida de Michael Jackson...
Ainda não terminei o livro, mas tô realmente gostando muito! E se você também gosta do Rei do Pop, recomendo! 

27.10.14

Viva o Nordeste!!!


Tenho sangue nordestino nas veias: meu pai era de Natal, capital do Rio Grande do Norte. Se não fosse carioca e se não amasse tanto a minha cidade, escolheria Salvador pra viver. Pela beleza de suas praias, pela comida maravilhosa, pelo astral que a gente sente no ar assim que chega, por ter dado ao país tanta gente boa pra fazer música, pelo carnaval que adoro, pelo povo festeiro e carinhoso! E aí, meu rei, se morasse em Salvador, eu seria uma espécie de desbravador do nordeste...
Sim, porque se morasse em Salvador, eu estaria sempre na bela Aracaju, iria me esbaldar vez por outra em Mangue Seco, curtiria finais de semana na bela Fortaleza ou em João Pessoa...
Iria sempre ao Recife, terra linda, que dizem ser a mais bonita da América Latina, lugar de tantos amigos amados. Passaria sempre em São Luís, pra lembrar das cores, cheiros e sabores que só o Maranhão tem. Passaria os feriados prolongados em Maceió, o Caribe brasileiro, dona do mar mais bonito que pode existir: cristalino, quentinho e acolhedor. 
Se morasse em Salvador, meu sangue nordestino ia me levar a conhecer Teresina, capital do Piauí, única parte dessa região tão fantástica que ainda me falta visitar.
Eu amo o nordeste! 
Hoje, se há algum verdadeiro motivo pra se estar de luto, me desculpem, é a exacerbação de tantos e tão deploráveis preconceitos nessa rede social.
E se você, meu amigo, minha amiga, está de luto e não é preconceituoso, um alerta: você está se perdendo num mar de gente que destoa de tudo aquilo que se pode julgar como admirável; está usando o mesmo rótulo que está sendo usado por gente que tá por aqui propagando o lado mais degradante do ser humano...
Viva o Nordeste! 
Viva o povo nordestino! 
E viva o Brasil!!!

7.10.14

Não sou PT...


A gente vive um período muito curioso. Todos somos rotulados seguindo uma lógica muito cartesiana: se não é isso, é aquilo. Pois bem. Escrevo isso pra dizer que acho curioso que vários amigos me rotulem de "petista". Não sou PT - e digo isso não por achar que seja algo desabonador sê-lo. Apenas não o sou, como não sou vascaíno, não sou casado e nem sou vegetariano.
Não votei num candidato do PT para a assembleia legislativa. Não votei num candidato do PT para a câmara dos deputados. Não votei num candidato petista para o governo do estado e tampouco votei num candidato do PT - ou apoiado por ele - para o senado. Não sou PT e nem acredito nessa lógica em que um partido parece estar acima de tudo.
Acontece que, embora eu não seja PT, também não sou cego e muito menos insensível. Também não sou "desinformado", como os eleitores do PT foram (des)qualificados pelo ex-presidente FHC, em quem, aliás, já votei. Petista vota em tucano?
Pois bem, não sou PT, mas conheço o Brasil que está além dos telejornais e das páginas de revistas e jornais. Conheço um Brasil que a mídia tradicional não cobre e que está longe dos grandes centros. Um Brasil em que os sonhos e as oportunidades estão chegando a lugares que o restante do país só costumava associar à miséria e à fome. Vejo um país que assistiu a uma expansão do ensino superior inédita. Que assegurou - e segurou - trabalho e renda em meio a uma das piores crises internacionais de todos os tempos. Um país que não é mais tutelado pelo FMI. Esse novo Brasil, no qual quem nunca sonhou em sair da própria cidade viaja de avião; em que filho de pedreiro faz mestrado e em que manicures podem ver seus filhos fazendo intercâmbio no exterior; em que há cada vez mais negros nas universidades; esse país, meus amigos, me parece muito mais nosso - de TODOS - do que o país de antes. E, sinto muito, foi num governo petista que tudo isso se tornou possível.
Há problemas? Há. Muitos. E não só aqui: no mundo todo. Mas ainda acho os avanços muito mais consistentes. E, por eles e diante deles, vesti vermelho e votei com gosto ontem para manter Dilma na presidência. Para que mais brasileiros e brasileiras possam ter mais oportunidades. E para que assim, no futuro, ninguém possa usar a classe social como justificativa para tentar desmerecer a escolha democrática de cada um de nós.

28.7.14

Sobre a crise no Sindicato dos Jornalistas do Rio...


Desde as manifestações de junho de 2013, o trabalho da imprensa vem sendo muito questionado. Algo salutar, claro. Sociedade democrática é aquela que tem imprensa livre e que conta com uma pluralidade de vozes. A cobertura pensada por grandes veículos, aliás, foi muito criticada por colegas da própria imprensa, que também atentavam para uma morosidade de jornais, rádios e emissoras de TV em "ler" o que vinha das ruas. Termos como "vândalos", inicialmente utilizados amplamente, deram lugar a palavras como "manifestantes", "ativistas" e afins. Os tumultos ocasionados nas passeatas continuaram a ser mostrados nas matérias, que, no entanto, passaram a diferenciar quem reivindicava melhorias para a sociedade de quem estava nas ruas para depredar patrimônio público e/ou privado. A violência policial - que atingiu repórteres, cinegrafistas, fotógrafos e muitos manifestantes - também foi vastamente denunciada pelos grandes veículos de comunicação, bem como por aqueles que faziam, nas ruas, cobertura em tempo real do que acontecia a cada protesto.

Num desses protestos, Santiago Andrade, cinegrafista a serviço da Band, foi alvejado e acabou morrendo. O rojão, segundo a polícia, foi disparado por jovens que manifestavam. Os jovens foram encontrados, presos e acusados formalmente pelo homicídio. E esse episódio inflamou ainda mais os ânimos. A imprensa passou a ser cada vez mais intimidada a cada nova passeata, a cada manifestação. Vários colegas foram agredidos, tiveram seus equipamentos danificados. Carros de emissoras de TV foram incendiados; num confronto que, a meu ver, expõe o fraquíssimo alicerce sobre o qual está erguido o conceito de democracia defendido pelos manifestantes.
Vale dizer que, à essa altura, as passeatas já não mais reuniam 1 milhão de pessoas. Os ativistas diziam que a "mídia comercial" ou "mídia tradicional" tentava esvaziar as manifestações. O fato é que as imagens de violência praticada por jovens com os rostos encapuzados assustaram a sociedade - e, desculpem os críticos da mídia, se elas foram captadas e transmitidas, é porque eram registros de fatos! A morte de Santiago não foi fruto da maquinação de um roteirista. Os incêndios e depredações não são fruto da criatividade do departamento de efeitos especiais de nenhuma emissora de televisão, sabemos todos. Infelizmente.
Acontece que, à medida em que o clima ia se tornando mais belicoso, a atual diretoria do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Rio parecia mais acovardada em assumir que os profissionais da imprensa estavam sendo hostilizados, ameaçados e agredidos enquanto exerciam seu ofício. A direção do sindicato divulgou uma série de notas que mais confundiram do que explicaram. Notas em que pouco - ou quase nada - defendeu a categoria a qual deveria representar. Uma crônica de equívocos que teve o ápice na semana passada, com uma entrevista coletiva de ativistas - e pais de ativistas - realizada dentro da sede do sindicato, um dia depois de mais um episódio em que manifestantes usaram de violência para impedir o trabalho da imprensa. Dentro do sindicato que lhes deveria representar - e defender - jornalistas ouviram impropérios e ameaças de jovens e de seus familiares. Um episódio lastimável, que virou notícia e teve grande repercussão, dado o absurdo da situação.
Hoje, um grupo de jornalistas se uniu para pedir a destituição da atual diretoria do sindicato. O grupo utiliza um abaixo-assinado, instrumento legítimo, democrático e, assim, procura exercer o seu direito de ter uma direção que faça valer a confiança e que exerça, de fato, seu poder para representar os interesses da categoria. Assinei, apoio e torço muito para que tenhamos sucesso nessa empreitada.
Li algumas críticas ao momento que vivemos. Críticas ao abaixo-assinado, críticas ao fato de se querer destituir uma diretoria democraticamente eleita (acho que os críticos se esquecem de que se isso fosse ilegítimo, o país não teria afastado um presidente). Gente que respeito e admiro. Gente que defende a democracia, como eu. Mas gostaria de ver essa mesma gente se posicionar sobre as agressões aos jornalistas. Isso é democrático? É legal? É justo? Gostaria de ver essa mesma gente que cobra a retidão da polícia e do inquérito que investiga as manifestações - ideais que também defendo - dizer se acha mesmo que a melhor forma de criticar o trabalho da imprensa é descendo a porrada em seus profissionais. Gostaria de ver essa mesma gente que está defendendo ativistas - como se fossem todos muito inocentes - se posicionar sobre os comerciantes que tiveram suas lojas saqueadas e incendiadas nas manifestações. Isso pode? Isso é legal? É nessa mudança de mundo que se quer acreditar? É assim que se quer construir uma sociedade mais justa e democrática?
Se for, não acredito nesse novo modelo! Acredito em diálogo, democracia e em instituições sólidas; como a imprensa livre e a justiça. Instituições que estão longe da perfeição, é bem verdade, mas que podemos ajudar a aperfeiçoar cotidianamente, usando nosso poder de argumentação, nosso dinheiro e nosso controle remoto. Não gosta do jornal, não leia! Não concorda com a linha editorial da emissora de TV, não assista! Não assine seus canais fechados! Vá se informar pela "mídia independente". Ferindo os grandes grupos no bolso, talvez seja possível pressioná-los a rever suas linhas editoriais. Agora, se você relativiza tapa na cara, xingamento e soco em profissional da imprensa e continua vendo novela, BBB e o raio que o parta, aí você é um revolucionário de sofá. E eu lamento muito! Porque pode chegar o dia em que a sua profissão esteja em xeque e algum manifestante se ache no direito de dar na sua cara para protestar. Será o dia em que você estará colhendo os frutos podres no quintal da sociedade escrota que ajudou a construir...

15.7.14

Memórias de uma Copa inesquecível...



Nos últimos 30 dias, cheguei ao cúmulo de me surpreender buscando alguma emoção em Irã e Nigéria - sem encontrá-la, claro! Disse "adíos"aos campeões da Espanha na primeira fase; sequei as pimenteiras da Itália e da França, vibrei com o progresso da seleção dos Estados Unidos e me diverti com a alegria contagiante da torcida do Chile - até o jogo em que eles enfrentaram o Brasil e promoveram um teste gratuito de 200 milhões de corações pentacampeões. Foi um mês de múltiplas descobertas, em que percebi, por exemplo, que Argélia e Costa Rica têm seleções com uma raça que a gente se acostumou a ver na turma que consagrou a amarelinha...
Por falar na seleção canarinho, fui torcendo, aos trancos e barrancos, empolgado pelos passos vacilantes que nossa equipe dava nos campos. No começo, disseram que restavam sete degraus. Chorei com o hino cantado por aquelas torcidas anêmicas - no tom da pele e no comportamento. Seis degraus. Vibrei com os pênaltis agarrados por Júlio César e também me emocionei quando ele, depois do jogo que valeu por um check-up completo, deu uma entrevista em que pareceu, enfim, respirar livre das culpas carregadas desde a África do Sul. Cinco degraus. Procurei Fred em campo, torci por um gol dele, mas jamais consegui avistá-lo. Quatro degraus restantes. Fui contagiado pela cara de guerreiro medieval do David Luiz, que entrava em campo como os gladiadores que precisavam matar leões no Coliseu. Três degraus. Xinguei juiz ladrão, fiz figa contra o time adversário. Faltavam só dois degraus. Sofri com a fratura do Neymar e, no dia em que aconteceu o inimaginável, morri de rir! Degraus? O Brasil se estabacou escada abaixo, num tombo histórico pra videocassetada nenhuma botar defeito! Metralhada, nossa seleção virou piada. Aliás, virou um Zorra Total inteiro, só que engraçado! Uma edição antológica, cheia de anedotas inspiradíssimas que chegavam sem parar pelo whatsapp e pelas redes sociais. Vi de um tudo! Ri como nunca! É, a #copadascopas teve o #micodosmicos...
Restou secar a Argentina na final. E vibrar como se tivesse nascido em Berlim com o gol tardio da Alemanha. Torci pro Galvão gritar "é tetra", tranquilo por saber que, nessa história - apesar da goleada imposta pela seleção vencedora - ainda somos os maiores campeões...
Pra mim, sem dúvida, foi uma copa inesquecível! Deixou muitas lembranças deliciosas, de reuniões muito divertidas com amigos, de farra nas areias de Copacabana, das interações com visitantes das Filipinas, do Chile, da Argentina, do Irã, da Alemanha...! Uma gente que abria um sorriso típico de quem se sente em casa. Uma gente surpreendida com a beleza do nosso país e do nosso povo. Povo plural, que viu sua diversidade reconhecida na "dança pataxó" da seleção alemã, em pleno gramado do Maracanã. E, como não acredito em coincidências, vale lembrar que Maracanã é uma palavra de origem... indígena! 
Eu acho que o Brasil ficou muito bem nessa foto! E o mundo reconheceu a nossa alegria como a maior riqueza que temos. Que possamos aproveitar todo esse potencial para fazermos um país melhor a cada dia, agora que a vida vai voltando ao normal. 
Já sinto saudades da Copa!
Já espero pelas Olimpíadas de 2016! 
E aposto que a gente bota pra quebrar de novo!!!


11.6.14

Pela leveza do amor...

Li ontem que ruiu parte da grade da Pont des Arts, onde os amantes prendem cadeados para segurar - ou assegurar ? - paixões. A ponte parisiense não suportou o peso dos milhares de objetos depositados no gradil por turistas do mundo todo...
Turistas do mundo todo querendo que seus amores durem para sempre. 
Amores presos?
Sempre?
Perguntei no Facebook se o romantismo também ruira, ou se o amor é pesado demais. Um amigo retrucou, dizendo que o amor não pode ser aprisionado. Quando o é, pesa.
Espertalhão esse amigo! Mas desconfio que o amor ande mesmo pesado. Por isso, talvez, esteja se arrastando por aí, desencontrado de tanta gente. Pesam sobre seus ombros as escolhas, as abdicações necessárias para que possa caminhar sereno, tranquilo. Pesam sobre suas costas o egocentrismo, a intolerância e a impaciência; que acabam por inviabilizar um mergulho mais profundo num olhar outro, num ser outro e num outro ser. Pesam atados às pernas do amor o imediatismo e o descarte fácil, que acabam por motivar os envolvidos a deitar fora o que lhes parece como algo - alguém ? - sem serventia...
Pesa, enfim, sobre a cabeça do amor um conflito entre o que aqueles que parecem buscá-lo dizem que fazem e a forma como de fato agem. 
Pobre amor esse do nosso tempo. Com todo esse peso, como vai poder lembrar a todos nós que bom é amar com leveza, sem cobranças, angústias, ansiedade? Como vai nos mostrar que amor não é mar de rosas full time; que requer investimento, dedicação, paciência, sinceridade? Como vai provar que amar é uma escolha diária, um compromisso que se reafirma cotidianamente, dentre muitas opções que a vida oferece? É renunciar a algo que até pode parecer encantador, por crer que muito mais encanto tem o que se pode construir juntos, com afeto, parceria e sinceridade.
Não tenho as respostas. Mas, assumo: torço pra ver o amor novamente leve, e andando de mãos dadas com um monte de gente boa que tá por aí, com as mãos enfiadas no bolso. Ou com a cara enterrada no celular, enquanto não encontra olhos que pareçam mais interessantes, encantadores, desafiadores, atraentes e divertidos que a tela do Facebook...

8.4.14

E Valesca caiu na prova...

Polêmica envolvendo questão que trazia versos de funk aponta para a necessidade de nossa sociedade dar tiro, porrada e bomba no preconceito...
Desde ontem só se fala nisso no Facebook. A prova de filosofia aplicada pelo professor Antonio Kubitscheck, do Centro de Ensino 3 de Taguatinga, em sua turma do 3º ano do Ensino Médio. Uma foto postada nas redes sociais trazia uma questão em que os alunos precisavam escolher a alternativa que completasse os versos do sucesso "Beijinho no Ombro", da funkeira carioca Valesca Popozuda. Pronto! Foi o bastante!
Li muito sobre o assunto, fiz alguns posts sobre o caso, mas o Facebook não serviu para extravasar tudo o que penso sobre o caso. Não é de hoje que entrevisto professores e pesquisadores que relatam um fenômeno: nossas escolas - e não falo apenas das brasileiras, muito menos só das públicas - parecem instituições do século XVIII. Paradas, imutáveis, as escolas não têm conseguido despertar o interesse de jovens extremamente conectados, capazes de desempenhar várias tarefas ao mesmo tempo, cada vez mais autônomos nos seus processos de desenvolvimento de habilidades múltiplas. Parece bobagem? Não é! Essa realidade implica numa longa, séria e necessária discussão sobre o papel da escola do nosso tempo; sobre a atuação do professor e sobre que tipo de cidadãos queremos formar. 
Pois bem, muitos desses mesmos especialistas assinalam para a importância de que o professor esteja sensível à realidade do aluno. Onde vive? Como vive? Quais são seus gostos? O que consome em termos de cultura? Que cultura produz/reproduz? Para esses pesquisadores, somente por meio do real entendimento do aluno e da realidade em que ele está inserido será possível que o professor estabeleça um diálogo, capte o interesse de crianças e jovens e possa, enfim, desempenhar seu papel educativo. O professor, entende-se, não é mais um transmissor de informações. Ele é mediador! Ele está entre o aluno e o conhecimento. E não há mediação sem troca, sem partilha. Trata-se de um processo permanente em que os sujeitos dão e recebem; dividem saberes para somar conhecimentos. 
Portanto, minha gente, o que o professor Antonio Kubitscheck fez de errado? Ao julgar seu trabalho por um recorte descontextualizado de um teste, erramos todos nós. O professor pode estar brincando? Pode! Aquela pode ter sido uma espécie de "pegadinha"? Sim! Mas também pode ser parte de uma ampla discussão travada em sala de aula. Sobre cultura, sobre a banalização da violência - já que os versos falam sobre "tiro, porrada e bomba", sobre...o que os alunos ouvem. Ou seja: pode haver ali uma discussão muito mais ampla e rica do que essa rasa argumentação de quem acha que "escola não é lugar de ouvir ou de falar de Valesca Popozuda".
A própria cantora se defendeu nas redes sociais. Sagaz, apontou o dedo para a ferida: há muito preconceito envolvido nessa discussão. Se fosse qualquer outra letra, de qualquer outro estilo musical, muito provavelmente a repercussão não seria essa. Acrescento: certamente não seria lançado sobre o trabalho do professor esse olhar pejorativo que paira desde que a notícia ganhou espaço nas redes e nos grandes portais noticiosos. Quem nunca fez uma prova em que um trecho de música tenha sido parte de uma questão que atire a primeira pedra! Ou que dê o primeiro tiro, porrada...ou jogue a primeira bomba!
"Ah, mas isso não é música que preste", dirão alguns. "Isso não é música", afirmarão outros. "Valesca Popozuda é ruim demais, não é cultura", sentenciará outra parte. Aí é que mora o perigo. Tratar o popular e o erudito segundo uma lógica hierarquizada é um equívoco histórico, que traz mais prejuízos que ganhos. A escola pode - e, a meu ver, deve - discutir Valesca Popozuda, Anitta e o que mais vier para dentro do seu cotidiano. É essa a realidade em que muitos dos alunos estão inseridos. Conhecer essa realidade, respeitá-la e, a partir dela, abrir um canal para apresentar outras manifestações da cultura é o caminho para que o professor consiga ter êxito em seu diálogo com os alunos. Mostrar que as expressões da cultura popular são reconhecidas na escola pode contribuir para que a sintonia com os estudantes seja, pouco a pouco, reconquistada. Ninguém gosta de se sentir menos, de se sentir menor. Imaginem como se sentem os alunos que percebem que seus gostos, suas músicas, suas preferências e seus hábitos são considerados "de um nível inferior" no cotidiano escolar...
Por fim, um alerta: essa história toda mostrou muitos críticos, muitos juízes, muitos dedos apontados, ávidos por condenar o professor e por definir o que é cultura. Vi gente que, como eu, também veio das classes populares, de família simples, virar as costas para essas origens e descer o sarrafo no que vem do povo. Turma, se preconceito já é terrível quando parte de quem não conhece a realidade em questão, pra mim, torna-se ainda pior quando vem de iguais. E mais: torna-se ainda mais cruel quando quem condena não tem elementos, conhecimento e informações suficientes para opinar. Educação é coisa séria! O professor é um profissional sério, merece respeito. Estudou para estar ali. Condenar esse profissional e seu trabalho sem sequer ter elementos para tanto é, esse sim, um enorme sinal de falta de preparo, falta de cultura e falta de educação. Sinal de que a escola em que vocês estudaram pode até não ter utilizado versos da Valesca Popozuda em provas, mas, certamente, pecou na construção de alguns valores fundamentais.

PS.: Beijinho no ombro.

6.4.14

Alianças

Em que fração de segundo foi determinado que seguiríamos estradas distintas? E as promessas? E os sonhos, para onde foram todos? E nossas mãos dadas, os filhos que geramos em nossas mentes? E a planta baixa de nossa casa, os passeios de domingo, as noites em claro pra cuidar das crianças que não teremos mais? E o seu sorriso encantador me dizendo o "sim" mais lindo que já ouvi na vida? E nosso beijo coreografado? E o calor dos nossos corpos se amando, e o frescor do teu olhar todas as manhãs? E tuas pernas entrelaçadas nas minhas sob o cobertor? E o teu perfume de flan, sua gargalhada esquisita e seus milhares de pares de sapatos? 
Nossa! Quantas lembranças! Aprendi com a vida que, nesse pra sempre que sempre acaba, algumas memórias ficam eternizadas...

9.3.14

Mais um ano de blog...

No início de março de 2006, quando decidi criar o B@belturbo, a internet era outra coisa. Não havia Twitter, o Facebook ainda não era um fenômeno e o Orkut - bem, nem vale a pena lembrar, quem se importa? Sim, também não vou citar o Google Plus, afinal tem gente que até hoje não sabe do que se trata... 
Enfim, naquele longínquo mês de março, criei esse espaço pra dar um destino às ideias que surgiam e não conseguia aproveitar. Passei a depositá-las aqui, compartilhá-las com os visitantes e dialogar com gente nova. Estreitei laços, conheci gente nova, ganhei admiradores, fui plagiado, um post foi selecionado para fazer parte de um livro, dei autógrafos. Postei, postei, postei...
Aí vieram todas as redes sociais. Aos poucos, as ideias que vinham pro blog foram se dividindo. Parte pro twitter, parte pro Facebook. Mas sempre que algo maior me mobilizava, era aqui que botava as ideias em ordem. 
Oito anos. Se o ritmo das atualizações não é o mesmo de antes, o carinho pelo blog é maior que nunca. Sou viciado na palavra, escrever é minha terapia, minha paixão. E tem sido um prazer visitar o arquivo e descobrir textos que ainda dizem muito de mim, do que sou e de como vejo o mundo. Há outros momentos, igualmente divertidos, em que me noto diferente do autor de outros tempos. Dores que se extinguiram, prazeres que mudaram, opiniões revistas. Novos valores, novos conceitos. Se dizem que a única constância da vida é a impermanência, o blog me mostra vivo: impermanente, em constante (re)construção. Que siga assim! Um canto meu e de quem mais quiser. Em transformação constante. Cheio de ideias. Vivo, como eu e você!

26.2.14

Acorda, Brasil!

Meus amigos me definem como um otimista. Acho que estão certos. Entre tantas formas de ver o mundo, tendo a enxergar sempre a que oferece possibilidades de avanço, crescimento. Creio na melhoria, o que não faz de mim um alienado, claro. Mas é muito difícil pensar dessa forma quando a gente se depara com uma vida real muito, muito diferente do que se acredita ser o melhor. Agora, lendo um post de um amigo, vi um comentário - de um amigo do meu amigo - celebrando a condenação de homossexuais a pena de morte em Gana. 

Sim, celebrando! 

Pode ser uma brincadeira idiota apenas, mas não me engano: muita gente pensa assim. Muita gente acha que as diferenças devem ser eliminadas sempre - como se isso resolvesse problemas criados por ideologias, não pelas pessoas. É gente que quer ver gay morto, pobre exilado em favelas cada vez mais distantes e inóspitas, beneficiários do Bolsa Família voltando a passar fome sem o benefício e menores infratores sendo linchados em praça pública - como voltou a ocorrer hoje. Isso só pra citar alguns exemplos. Gente que coloca o próprio umbigo acima de qualquer valor humanista e que afasta, de pronto, qualquer possibilidade de diálogo e de entendimento com o que lhe parece diverso. Essa gente desorientada que  não vê incoerência entre vaiar o prefeito e celebrar o carnaval atrás do bloco que a prefeitura patrocina - achando o máximo o fato de a folia ter crescido tanto aqui no Rio nós últimos cinco anos. Uma gente de quinta que briga por tudo, que destrata, maltrata e não se retrata. 

Acorda, Brasil. Se o país é essa merda toda, é porque sobra esterco no DNA de todos nós. E não precisa de laboratório nenhum pra constatar: e só sair na rua pra ver. Ou navegar um pouco nas redes sociais...

13.2.14

A política na era das redes sociais x o caos da informação e das opiniões

Se um amigo turista, capaz de entende português, abrisse o Facebook e fosse ler os meus feeds teria imensa dificuldade para fazer uma leitura racional dos últimos acontecimentos. Isso porque as redes sociais se converteram numa miscelânea de leituras - todas pretensamente politizadas - do momento atual. Um post, compartilhado por uma famosa colunista de O Globo, atribui a Dilma, Cabral e Eduardo Paes a "infiltração de baderneiros nas manifestações". Outro, lança dúvidas sobre a isenção de Marcelo Freixo, do PSOL, e aponta para uma suposta leniência da legenda em relação aos "black blocks". Muitos se arvoram no papel de peritos e duvidam da identidade do rapaz de camisa cinza, divulgando - sem parcimônia - fotos de um outro rapaz, como se fosse esse - até então desconhecido - o responsável pelo lançamento do rojão que atingiu e matou Santiago. E por aí vai...
Entendo a avidez pela "verdade". Mas acho que esse furor, potencializado pelo poder e pela velocidade da informação compartilhada em tempo real pode causar muito ruído. O rapaz da camisa cinza, por exemplo, postou um longo desabafo no próprio Facebook, reclamando do compartilhamento de sua foto e alertando para o fato de ter sido acusado sem provas. "Virei bandido?", pergunta. Se quisesse, poderia processar todos os que compartilharam suas imagens e lhe atribuíram a responsabilidade por algo de que se alega inocente.
Quanto ao uso político das manifestações, nitroglicerina pura. Mas supor que, em ano eleitoral, a presidenta da república esteja por trás das ações violentas desses manifestantes me parece uma hipótese fantasiosa - para dizer o mínimo. Será que os defensores desse argumento não imaginam que Dilma será questionada pelos oponentes exatamente pela inda de protestos violentos que tomaram o país? Esqueceram como o governo se mostrou surpreendido pela violência das mesmas manifestações, o que provocou, inclusive, um pronunciamento em cadeia nacional? Isso tudo é desgaste, gente. Desgaste que a presidenta enfrentou ao se posicionar publicamente sobre o tema - o que, aliás, ela tem feito muitas vezes desde então.
Cabral, que parece ter desistido de governar há tempos, sinceramente não me parece em vantagem ao orquestrar um plano como esse. Toda a sua impopularidade só tem crescido desde o início das passeatas. Adicionar à essa mistura um punhado de violência arruinaria ainda mais sua imagem. Seria a pá de cal sobre toda e qualquer pretensão política futura. 
Eduardo Paes tem a simpatia de boa parte do eleitorado. Pode mudar, mas ainda é assim - sobretudo nas comunidades e no subúrbio. O aumento das passagens de ônibus, definido por ele, está na origem das manifestações cariocas. Mas a impressão que se tem é a de que, apesar de tudo isso, o prefeito atravessa esse momento conturbado sem grandes prejuízos em sua imagem. E isso se deve ao caos vivido pelo carioca por conta das obras para as olimpíadas, às constantes mudanças no trânsito e a outras ações que transmitem à boa parte da população a ideia de que o prefeito está fazendo o seu trabalho. 
Freixo, cujo nome apareceu no noticiário numa manchete que envergonha qualquer jornalista sério, parece realmente correto demais para usar recursos tão odiosos em nome de uma eventual chegada ao poder. Se tem um pecado - e, na minha opinião, talvez seja esse seu calcanhar de Aquiles - foi não deixar claro para a opinião pública que seu apoio se limitava aos manifestantes que foram vítimas de ações violentas da polícia, e que, portanto, não se estendia a black blocks saqueadores de loja, depredadores de agências bancárias e afins. Por boa vontade e, talvez, por uma certa inocência política, acaba tendo o nome vinculado a ações que desagradam o eleitorado que poderia migrar para sua candidatura nas próximas eleições. Resta saber como vai virar esse jogo...
Mas há outros importantes atores políticos em jogo. Gente que quer sepultar Cabral, desestabilizar Paes e inviabilizar Freixo. Há de tudo. A coisa é sempre mais complexa do que parece. Por isso, a meu ver, é preciso ter muita cautela antes de sair compartilhando qualquer coisa por aí. Sem querer,  podemos estar cumprindo exatamente um script elaborado por gente da pior espécie, com as piores intenções. 
Mas essa é apenas a minha opinião...

1.2.14

Sobre aquele beijo de Niko e Félix...

Sinal dos tempos: dois homens se beijaram em horário nobre pela primeira vez no Brasil ontem
Walcyr Carrasco é um grande autor. Em seu currículo estão sucessos como "Xica da Silva", "O Cravo e a Rosa", "Chocolate com Pimenta", "Alma Gêmea" e "Caras e Bocas". Êxitos que o credenciaram a entrar no rol seleto dos autores que escrevem para o principal horário de novelas da Globo. A estreia foi morna. Não fosse pelo absoluto acerto na construção de Félix e pelo estupendo desempenho de Mateus Solano na defesa do personagem, talvez a novela tivesse se perdido num mar de tramas um tanto quanto frágeis. Mateus Solano levou a novela e deixou na história da TV brasileira um grande tipo, uma criação que será lembrada por muito tempo.
Com 221 episódios, depois de esticada em quase dois meses - o usual é que as novelas das nove tenham 180 capítulos - "Amor à Vida" conseguiu o improvável: promover a conversão de um vilão em protagonista! Detestável ao longo de 80, 85% da trama, Félix se arrependeu dos seus pecados e se tornou ainda mais querido pelo público. Ganhou um amor e, outrora conservadora, a audiência comprou a ideia e passou a torcer pelo happy end do ex-vilão. A pergunta que pairava no ar, no entanto, era: haverá beijo gay?
Horas antes da exibição do último capítulo de "Amor à Vida", ontem, críticos de televisão já especulavam sobre a exibição da cena envolvendo os personagens de Mateus Solano e Thiago Fragoso. Mais que isso: alguns apontavam que a direção da TV Globo estava decidida a romper esse paradigma, derrubando o tabu que ganhou força desde 2005, quando uma cena de beijo da novela "América", entre os personagens de Bruno Gagliasso e Erom Cordeiro foi surprimida por ordens dos executivos do canal horas antes da transmissão do episódio, frustrando a autora, Gloria Perez, e os demais envolvidos na produção.
Ontem, o Brasil viu um beijo gay em horário nobre. De casa, ouvi gritos de uma torcida anônima, da qual sequer poderia imaginar a existência. Postei isso no twitter e recebi mensagens relatando episódios idênticos em várias partes do Rio, do Brasil. Por telefone, minha mãe contou que foi assim também perto da casa dela. Vejam vocês! Em tempos de tanto preconceito, em tempos cheios de crimes de ódio, há um Brasil que torce pelo amor! E que não se importa se ele une pessoas do mesmo sexo ou não.
Mais do que um desfecho coerente para uma história bem construída entre dois personagens carismáticos, o beijo tem um relevante papel social: ele naturaliza a expressão de uma outra forma de amor, de uma outra possibilidade de ser, de existir e de amar. Há um Brasil que já sabia de tudo isso. Há um Brasil que fingia não ver isso. E há um Brasil que quer negar isso. Ontem, simultaneamente, esses três Brasis viram isso. Hoje, crianças não amanheceram gays. Maridos não largaram suas esposas para ficar com outros homens. Não houve registros de episódios de depravação em locais públicos. Houve, sim, muita gente enaltecendo a beleza do amor, do respeito e da aceitação. Gente impactada pelo beijo sim, mas também - e talvez ainda mais fortemente, pela linda cena final de "Amor à Vida", quando César, o pai homofóbico, aceita e declara seu amor pelo filho gay, fazendo Félix chorar copiosamente. Uma cena antológica, das mais delicadas que a teledramaturgia brasileira já conseguiu produzir. Aliás, vale dizer que quando Walcyr Carrasco apresentou à direção da TV Globo a sinopse de "Amor à Vida" a trama se chamava "Em nome do Pai". Ontem, terminada a exibição do desfecho da novela, percebi que o título original fazia muito mais sentido que o definido para substituí-lo. 
Depois da exibição da cena entre Félix e Niko a Central Globo de Comunicação divulgou uma nota afirmando que a cena acompanha o momento histórico que vivemos. Taí uma verdade: com atraso, sobretudo em relação ao que já vemos nos canais fechados, o beijo de ontem retrata outros tempos, de maior entendimento sobre a diversidade. Um entendimento que está relacionado aos avanços das políticas de Estado, às recentes decisões judiciais e à luta árdua dos militantes sociais, abnegados defensores dos direitos humanos e do respeito à pluralidade. 
O Brasil de 2014 é muito, muito melhor que o de 2005! E quero crer que o Brasil do futuro, daqui a 10, 20, 30 anos, será infinitamente superior ao país que temos hoje. 

23.1.14

Eles riem de nós...

Em foto estampada na capa do Extra de hoje, o secretário de transportes dá uma gargalhada ao conversar com o presidente da SuperVia, empresa responsável pelo nó ferroviário que parou o Rio ontem...


O que acontece no sistema de transportes do Rio de Janeiro é uma temeridade. Talvez seja essa a área mais vergonhosa, a mancha mais difícil de apagar, encravada na alma de cariocas e fluminenses ao longo desses oito anos de governo do Cabral. Desde o bondinho de Santa Teresa, que viveu uma tarde de trem fantasma, matou gente e jamais foi recuperado - ao ônibus que desabou de um viaduto - também deixando vítimas fatais; passando pelas sucessivas falhas operacionais da SuperVia e do Metrô Rio, o que se vê, cotidianamente, nas ruas, avenidas, trilhos e túneis é a mais perfeita tradução do descaso... 
Por isso, confesso: não fiquei chocado ao ver, na capa do Extra de hoje, a gargalhada do secretário Júlio Lopes, flagrada ontem, horas depois do apagão que paralisou a circulação dos trens. A gargalhada desse senhor, logo substituída por aquela cara de puta arrependida que tantos políticos sabem fazer para tentar nos convencer de sua dor; aquela gargalhada, meus amigos, apenas deixou ver o que pode parecer, para muitos, apenas suspeita: eles riem. Eles não se importam com a gente. Eles tratam o contribuinte - que paga as contas dessa porcaria toda - como idiota. E acham graça! Acham graça de nos entulhar de impostos para dar desconto aos donos do monopólio de ônibus, presenteados com 50% a menos nos IPVAs da decrépita frota que circula por aí, caindo aos pedaços, emporcalhando o ar com aquela fumaça imunda, matando de calor a todos e jamais cumprindo horários ou oferecendo a menor qualidade que seja. 
Eles acham graça. Eu acho detestável! Como disse um dos heterônimos de Fernando Pessoa: "homens altos: passai por baixo do meu desprezo!"

14.1.14

A cara do preconceito!

Âncora do SBT Brasil faz comentário sobre os "rolezinhos" e desfila todo o seu rosário de conservadorismo e preconceito
Soube de um comentário de Rachel Sheherazade sobre o fenômeno dos "rolezinhos" em shoppings e me obriguei a assisti-lo. Comprovei o que já havia percebido em outras ocasiões: essa senhora me envergonha! Não é de hoje que percebo o tom conservador, quase reacionário dos seus comentários demagógicos. Rachel Sheherazade não sabe sequer para qual público fala. Afinal, as pesquisas do Ibope comprovam que a audiência do SBT está muito mais para "rolezinho" do que para os frequentadores dos "shoppings de luxo", cuja ordem e "segurança" ela parece tão empenhada em defender. Notem bem: ela se mostra incomodada com a possibilidade de que os "arruaceiros" cheguem aos centros de consumo das elites. Ou seja: considerando que há baderna, que ela fique restrita às periferias. Que vergonha! 
Que vergonha de uma justiça que permite que shoppings se voltem contra pobres - porque é isso o que esses centros comerciais farão - e, assim, justifiquem seus preconceitos. Não vai tardar para que pretos e pobres sejam barrados nesses locais apenas por essas condições. Ou por estarem de havaianas. Ou por estarem de bermudas. Ou por qualquer subjetividade que o preconceito de um idiota qualquer julgue cabível. Assim, meus caros, o que se solidifica é a realidade que todos nós já sabemos: há lugares em que os ricos não querem que os pobres cheguem! Porque não querem olhar a realidade, não querem se sentir parte dela. Querem fingir, em seus templos do artificialismo, que a diversidade não existe, e que seu mundo perfeito não inclui nada que lhes pareça diferente. Uma vergonha! 
Mas ricos escrotos não me surpreendem. O que me surpreende é que um dos poderes da nossa república enfatize essa lógica elitista, excludente e preconceituosa. Como se não houvesse outras prioridades para a Justiça do país. Ou como se não existissem outras (verdadeiras) ameaças aos direitos básicos dos cidadãos por aí - não só nos shoppings de luxo, mas no Brasil da vida real. 
Vergonha, muita vergonha!!!

8.1.14

Saga nossa

Sinto seu peito arfante, suas mãos geladas e os olhos me convidando para que possamos viver uma vez mais o que tantas outras vezes já vivemos.
Cheiro seu pescoço, mordo sua orelha e não demoro até calar sua boca num beijo. 
Mistura-mo-nos num emaranhado de braços, pernas e línguas. 
Somos só nós. 
Só nossos!
Invado você cheio de saudade, carinho...amor. Sou feliz em você. E posso sentir que também é feliz quando estou em ti. De um jeito que só nós experimentamos. Que o mundo desconhece. E que a gente jamais conseguiu explicar ou entender.
A aventura dura pouco. Mais um episódio dessa louca saga nossa. Estamos leves, livres de tudo o que de ruim poderia ainda resistir. 
Agora é só brincadeira. 
Não sei se só bagunça.
Mas só o que restou...