2.12.14

Sobre a professora Vera Gissoni...



Quando eu entrei para a universidade, já conhecia a história da professora Vera. Minha família é da região do Barata, em Realengo, e todos testemunharam a luta dessa educadora para realizar seu sonho. Nos anos 60, numa escola simples, com uma única sala, ela era merendeira, professora e diretora. Fazia tudo: da sopa, preparada com legumes levados pelos alunos, ao planejamento pedagógico. Era aquilo que hoje em dia se chama de multimídia mesmo! Pois bem, em 1998 entrei para a universidade e recebi a encomenda de ajudar a pensar num telejornal para o curso de Jornalismo da UCB - a Universidade Castelo Branco, que era aquilo em que havia se tornado a escolinha simples, de uma só sala. Então, há 15 anos, na hora de dar forma ao "Jornal da Castelo", eu defendi que tivéssemos um bloco com grandes entrevistas. E sugeri que ela fosse a primeira entrevistada, por acreditar que histórias de luta e de vitória são sempre inspiradoras... 
Sempre que há poder em jogo, há milhões de ressalvas, claro. A sugestão dividiu opiniões mas, no fim, foi aprovada. A assessora de imprensa da universidade gostou da ideia e, como estávamos iniciando os trabalhos, lá fomos nós para uma sala apertada - que fazia as vezes de estúdio - sem ar condicionado, com luzes de teatro - quentíssimas!!! - para gravar a entrevista com a chanceler da universidade. Gravamos um longo depoimento em que, entre outras coisas, ela contou que sempre telefonava para a universidade de manhã cedo e no fim da noite para saber se os alunos tinham entrado e saído com tranquilidade. No fim, desligadas as câmeras, disse que adorou a conversa. 
Eu também tinha adorado! Foi a minha primeira grande entrevista e confirmei, ali, minha vocação para ouvir e ajudar a (re)contar histórias...
Dali pra frente, virei uma espécie de "correspondente dos eventos da professora Vera": sempre que ela participava de alguma cerimônia, lá estava eu! E dia a dia, que acabamos nos aproximando. Ela me chamava de "meu filho" - como fazia com todos os alunos - oferecia pão-de-queijo sempre que me encontrava na fila da cantina e, nas festas, antes de subir ao palco, pedia para que eu guardasse alguns salgadinhos - quibes, em especial - para garantir o seu lanche pós-discurso.
Foi assim que a minha admiração só cresceu. A mulher que tanta gente temia; a dona da universidade, a chanceler; a "dona Vera"; comigo sempre foi um doce. E me deu a maior prova de carinho quando aceitou ser minha madrinha de casamento, por conta de uma emergência, apenas uma semana antes do casório. A professora Vera foi a primeira a chegar à igreja, me cumprimentou com o maior dos sorrisos quando cheguei e foi só elogios ao falar de mim pra minha mãe. Na última vez em que estivemos juntos, viu as fotos da cerimônia, me parabenizou, convidou para passar um fim de semana na sua casa de veraneio e me desejou muitas felicidades...
O casamento acabou, professora. Mas sigo sendo feliz. Sigo conhecendo e reportando trajetórias bonitas como a sua e acreditando na força motivadora das histórias de luta, perseverança e trabalho. Sigo acreditando que o trabalho é capaz de nos trazer a realização de nossos sonhos mais íntimos. E acreditando que eles - os nossos sonhos - têm o tamanho da nossa fé. Foi assim, sei, que sua única sala de aula virou uma universidade. E foi assim que ser jornalista deixou de ser minha brincadeira de menino, meu sonho de adolescente e se tornou minha grande paixão.
De certa forma, professora Vera, essa lição eu aprendi também com a senhora...
Fique com Deus.

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