28.3.13

E Xuxa fez 50 anos...

Blogueiro revê apresentação da loira e viaja no tempo


Xuxa fez 50 anos ontem. Muitos sites falando do assunto, muita gente comentando no Twitter e, por conta disso, acabo de ver um vídeo de uma chegada de Papai Noel, realizada no Maracanã, no fim dos anos 80. Caramba, eu tava lá!!!
Não entrei na nave da loira mas viajei no tempo! Lembrei do Maracanã lotado, balançando, da criançada louca com Xuxa, então, no auge do sucesso. Um perrengue inesquecível. E delicioso!
Xuxa nunca foi um ídolo pra mim. Via seus programas, gostava dos desenhos e das brincadeiras. De certa forma, fui um "baixinho". Até crescer e enxergar tudo aquilo com o olhar crítico que o tempo, a distância e, mais tarde, a profissão exigiram. Mas há pouco, vendo o vídeo e revivendo aquele momento, lembrei que a bunda de fora da loira nem parecia algo erótico. Xuxa era bobona, como uma prima maluca e mais velha que todo mundo tem. Lembrei que ela foi a primeira a falar - e mostrar - crianças com síndrome de Down na TV. Também foi ela a primeira a falar em LIBRAS e a bater na tecla de que era bacana cuidar dos bichos e respeitar a natureza.
Vendeu muito disco e boneca? Vendeu, claro! Mas também aproveitou todas as chances de deixar gravada uma mensagem bacana pros seus fãs pequenos. No fim do vídeo, por exemplo, deseja que todos tenham "fé e esperança em dias melhores". Pediu que todos tivessem "respeito"...
Depois, ficou cult tacar pedra na Xuxa. Também taquei as minhas. Mas, revendo o vídeo, lembrei que aquela moça loira tem seu valor na história da televisão. Achei bonito. E até lamentei por ver que, por exemplo, hoje em dia, em tempos de tanta intolerância, nossas crianças não têm alguém pregando o respeito na televisão todas as manhãs.
Eu tive.
Parabéns, Xuxa! 

17.3.13

RESENHA: "Amour"

Num dia, à mesa, em meio a uma conversa trivial, instala-se a ameaça derradeira. Silêncio, ausência e inércia se apoderam daquela companhia de toda uma vida, anunciando que nem sempre os finais são felizes...
Esse é o início do conflito que testemunhamos em "Amour", longa francês que venceu o Oscar de melhor filme estrangeiro em 2013. Na tela, acompanhamos a história de um casal de aposentados, Anne e Georges, que têm suas vidas transformadas depois que ela sofre uma complicação numa cirurgia e acaba com um lado de seu corpo paralisado. Em casa, sob os cuidados do companheiro, Anne exige que Georges prometa nunca mais levá-la de volta ao hospital. O que ninguém poderia imaginar é que, pouco tempo depois, ela passaria a sofrer as consequências de uma severa doença degenerativa...
A história é dura e o filme é cru, seco. Apesar do drama, não há sentimentalismo, não há trilha incidental para sublinhar a tragédia vivida pelos personagens. Há poucas lágrimas. O que se impõe é a história, os diálogos e todas as sutilezas usadas pelo diretor para nos levar para dentro do apartamento do casal. Confinados com Anne e Georges, sentimos suas dores, testemunhamos seu sofrimento e nos colocamos diante do que buscamos sempre enxergar como uma perspectiva longínqua: a finitude.
Emmanuelle Riva oferece ao espectador, aos fãs de cinema e aos admiradores de grandes representações uma primorosa construção (ou desconstrução?) de sua Anne. É comovente ver como, com o avançar da narrativa, ela consegue nos tocar apenas com um olhar perdido, com um grunhido lancinante ou com a contorção dos lábios, desfigurados na tentativa de pronunciar os versos de uma inocente canção infantil. Que grande atriz! E que patacoada saber que ela perdeu o Oscar para uma pretensa nova namoradeira de Hollywood. Ah, as premiações e suas históricas injustiças...
"Amour" é má bela história. De vida, de companheirismo. Uma istória de amor como não estamos mais habituados a ter por aí.
Recomendo!


16.3.13

RESENHA: "O quarteto"

Um filme sobre um grupo de músicos e cantores, idosos, moradores de uma casa de repouso, que têm a convivência alterada a partir da chegada de uma nova habitante, outrora grande estrela do canto lírico. Em linhas gerais, é assim que "O quarteto" vem sendo vendido pelas sinopses de cadernos de cultura e sites especializados em cinema. Um resumo exageradamente reducionista...
O filme marca a estreia de Dustin Hoffman na direção e oferece ao público um delicado olhar sobre o envelhecimento. É possível lidar bem com o fato de sermos podados pelo tempo? Como suportar o fato de não conseguir mais fazer o que antes parecia tão natural? Dá pra conviver com a ideia de que a cada dia passaremos a brilhar um pouco menos?
Todas essas perguntas fazem parte de reflexões universais. No longa, são potencializadas pelas trajetórias dos velhinhos artistas, donos de passados gloriosos, futuros abreviados e de um presente marcado por subtrações...
Parece amargo, deprimente? Não é! Longe disso: o filme tem momentos de boa comédia inglesa, alternados com sequências que são muito felizes ao retratar a velhice como uma fase em que, sim, é possível ser produtivo, criativo, divertido...vivo! E, sim, que enquanto estamos vivos, temos tempo de rever posturas, mágoas e sentimentos...
Deixei o cinema feliz da vida! Me vi na tela daqui a uns quarenta anos. Vi alguns amigos também. E torço pra que a gente seja, em 2053, uma turma tão animada quanto a que o filme mostra...
Recomendo!

14.3.13

Habemus Franciscum!!!

O cardeal argentino é o primeiro papa da América Latina, o primeiro jesuíta a assumir a liderança da Igreja e o primeiro a escolher o nome Francisco
Apesar de ser batizado, não me considero católico. Aliás, não me identifico com nenhuma religião especialmente. Tenho pontos de convergência com várias delas, como também guardo minhas divergências. Meu lado católico se manifesta quando rezo a Ave-Maria para me acalmar ou quando converso com Nossa Senhora de Aparecida, a quem costumo chamar de Nêga. Portanto, não sou o mais fervoroso seguidor da Igreja Católica.
Mas sou jornalista e, nesta terça, acompanhei a fumaça preta saindo da chaminé da Capela Sistina, por volta das sete e meia da manhã. Horas depois, no meio da redação, parei tudo para conhecer o rosto do mais novo ocupante do trono de Pedro...
Acho belíssimos os rituais envolvidos na escolha do papa. Há algo de fascinante numa ritualística secular. Algo que me captura, que me encanta. Para mim, testemunhar o surgimento de um novo papa é perceber a história acontecendo, é ver uma instituição milenar buscando corrigir os rumos do seu barco, ora navegando em tão revoltas águas. Por isso, vi com entusiasmo um sorridente Papa Francisco surgir na sacada da Basílica de São Pedro. Em pouco tempo, notei que o novo líder dos católicos é possuidor de um carisma muito superior ao de Joseph Ratzinger. Fui conquistado por um certo ar bonachão, que fez as moças da redação suspirarem ao constatar o teor de "fofura" do recém-eleito Bispo de Roma. E também achei bonito o gesto de humildade do papa ao pedir aos fiéis que rezassem por ele.
Mas eis que os tempos são outros, nada fica muito por baixo do pano e, minutos depois, quando o Papa Francisco já devia se preparar para dar seu longo e movimentado dia por encerrado, Twitter e facebook viraram celeiros de vaticanistas! As notícias sobre sua cumplicidade com a ditadura da Argentina e sobre posturas contrárias ao aborto e à união de pessoas do mesmo sexo pipocaram na internet.
Eu achei graça...
O que isso revela? Que o papa é conservador? Talvez! Mas também revela que nós estamos cada vez mais instantâneos. Cada vez mais reproduzimos histórias sobre as quais sequer tivemos tempo de refletir. E isso não faz de nós mais politizados ou bem informados.
A Igreja deve refletir a sociedade? Não sei. A Igreja precisa mudar? Sim, muito. Seus líderes sabem disso e, não por acaso, não elegeram papa o candidato da situação. Mas não dá pra esperar por um papa que pire na batatinha e saia concordando com todos os clamores do nosso tempo. Não é o caso! Da minha parte, se ele se mostrar favorável ao uso dos contraceptivos, combater duramente a pedofilia e a corrupção que corroem a Igreja pelas entranhas e se vier a defender suas crenças sem propagar preconceitos, já terá feito uma bela passagem pela história. Mas, acima de tudo, que ele possa ser um exemplo de que, mais do que a religião, é a fé que deve nos unir. Que possa mostrar a todos nós, a cada dia, que podemos ser melhores. Que podemos construir um mundo melhor e mais justo, em que todos possamos ser iguais. E que demonstre que quando um de nós é desrespeitado, todos saem perdendo.
Boa sorte, Papa Francisco. A luta é grande e está apenas começando...

RESENHA: "O impossível"

Em 26 de dezembro de 2004, às 7h59, a terra tremeu no fundo do mar, nas proximidades de Aceh, no norte da Indonésia. O terremoto de 9 graus na escala Richter causou o maior tsunami que o mundo havia visto em 40 anos - o primeiro de que muita gente, inclusive eu, ouviu falar. A onda avassaladora matou mais de 220 mil pessoas em 13 países. Aproximadamente 1,5 milhão de pessoas ficaram desabrigadas.
Lendo essas informações - e vendo vídeos da época - dá pra imaginar o gigantesco poder de devastação do tsunami. Mas, confesso, só vendo "O impossível", de Juan Antonio Bayona, consegui me aproximar da tragédia vivida por aqueles que estavam na área tomada pelas águas. Estrelado por Naomi Watts e Ewan McGregor - que jamais desperdiçam as boas cenas reunidas no roteiro - o filme conta a história real de uma família que, como tantas outras, estava passando férias na região e se depara com o imprevisto. Ou com o impossível...
Não darei detalhes do roteiro pra não estragar surpresas. Mas fiquei muito impressionado com a preciosa reconstituição do cenário arrasado pelas águas do tsunami. Todas as cenas relacionadas ao drama dos que foram atingidos pela onda gigante são muito bem feitas; desde a própria sequência da invasão das águas até as cenas que mostram hospitais abarrotados. Tudo muito bem cuidado, feito na medida certa para traduzir a angústia de quem viveu a dor de estar na Indonésia naquela manhã de dezembro.
"O impossível" me fez mergulhar na dor de toda aquela gente. Em vários momentos, eu me emocionei com tanta dor. Em outros, gestos de solidariedade igualmente me fizeram emocionar. Em suma: um filme tocante, que nos transporta para aquela manhã fatídica, nos faz imaginar a dor dos tantos que passaram por toda aquela tragédia e, mais que isso, nos faz pensar que, às vezes, o impossível acontece.
Eu recomendo!

10.3.13

Leme indomável

A gente acha que controla tudo. Que bobagem! Uma hora, quando menos se espera, vem a vida e dá uma pernada. Bagunça nossos dias, revira nossos sentimentos, desperta novos amores e ódios, faz mágoas antigas darem lugar a novas...reorganiza tudo e nos mostra quem é que está no comando do leme...

8.3.13

Sete de março: um dia vergonhoso para a política nacional!

É estarrecedor ver o autor de declarações racistas e homofóbicas eleito para presidir a Comissão de Direitos Humanos da Câmara Federal. É constrangedor perceber que a reação calorosa da sociedade - sobretudo dos movimentos sociais - sequer foi considerada por aqueles que ocupam cargos de representação.
Pergunto: a que esses senhores representam?
Não me sinto representado por quem cala diante de um fato tão sério. Não me sinto representado por quem impede que manifestantes se posicionem na casa do povo. Não me sinto representado por quem compactua com uma eleição que tem como marca inicial uma total ruptura com os ideais propostos por uma comissão tão importante: o respeito aos direitos humanos, sobretudo das minorias historicamente subjugadas por um país tão excludente.
Pergunto: que direitos defenderá uma comissão presidida por um senhor que se referiu aos negros como "amaldiçoados"?
Não me sinto representado por alguém que aparece, em vídeo, cobrando que um fiel passe a senha do cartão de débito para que o milagre desejado seja efetivado por Deus. Não me sinto representado por quem aceita motos como donativos em cultos religiosos. Não me sinto representado por quem faz varejão da fé alheia!
Pergunto: como não sentir vergonha de ser brasileiro nesta quinta-feira, sete de março de 2013???

6.3.13

Doutora Flávia...

Ao contrário do que diz o clássico sertanejo, eu aprendi a dizer adeus. Ainda é doloroso, ainda é difícil, mas sei que essa hora existe e - infelizmente - sempre chega...
Duro é quando não há tempo para esse adeus. Quando não dá pra dar o último abraço, um beijo, pra rir junto das bobagens da vida, ou pra oferecer o ombro nas horas de lamento. Duro é ver a vida nos negar essa oportunidade de dizer um até breve...
Há pouco, soube que uma amiga querida se foi. Estávamos distantes, mas o carinho por ela e sua família sempre foi grande. Não lembro de nosso último encontro. Não lembro de quando a vi sorrir pela última vez. Não lembro de muita coisa e isso é triste. É triste e faz pensar que, deixando o barco da vida correr, a gente também deixa mais frouxos os laços; deixa passar as oportunidades de estar perto. Deixa irem embora momentos que jamais poderemos viver de novo...
O que conforta é saber que, no nosso tempo, do nosso modo, naquele convívio tão intenso, festivo e feliz, a gente se curtiu muito! A gente se divertiu muito! E a gente riu muito! São essas as memórias que quero carregar comigo; agora somadas ao carinho e às saudades...
Fique bem, Flávia. Um dia a gente se encontra de novo...

1.3.13

Non habemus Papam!

Sou de uma geração que viu um papa carismático e midiático permanecer no trono de Pedro até o fim da vida, quando seu sacrifício era mais que evidente. João Paulo II, fragilizado pelo Mal de Parkinson, foi até o fim no papel de sucessor de Pedro.
Hoje, ver o helicóptero da república italiana sobrevoando Roma e levando o Papa para longe do Vaticano, foi uma imagem forte. Há algo de dramático nessa desistência, algo que permanece insondável para quem está fora dos salões onde são decididos os rumos da igreja. Há, também, algo de fascinante na renúncia de Bento XVI - ineditismo, provavelmente - que fez, como tem noticiado a mídia italiana, o agora Papa Emérito se tornar popular como nunca havia sido entre os romanos.
Abatido, com a voz enfraquecida e o rosto afinado pelos quilos perdidos nos últimos tempos, Joseph Ratzinger adquiriu as feições de avó que seu antecessor sempre ostentou. Parece mais humano, mais próximo. A feições, antes tão duras, soam dóceis. As palavras, mais carinhosas.
Entre as milhares de pessoas que resolveram se despedir do papa, também foi possível notar reações mais calorosas. Se esse foi um pontificado morno, teve um fim mais apaixonado. Sim, ao que parece, Bento XVI só conseguiu se aproximar verdadeiramente dos seus fiéis no momento em que resolveu deixar vago o posto de líder dos católicos...