Sou de uma geração que viu um papa carismático e midiático permanecer no trono de Pedro até o fim da vida, quando seu sacrifício era mais que evidente. João Paulo II, fragilizado pelo Mal de Parkinson, foi até o fim no papel de sucessor de Pedro.
Hoje, ver o helicóptero da república italiana sobrevoando Roma e levando o Papa para longe do Vaticano, foi uma imagem forte. Há algo de dramático nessa desistência, algo que permanece insondável para quem está fora dos salões onde são decididos os rumos da igreja. Há, também, algo de fascinante na renúncia de Bento XVI - ineditismo, provavelmente - que fez, como tem noticiado a mídia italiana, o agora Papa Emérito se tornar popular como nunca havia sido entre os romanos.
Abatido, com a voz enfraquecida e o rosto afinado pelos quilos perdidos nos últimos tempos, Joseph Ratzinger adquiriu as feições de avó que seu antecessor sempre ostentou. Parece mais humano, mais próximo. A feições, antes tão duras, soam dóceis. As palavras, mais carinhosas.
Entre as milhares de pessoas que resolveram se despedir do papa, também foi possível notar reações mais calorosas. Se esse foi um pontificado morno, teve um fim mais apaixonado. Sim, ao que parece, Bento XVI só conseguiu se aproximar verdadeiramente dos seus fiéis no momento em que resolveu deixar vago o posto de líder dos católicos...
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