23.1.13

Rio Hudson

As fotos traduzem momentos em imagens. Mas eu, que tiro tantas e tão diversas fotografias, tenho pensado que há muito de "não dito" nessas traduções. O que escapa à imagem, o sentimento por trás do clique. Tudo vira uma paisagem, às vezes, um sorriso. E acaba se igualando a tantas outras fotos, de tantas outras paisagens e sorrisos. É essa memória que quero preservar com essa série de posts. Se todos são autobiográficos? Pouco importa. O que importa é que todos são, pra mim, a mais perfeita tradução do que escapou a esses instantes memoráveis que, até hoje, guardava apenas em imagens...



Ali, à margem do rio, vi que água e céu se encontravam num cinza que parecia não ter fim. No meio, a fina linha do horizonte - igualmente acinzentada - mostrava que o que separa coisas tão semelhantes, certas vezes, é apenas a sutileza de uma linha. Uma linha de raciocínio, um traço de personalidade, um risco que se resolve correr e que, só depois, percebe-se que não era nada compensador...
Olhando aquela paisagem de chumbo, notei que também era cinza o meu céu. Era carregado, pesado. Embora a maior tempestade já tivesse ficado pra trás, a calmaria ainda tardaria a vir. É preciso ter sabedoria para enfrentar a revolta dos dias cinzentos, pensava. Buscava na calma daquelas águas a inspiração para saber que mesmo quando a cor se faz ausente - e por mais que não seja possível entender isso - todos os tons continuam a existir em nós. Guardados, talvez. Mas estão ali, num canto qualquer. E mesmo quando tudo parece monótono como naquela paisagem, com muito mais que apenas cinquenta tons de cinza, as águas continuam a correr. A Terra segue a girar e nós, mesmo anestesiados, seguimos a caminhar. Afinal, o movimento é sempre constante...
Hoje, tantas léguas distante daquele rio pálido, sou outro. Cá no meu cais, já não enxergo mais o cinza como tom predominante. Tudo voltou a ter cor e o sol voltou a brilhar, intenso, no meu firmamento. Sim, sinto o céu aberto sobre mim, seus raios iluminam novamente minha existência e seu calor me lembra, a cada instante, que os dias nublados ficaram pra trás, ficaram pra longe. E cá do meu cantinho, mais perto das águas salgadas do que das doces e cinzentas águas daquele rio, posso dizer, finalmente,  que voltei a nadar a favor da correnteza...


Um comentário:

Helio disse...

As madrugadas tem feito bem pro seu blog, hein... inspiração total! Massa o texto! Abs!