Um grupo de evangélicos tentou invadir o Congresso para protestar contra a aprovação do projeto de lei que criminaliza a homofobia no Brasil. Os protestantes - aqui, com duplo sentido - alegam que querem ter o direito de criticar a homossexualidade.
O que é isso, minha gente?
A matéria da Folha é chocante! Um dos trechos traz a polêmica declaração de um pastor da Assembléia de Deus, Jabes de Alencar. Segundo o jornal, o religioso teria dito: "Senhor, sabemos que há uma maquinação para que esse país seja transformado numa Sodoma e Gomorra. Um projeto desses vai abrir as portas do inferno".
Eu pergunto: se essa declaração não é discriminatória e preconceituosa, como ela pode ser classificada? O que estaria o pastor pregando ao dizer isso?
Eu respondo: certamente, não era o amor e a igualdade entre todos os filhos de Deus.
Os seguidores dessas religiões alegam que querem ter preservado o direito à crítica ao que insistem em chamar de 'homossexualismo'.
Crítica? Não são os mesmos evangélicos que, vira e mexe, sentem-se alfinetados por parte da mídia? Não são eles mesmos que pedem respeito para suas crenças - e o fazem com legitimidade? Não são os evangélicos que se organizaram politicamente, inclusive, para garantir preservados e respeitados os interesses ligados à fé cristã?
E como entender que esses que tanto se dizem vitimados pelo preconceito, querem impedir a aprovação de uma lei que quer, exatamente, combater esse mal? No Brasil, há centenas de homossexuais assassinados todos os anos apenas pelo fato de serem homossexuais. Não criminalizar a homofobia é, entre outras coisas, aprovar os que matam em nome dessa discordância em relação à orientação sexual de quem quer que seja. Não criminalizar a homofobia é concordar com o preconceito e com a discriminação que, tantas e tantas vezes, mancham de vermelho-sangue as páginas dos jornais e a história desse país.
Utilizar o pretexto da liberdade de expressão para não criminalizar a homofobia é, a meu ver, covardia. Uma covardia perigosa, que pode servir de argumento para quem quiser criticar e/ou ser contrário à miscigenação, por exemplo. Ou para quem cismar de criticar as religões alheias. Será que é preciso lembrar de quanto os judeus já sofreram por isso?
Lamentável!
8 comentários:
Sodoma e Gomorra? O pastor confundiu com cafona e gangorra. Isso é o que dá viver num país sem problemas: o Congresso fica ocupado com questões "menores". Ah, faça-me o favor!
Murilo... tenho até medo do meu comentário, pra não ser mal interpretada, mas vamos lá...
a) sou evangélica
b) não concordo com essas atitudes, esse tipo de violência, esse tipo de protesto... e nem todos os evangélicos concordam também tenho certeza
c) o homossexualismo é "condenado" pela bíblia, mas assim como uma série de outros "pecados"... o problema é que nós humanos inventamos uma pirâmide imaginária daquilo que é pecado "aceitável" ou não "aceitável" (não sei se me fiz clara)
d) se você me perguntar se sou a favor do hmossexualismo, diria que não, mas não condeno ninguém por isso... tenho muitos amigos que são e os respeito por isso... a opção sexual de cada um diz respeito apenas a cada um... essa frase ficou estranha, mas acho que você me entendeu... como cristã, devo amar as pessoas e não recriminá-las ou discriminá-las ou excluí-las...
e) peço sempre a Deus que tenha misericórdia das nossas vidas... porque o homem tem a natureza pecaminosa e precisa da graça de Deus
f) a promiscuidade é o que me choca - sendo a pessoa homossexual ou não... porque a promiscuidade está em toda opção sexual... e aí, sim, poderia fazer uma referência a sodoma e gomorra...
g) quanto ao 'criticar" o homossexualismo... vejamos... eu disse aqui abertamente que não sou a favor do homossexualismo... é um direito meu de expressão, de dizer o que penso e o que sinto e, não necessariamente, agredir ninguém... se isso é criticar, então, sou contra a proibição dessa "crítica"... porque tenhos o direto de expressão e de dizer no que creio, que creio na bíblia etc... agora, se o "criticar" estiver ligado ao preconceito, ao fato dos homossexuais serem discriminados, agredidos, desmoralizados, então sou totalmente a favor de que a "crítica" seja proibida... o problema é que essa linha é muito tênue...
bom, espero que você tenha me entendido... não sou a favor do preconceito... acho que todo mundo tem direito a fazer suas escolhas, mas tenho minhas crenças... e acredite, tenho meus pecados, também, que acerto diretamente com Deus, não com as pessoas que me cercam (obviamente, desde que meus "pecados" não atinjam ao próximo)
bjs
Tell, obrigado por mais esse comentário, muito lúcido, como sempre. Só que, como você mesma aponta, essa linha do que é a crítica e do que pode vir a ser uma apologia ao preconceito (homofobia) é tênue demais.
E, sinceramente, temos garantido o direito à expressão. Mas fico me perguntando se temos o direito de criticar algo tão íntimo da vida de alguém. Algo que não nos afeta diretamente em nada. Criticar alguém pelo que faz na cama me parece tão absurdo quando criticar alguém por ter a pela mais escura ou mais clara; ou por crer nessa ou naquela religião. Acho apenas descabido.
Mas, de qualquer forma, é bacana ter essa sua visão moderada. Que ajuda, inclusive, a derrubar os preconceitos sofridos pelos evangélicos.
Acho que, para vivermos em harmonia, é fundamental que todos busquem entender (e respeitar) o outro. Mesmo que amar - como prega a Bíblia - nem sempre seja possível.
Valeu!
Murilo,
respondendo sua pergunta...
não, não temos o direito de criticar ninguém pelo que faz na cama... ou por qualquer escolha pessoal que diz respeito apenas à vida de cada um... muito menos de julgar ninguém por atos ou escolhas... tanto é, que tenho amigos homossexuais que amo e convivo tanto quanto os heteros... concordo plenamente com você! por esse aspecto, acho que é totalmente descabido, sim...
e é verdade, amar ao próximo é difícil sim, porque somos demais egoístas (nós todos, seres humanos)...
bjs
Fala Murilo! Beleza?
Nossa! Faz tempo que não leio (e ouço ou vejo) discursos tão eloqüêntes sobre a questão.
Não sei se por ter uma postura muito apaziguadora, creio que assuntos como discriminação precisam SEMPRE (e mesmo) ser colocados em pauta (talvez não a exaustão, mas vir a tona, sim).
Agora, delicadamente gostaria de discordar e dizer que a linha não é tão tênue assim. Dizer que não está de acordo com algo não é criticar e sim, expressar sua opinião.
Criticar é ferir, ofender, seja moral ou fisicamente alguém. E isso é inaceitável!
Como cristão não protestante acho absurdo perde-se tanto tempo (e dinheiro) público por algo que, simplesmente, deveria ser o certo. Mas, como vivemos numa sociedade mundialmente reconhecida pelas injustiças sociais... Não devemos esperar muito.
Só não dá pra ficar calado, né?
Por último, além de parabenizar o seu blog por ser este espetacular espaço aberto a atualidade e a opinião pública, a opinião sincera e super bem colocada (e mega bem redigida e lúcida) da Tell.
Obrigado Tell, por fazer uma fala tão acertiva sobre o assunto, sem deixar-se levar por 'lugares comuns', tão comuns (Hum... Preciso ampliar meu vocabulário!) nestes momentos.
Um abraço!
Gus, briagadão por mais esse elogio. Sei que é sincero!
Abs!
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