A história dos sargentos homossexuais, capa da Época da semana passada, poderia ter contribuído para que a sociedade discutisse seriamente se há ou não homofobia e/ou preconceito dentro do Exército. Poderia ter demonstrado que dois homens - que se sentem atraídos sexualmente - são cidadãos comuns, como eu e você, leitor; e que o que fazem na cama - ou onde quer que seja - não interfere em seu desempenho profissioal. Poderia, mas...
Acho que a história se perdeu quando os sargentos foram ao "Superpop", da Rede TV!. Nenhum preconceito há na minha afirmação, mas é notório que o programa da Luciana Gimenez não prima pelo tato jornalístico na condução de pautas dessa natureza. E, pra arrematar o que já era ruim, a entrevista acabou com o Exército cercando a sede da emissora. Um episódio lamentável.
Domingo, no "Fantástico", o sargento que continua livre - e no Exército - deu declarações mais sóbrias e contundentes. O assunto foi coberto com a seriedade que exige, mas...acho que já era tarde. A exposição no palco do "Superpop", de forma geral, parece estar sendo interpretada pela sociedade como uma busca pela mídia - sim, a boa e velha vontade de aparecer - e as questões que poderiam ser levantadas com o assunto acabaram perdendo os holofotes.
Agora, é bastante curiosa essa interpretação. Porque essa sociedade que condena os sargentos por se assumirem homossexuais para todo o país é exatamente a mesma que adora especular sobre a sexualidade de celebridades e que, vez por outra, critica aqueles que, mesmo gays, preferem vivenciar essa condição apenas na intimidade; ou, se preferirem, trancafiados dentro do armário.
Afinal, de quantos paradoxos se faz uma sociedade? Quem tem a razão: o Exército ou os sargentos? E de que forma a mídia pode cobrir esse assunto - que é sério, aliás, uma vez que, além da intimidade do casal, envolve denúncias de superfaturamento de obras - sem que a história vire um carnaval ou apenas uma turbina para o vôo dos sargentos rumo ao mundo das celebridades?
Essas são perguntas que seguem ainda sem resposta. Mas a maior prova de que o assunto deve ser coberto está nos comentários dos leitores para essa matéria de O Globo. Leia e ponha a boca no mundo você também! Lá ou aqui...
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