Tenho um envolvimento com o gênero dos reality shows que, num dado momento, já foi até profissional. Por isso, vira e mexe, dou uma olhada nos rumos das novidades desse tipo.
E vendo A Fazenda, além das inevitáveis constatações sobre o ritmo do programa, indiscutivelmente arrastado demais - ainda mais quando se compara com o BBB, o maior êxito entre os realities - fico me perguntando sobre os riscos dessa proposta de confinar artistas. Porque, quando Silvio Santos ousou e lançou, lá em 2001, a Casa dos Artistas, tudo era novo demais. Agora, quando todos - anônimos e famosos - já foram alfabetizados pelo padrão de comportamento difundido ao longo das nove edições do BBB, a coisa fica complicada.
Primeiro: quem garante que Theo Becker, a cada dia mais ensandecido, não esteja atuando? Quem garante que a mudança de comportamento de Babi foi mesmo espontânea?
Essas dúvidas são alimentadas pela ausência de outras plataformas que possibilitem que os espectadores permaneçam conectados aos acontecimentos que rolam dentro das cercas da Fazenda. Isso porque não há pay-per-view, não há cobertura minuto-a-minuto na internet e nem outras modalidades de acesso ao programa. Sombrio demais para que não se possa desconfiar, não?
É difícil imaginar que um ator que já era contratado pela emissora, como Theo Becker, não perceba que a trajetória tumultuada no programa pode causar danos irreparáveis à sua imagem e, portanto, prejudicar sua carreira quando passar a ser um ex-fazenda. Basta lembrar da galeria de vilões do BBB, como o caubói Alberto, do BBB7, e o Dr. Rogério, do BBB5; ambos convertidos em inimigos número 1 do público.
Pra encerrar, os aspectos técnicos. Hoje, o programa apresentou uma bela edição - calibrada, obviamente, pela quantidade de brigas que têm acontecido no confinamento rural. Mais o resultado ainda soa pobre quando comparado - e a comparação é inevitável - ao Big Brother Brasil e mesmo à pioneira Casa dos Artistas.
No mais, dois grandes problemas parecem ser o horário de exibição - que se choca, simplesmente, com o programa mais visto do país, Caminho das Índias - e o apresentador. Britto Jr., com todos os méritos que tem, até aqui não tem conseguido imprimir ritmo às suas intervenções. Parece pouco à vontade e, em alguns casos, muito inseguro. Confrontado com as críticas, recentemente ele declarou não ser um animador de auditório e, sim, um jornalista. Só que, a não ser que eu esteja redondamente enganado, nessas circunstâncias, a porção animador de auditório seria muito bem-vinda...