Cinema é a maior diversão! Certo disso e precisando espairecer depois de mais uma semana de muita correria, zarpei no início da tarde de ontem para um multiplex decidido a conferir duas das novidades da semana: "Anjos e Demônios", baseado na saga criada por Dan Brown; e "Simonal", documentário sobre a vida do cantor que teve a carreira arruinada depois da suspeita de ser colaborador do regime militar.
Como faria Jack, sigamos por partes...
"Anjos e Demônios" leva para as telas o suspense sobre uma conspiração no Vaticano. Abalada pela morte de um Papa, a cúpula da Igreja Católica precisa lidar com as ameaças contra os quatro cardeais favoritos para a sucessão do pontífice. Por trás do terror, uma sociedade secreta, munida com uma arma de alto poder de destruição, criada num dos mais modernos laboratórios do mundo.Quem leu o livro sabe que é eletrizante. Eu, particularmente, acho ainda mais instigante que o propalado "Código da Vinci". E, se errou a mão na adaptação do mega-best-seller de Dan Brown, o diretor Ron Howard, que também assina a direção de "Anjos e Demônios", consegue se redimir. O filme tem ação pra dar e vender! O clima frenético do livro foi bem traduzido pelas sequências de perseguições rodadas nas ruas de Roma e o elenco colabora, e muito, para convencer o público de que a conspiração imaginada pelo escritor é verossímil. Os destaques são Tom Hanks - que, felizmente, viu seu Robert Langdon ganhar um corte de cabelo; e Ewan McGregor, convincente no papel do Camerlengo. Sem falar na bela Ayelet Zurer, que vive a sensual e esperta Vittoria Vetra.
Os cenários são de impressionar - principalmente as tomadas que reproduzem os interiores da Capela Sistina, local ao qual a equipe teve o acesso negado pelo Vaticano. A música também ajuda a criar o clima de aflição necessário à narrativa e o roteiro dá aos leitores da história a sensação de que o crème-de-la-crème do livro foi levado para a telona.
A Igreja implicou, óbvio. Seus interesses e a manipulação em torno da opinião pública são mostrados às claras. Mas, por outro lado, a beleza de seus rituais mais fundamentais - como o conclave - também está lá, traduzida em imagens nunca antes imaginadas por boa parte do público. Sem falar que a tomada final é de emocionar até o mais descrente dos seres humanos.
É um filme bem bacana! E eu recomendo!
Da ficção mais fantasiosa para a realidade. Realidade, que, aliás, pode ser mais devastadora que a antimatéria do filme baseado em Dan Brown. Na vida de Wilson Simonal, não houve antimatéria. Mas a destruição de sua imagem - e o consequente naufrágio de sua carreira - foram tão devastadores quanto a mais poderosa das armas químicas.
Um dos cantores mais populares do Brasil na década de 60, chegando a rivalizar com Roberto Carlos, primeiro negro a fazer sucesso sem cantar samba, Simonal foi dos píncaros da glória ao abismo do mais profundo ostracismo. Tudo por conta de uma suposta - e jamais comprovada - atuação como delator de colegas artistas ao regime militar.
Rico e com vocação para a ostentação, Simonal meteu os pés pelas mãos e cometeu um erro que lhe custou tudo o que tinha conquistado até então. Esquecido, depois de vinte anos ignorado pela mídia, morreu, reduzido a uma pálida sombra do que tinha chegado a ser.
O filme é simples, sem grandes arroubos narrativos ou invencionices estilísticas. Os videografismos estão dentro do contexto da vida de um homem que fez o povo sambar como Sá Marina, e mostrou ter orgulho de viver num Pa tropi.
Dirigido por Cláudio Manoel, Calvito Leal e Micael Langer, o documentário agrupa bons depoimentos de personalidades que dão a dimensão do fenômeno que Simonal representou para a MPB durante a fase áurea de sua carreira. Chico Anysio, Arthur da Távola e Nelson Motta, donos de inegáveis carismas, defendem o artista; buscam fazer justiça e apagar a mácula que fez o castelo de Simonal desmoronar. Jaguar e Ziraldo, do Pasquim, dão suas versões para o tratamento que todo o episódio mereceu do periódico idealizado pela turma da canhota, como Simonal tratava os esquerdistas. E os depoimentos de Tony Tornado, Castrinho e Miéle contribuem para explicar o tamanho do estrago que um passo em falso gerou na carreira - e, pior - na vida de Wilson Simonal.
Fiquei especialmente incomodado com os depoimentos do Jaguar, que ri ao narrar passagens duras, como se desconsiderasse todo o sofrimento que elas causaram. Pode parecer piegas, mas achei que faltou um pouquinho de humanismo ali...
Os filhos, Max e Simoninha, dão depoimentos afetivos e, mais que isso, uma certa lição de sabedoria. Parecem ter aprendido com os erros do pai. E estão dispostos a resgatar o talento e a contribuição de Simonal para a história da MPB. Uma luta louvável, diga-se de passagem.
As imagens coletadas são impressionantes e revelam a importância da televisão para a memória de um país. Sim, porque só vendo o Maracanãzinho lotado cantando sob a regência de Simonal alguém da minha faixa etária pode entender o vulcão que era esse artista. E pode associá-lo às gerações posteriores de entertainers. Todos devem render homenagens à esse grande cantor.
No mais, "Simonal: ninguém sabe o duro que dei" ainda faz brotar um salutar debate sobre o poder da mídia. Faz pensar sobre a responsabilidade de uma imprensa que, já desde o início dos anos 70, confunde os papéis e, por vezes, julga e condena em vez de noticiar. Aliás, esse é o tema de uma das falas mais interessantes do filme, do falecido senador Arthur da Távola.
Gostei do filme. E saí do cinema lamentando que um erro tenha demolido toda a história de luta construída pelo Simonal. Recomendo o documentário a todos os amantes de música. E de História!
4 comentários:
Um belo documentário. Sou fã de Simonal e não aguentava mais esperar algum filme, para mostrar o que aconteceu. Pena que acabou tragicamente a luta dele, mas a música continua viva e eu amo! rs
Quero muito ver esse documentário.
Tenho uma dica, já que o assunto é cinema: pude ver uma pré-estréia do filme "Mulher Invisível", dirigido pelo Cláudio Torres e estrelado pelo Selton Mello, só uma das grandes estrelas do filme. Eu gostei bastante! Estreia dia 05 de junho. Pra quem gosta de comédia romântica, vai se divertir.
Bjoss
Recentemente entrevistei o Jaguar e, por vezes, tb fiquei desconcertado diante da forma irônica e sarcástica como ele se posiciona sobre coisas sérias. O desconto é que ele é mesmo impagável, não livra nem a própria cara...
Brigadeirão, também achei bacana o filme poder contar essa história que o próprio Simonal nunca teve espaço pra contar...pena que ele já não esteja mais por aqui...
Bj!
Amanda, vi o trailler de "Mulher Invisível" e gostei muito! Acho que o cinema brasileiro está descobrindo o poder de fogo das boas comédias! E acho ótimo: adoro rir no cinema!!!
Bj e valeu pela dica!
Paulo, vai ver é mesmo um traço da personalidade dele. É que, no documentário, isso ganhou muita força. Achei que ele acabou destoando...
Abraço!
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