19.1.08

Maratona Particular

Como fazia todas as manhãs, pegou a bicicleta e saiu. Seguindo a lei da ação e da reação, dava ao universo pedaladas que lhe rendiam uma brisa fresca no rosto, herança da chuva torrencial que havia desabado na madrugada anterior. Chão molhado, cheiro de terra, menos gente e mais carros nas ruas.
Chegou ao local do encontro, parou a bicicleta e entrou naquele ambiente barulhento, onde ecoava aquela música que tanto o desagradava. Carregava consigo sua própria trilha sonora e, como fazia todas as manhãs, apertou o play e deu a partida em sua maratona particular. Corria, corria, corria; e por sua cabeça passavam correndo milhares de pensamentos, de lembranças, de planos. E começava a gostar novamente de si mesmo, readaptando-se a encontrar, todas as manhãs, aquele velho desconhecido que havia se tornado. Um cara festeiro, risonho, leve e que, sabe-se lá por qual razão, havia se deixado levar por uma maré pesada demais, de águas turvas e revoltas. Agora, apenas águas passadas...
Corria, corria, corria. Ao próprio encontro. Não buscava outra companhia ao fim da jornada, não queria saber de outros braços que não os seus próprios, os que melhor estavam treinados em enxugar o suor com a toalha e levar a boca um bocado de água fresca.
Em seus pensamentos, não havia mais espaço para indagações sobre a sorte - ou a falta dela. Havia apenas o desejo de aproveitar cada segundo daquele encontro, repetido todas as manhãs e, no entanto, sempre inédito e imprevisível.
O sempre delicioso encontro consigo mesmo. O seu programa predileto de todas as manhãs...

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