23.3.10

B@belturbo entrevista: Oscar Filho

Os limites do humor em debate no B@belturbo...



Desde os 13 anos Oscar Filho mostrou vocação para o teatro. Premiado já no início da carreira, saiu do interior e foi para a capital de São Paulo em busca de oportunidades. E elas brotaram no solo fértil do humor. Em 2005, o ator participou da fundação do Clube da Comédia Stand Up, antecipando uma onda que invadiria os palcos da maior cidade brasileira e se espalharia por todo o país rapidamente. Figurinha fácil em shows de humor como o Terça Insana e o Comédia em Pé, Oscar também estrelou campanhas publicitárias e participou de diversas montagens teatrais.
Aos poucos, ficou conhecido na internet, por meio dos vídeos postados no YouTube. Mas a fama nacional viria em 2008, quando passou a integrar o time de homens de preto do CQC, o irreverente humorístico de formato argentino exibido pela Band. No programa, debochando de celebridades ou pegando no pé de políticos, Oscar Filho ganhou de Marcelo Tas a curiosa alcunha de Pequeno Pônei. Nesta entrevista, concedida pouco depois da estreia de seu solo de comédia em São Paulo, o ator e humorista analisa os rumos do humor.

B@belturbo: Há limites para o humor?
Oscar Filho: Cada um impõe o limite que quer no seu humor. Tem certos temas que eu nunca fiz, mas outro sim e vice versa. Acho que há limites pra tudo e se alguém passa deste limite sofre as consequencias, tanto pra bem quanto pra mal. A questão é que o humor em si já é uma superação de limite. A gente ri de uma piada muitas vezes porque ela é proibida e teve alguém com coragem de dizê-la. Certos assuntos há 50 anos nem poderiam ser tocados. Aos poucos um ou outro humorista foram extendendo o campo de alcance do tema. Por exemplo, hoje em dia podemos falar mal do país sem sermos presos.

B@belturbo: Quais são, na sua opinião, os maiores tabus em relação ao humor? Ou qual o tipo de piada mais polêmica? E qual a sua opinião em relação a esses tabus?
Oscar Filho: Acho que os de sempre: sexo, raça, religião... Tomara que eles continuem sendo pra nós podermos fazer cada vez mais piadas em relação a isso. Uma piada que fiz no twitter por exemplo causou uma polêmica, mas pra mim é só uma piada e não quer dizer nada. Era ela. "Jesus: mãe, o que eu vou ser quando crescer? Maria: Crucificado." Muitos disseram que eu desrespeitei a fé de muita gente. Onde? Não vejo desrespeito aí. Seria desrespeitoso se eu falasse sobre as pessoas que acreditam no catolicismo, aí sim. Outros me jogaram uma praga do tipo "você vai pagar por isso". Aí, se eu vou ou não, é um problema meu.
Sexo é um tabu que já não é mais tão tabu quanto antigamente. As pessoas até gostam de ouvir sobre isso, mas ainda existem os puritanos. Raça é um troço louco. Eu chamo preto de preto. Se eu sou branco, ele é preto. Isso não é uma afronta ou algo pejorativo. Isso está na cabeça dos outros. E é incrível a quantidade de pessoas que não são da raça tomarem partido. Se eles tomam partido mostram que a raça preta não sabe se defender. Nos EUA eles sacaneiam os brancos hoje em dia, fazem piadas. Os brancos tem que se sentir acuados? Temos que prestar atenção das nossas atitudes do presente e não no que aconteceu lá atrás. E religião é um assunto que poderia ser mais tratado também. O George Carlin fazia muito isso. Através dele, por exemplo, passei a pensar um pouco mais sobre toda essa coisa de Deus, Jesus e igreja católica.

B@belturbo: Sobre que tipo de assunto você evita /não faz piada?
Oscar Filho: Quando vou escrever uma piada não penso: Bom, vamos ver o que eu não vou falar. É justamente o contrário. O que vem na minha cabeça é o que é passado pro papel. Não lembro de ter feito uma piada e ter pensado: Nossa, essa não vai agradar.

"Piada é pra rir. Algumas você ri e pensa sobre logo depois, mas existem coisas mais importantes para se preocupar", afirma o integrante do CQC
B@belturbo: A sociedade / o público pode cobrar esse tipo de cuidado de quem se propõe a fazer humor?
Oscar Filho: Claro que pode cobrar. Cada um pode fazer o que quiser. Só acho que levam humor muito a sério! Piada é pra rir. Algumas você ri e pensa sobre logo depois, mas existem coisas mais importantes para se preocupar. O Sarney taí ainda.

B@belturbo: Alguns humoristas criticam uma certa "patrulha do humor" e se queixam do chamado "politicamente correto". Você concorda? O humor tem sido patrulhado?
Oscar Filho: Sim assim como inúmeras outras coisas. O politicamente correto é um saco. Quando era criança via o Pica Pau dando tiro na cara do Zeca Urubu. Nem por isso tenho uma arma em casa. Sequer sou violento, então até onde influencia? É uma questão de personalidade. Hoje em dia "não pode, não deve, é melhor não, será"?

B@belturbo: De que forma é possível fazer humor sem cair nas amarras do politicamente correto e, no entanto, sem ferir o bom senso? Aliás, isso é possível?
Oscar Filho: Ser honesto consigo. Se tem vontade de fazer o que quer que seja, faça um troço que seja você. Sendo assim, você vai seguir seus princípios. E se você passar dos limites, muito provavelmente estará se relacionando com o seu próprio limite.

B@belturbo: Pra encerrar, em uma palavra, como definir o tipo de humor que você faz?
Oscar Filho: Kastinguera!

NOTA: A entrevista foi concedida por e-mail e publicada na íntegra, sem edição.
Leia os posts anteriores da série:
Entrevista com Kibeloco
Entrevista com Fabio Porchat
Entrevista com Maurício Zágari
Entrevista com Fábio Rabin
Entrevista com Paulo Cursino

A primeira leva de posts da série Crise de Riso? chega ao fim hoje. O B@belturbo se orgulha de ter trazido para esse debate alguns dos mais importantes humoristas e redatores de humor do país. E, claro, agradece a todos pela participação e pelo bom humor mantido até na hora de levar a arte de fazer graça a sério.
E se você, leitor, tem sugestões de mais humoristas, escreva nos comentários ou envie para a HotLine do blog.
A série passará a ser fixa aqui no blog e vai figurar nos links, ao lado direito da página. Portanto, se você ainda não leu todos os posts - ou se quer indicá-los para alguém, sinta-se em casa!

Um comentário:

Sergio Brandão disse...

Boa entrevista! Abs.