18.3.10

B@belturbo entrevista: Maurício Zágari

Os limites do humor em debate no B@belturbo...
Jornalista, professor de Teologia e Filosofia, crítico de cinema, locutor de rádio, tradutor, revisor e escritor, Maurício Zágari se mostrou interessado em discutir os caminhos do humor tão logo recebeu o e-mail para participar dessa série de entrevistas. Autor de um dos contos do livro Humor Vermelho, faz graça com as coisas simples da vida. É alguém que se diz saudoso do trema e que comemora o fato de saber de cor a tabela periódica, apesar de não saber bem pra quê...
Na entrevista, Maurício Zágari critica alguns dos recurso mais usuais no humor. E recorre a um dos maiores nomes da história do cinema para dizer que, sim, é possível fazer rir de outro jeito.

B@belturbo: Há limites para o humor?
Maurício Zágari: Sim! O limite é a ofensa. Há quem pense que é preciso ofender para fazer rir, o que é uma grande besteira. O problema é que hj, em especial no Brasil, a falta de criatividade é tão grande que os humoristas precisam apelar para as veeeeeeeelhas fórmulas:
a) Sexo
b) Palavrão, palavrão, palavrão, palavrão...
c) Fluidos e dejetos corporais
d) Ofensas a grupos socio-religiosos-culturais ou pessoas em evidência
Pense nos humoristas que vc conhece. Quais sobrevivem sem apelar para essas muletas manjadas?

B@belturbo: Quais são, na sua opinião, os maiores tabus em relação ao humor? Ou qual o tipo de piada mais polêmico? E qual a sua opinião em relação a esses tabus?
Maurício Zágari: O maior tabu é fazer humor sem usar essas muletas. Pois, se vc propõe um Casseta e Planeta sem trocadilhos sexuais ou um stand-up comedy sem palavrões, os humoristas "da hora" voam na sua jugular e te acusam de todo o tipo de adjetivos: reacionário, conservador, careta, censor etc. Minha opinião é que o bom humor tem de agradar a todos. Se levo uma senhora idosa a um stand-up comedy e em vez de se divertir ela sai escandalizada, o que houve ali não foi humor, foi ofensa e agressão mascarada de gracinhas. Sintoma de uma civilização decadente.

'O que muitos chamam de "politicamente correto" eu chamo de bom senso', diz Maurício Zágari
B@belturbo: Sobre que tipo de assunto você evita /não faz piada?
Maurício Zágari: Qualquer assunto que venha a ofender o interlocutor. Se ele é cristão, não faço piadas de Jesus. Se é negro, não faço piada de negros. Se é judeu, não faço piadas sobre a Torá. Se é gay, não faço piadas sobre homossexuais. Por uma única razão: é desnecessário.

B@belturbo: A sociedade / o público pode cobrar esse tipo de cuidado de quem se propõe a fazer humor?
Maurício Zágari: Lógico! Se ele fizer suas ofensas num quarto fechado, o problema é dele. Mas se faz em fórum público deve estar sujeito ao respeito pelas pessoas - e às críticas. O problema é que sempre que se faz esse tipo de cobrança ou crítica vem logo alguém sem argumentos e apela para a palavrinha mágica: "Censura! Censura!".

B@belturbo: Alguns humoristas criticam uma certa "patrulha do humor" e se queixam do chamado "politicamente correto". Você concorda? O humor tem sido patrulhado?
Maurício Zágari: Essa crítica é anarquista. É fácil chamar "controle parental" de "censura", "bom senso" de "mordaça", "preocupação" de "patrulha". Não é nada disso, isso é pura semântica para fazer com que uma preocupação legítima soe como algo nocivo. É manipulação retórica. Não existe o "politicamente correto", existe o "correto". Mas o relativismo pós-moderno abomina essa expressão. O que muitos chamam de "politicamente correto" eu chamo de bom senso. Em nome do respeito que devemos a outros seres humanos.

B@belturbo: De que forma é possível fazer humor sem cair nas amarras do politicamente correto e, no entanto, sem ferir o bom senso? Aliás, isso é possível?
Maurício Zágari: Claro que é! O remédio para isso chama-se criatividade. Quem quer seguir a cartilha calhorda do "faz o que tu queres pois é tudo da lei" está buscando as soluções fáceis, rápidas, superficiais e polêmicas. O que o Danilo Gentili fez, por exemplo, não foi ferir o politicamente correto. Foi ser desrespeitoso com uma pessoa que, no mínimo, merece respeito por sua trajetória profissional e sua contribuição para a TV brasileira. Sem Hebe talvez hj não houvesse espaço para o CQC na TV. E olha que não gosto do programa da Hebe, mas reconheço seus méritos. Pq Danilo fez isso? Pq dá mais Ibope dizer o que ele disse do que elogiar, destacar qualidades. É cool. Vivemos no império do "fale mal". Gostaria que o Gentili fizesse piadas que destacassem as qualidades das pessoas, por exemplo. Te garanto que ele teria muito mais dificuldades do que partir pra fórmula fácil, manjada e veeeeeeeeeelha da caricatura: "ok, Hebe é idosa, então vou exacerbar isso chamando-a de múmia". Não é por aí.
Quer ver como é possível? Um único exemplo: Charles Chaplin. O que ele fez foi tão criativo, brilhante e genial que ele se tornou eterno. Danillo Gentili e a patota do sexo-palavrão-fluidos-ofensas vão passar e, em 50 anos, ninguém mais vai se lembrar deles. Não tem solidez. Não tem alicerce. Não contribui. Não fica. São sujeitos condenados ao esquecimento.

B@belturbo: Pra encerrar, em uma palavra, como definir o tipo de humor que você faz?
Maurício Zágari: Branco.

NOTA: A entrevista foi concedida por e-mail e publicada na íntegra, sem ediçao.
Leia mais posts da série:
Entrevista com Kibeloco
Entrevista com Fabio Porchat
Amanhã, no quarto post da série Crise de Riso?, você vai conhecer as opiniões de Fabio Rabin, ator, humorista e apresentador do "Furfles", na MTV Brasil.

2 comentários:

Amanda Hora disse...

Uau, isso é que é uma série diversa. Opiniões bem diferentes, está ficando cada vez melhor!

Lu Chagas disse...

Adorei! Ótima entrevista! Sou fã do Zagari.

Beijos
Lu Chagas