Elenco de primeira, texto repleto de boas tiradas e produção impecável: ingredientes infalíveis de Avenida Q, o mais recente espetáculo de Charles Möeller e Claudio Botelho...
Nunca fui fã de musicais e não falo isso com orgulho. Encaro como uma limitação minha o fato de clássicos do cinema como "A noviça rebelde" e "Mary Poppins" jamais terem chamado minha atenção, permanecendo inéditos pro blogueiro aqui até hoje.
Por isso, quando fui ao teatro na última noite de quinta-feira, não tinha grandes expectativas. Mas, depois das duas horas de "Avenida Q", deixei a sala com a certeza de ter visto um grande e divertidíssimo espetáculo!
Misturando bonecos manipulados por atores e atores que não manipulam bonecos, o musical conta a história de um jovem que chega a um lugar que parece abrigar todos os fracassados da paróquia. Princeton, o protagonista, chega à Avenida Q em busca de um rumo para a sua vida. E é a partir dessa busca que os conflitos e as tiradas sensacionais do texto são oferecidas ao público.
Nos Estados Unidos, onde está em cartaz há seis anos, Avenida Q é considerado um musical politicamente incorreto. Aqui no Brasil, país naturalmente vocacionado para o deboche e a galhofa, o tom e o efeito do texto ganham novas dimensões. Mas não perdem a graça. Seja na hora de rir de Rod, o boneco-gay-enrustido; ou na hora de uma bombástica conversão da boneca-gostosona a uma igreja evangélica; não importa: a graça está lá o tempo todo!
As músicas são igualmente divertidas e impressionantemente bem executadas pelo elenco. Destaco a linda voz de Claudia Netto que, se não fosse atriz, certamente poderia enveredar pela carreira de cantora. Mas, atriz de primeira e com toda a sensibilidade que uma comédia requer, Claudia protagoniza muitas das cenas mais engraçadas do espetáculo e arranca inúmeras gargalhadas da plateia.
Entre os homens, o destaque é André Dias, que manipula/interpreta/canta como dois bonecos. Usando vozes diferentes e com uma expressão impressionantemente idêntica a dos seres de espuma e pelúcia que carrega e movimenta com as mãos, André sustenta boa parte da ação do musical sem perder o fôlego, o tom e a graça que um protagonista deve ter. Talento dos grandes!
Aliás, um parêntese: impressiona a habilidade que o elenco demonstra para manipular e contracenar com os bonecos, sem que a ação se torne farsesca em momento algum. E aqui vai uma revelação que apurei lá no teatro: nenhum dos atores tinha experiência com manipulação de bonecos antes. Impressionante!
Cenário e iluminação ajudam a tornar ainda mais apropriado o substantivo espetáculo que, em Avenida Q, ganha ares de adjetivo. Figurinos e direção de arte também são inspiradíssimos e, para falar de um único destaque, cito a (maravilhosa) cena do casamento de Japaneusa e Brian, quando as luzes se apagam e...supresa!
O texto, além de graça e deboche, tem um jeito meio inocente de tocar nas misérias humanas. É bonito, sem ser piegas. E deixa a plateia mais leve depois de uma noite de muitas risadas...
Recomendo! Pra quem é fã de musicais e pra quem, como eu, não sabia o que está(va) perdendo!!!
2 comentários:
Murilo, parabéns pela crítica! Super bem escrita e humorada.
Abraços,
Leo Ladeira
Site Möeller & Botelho
http://www.moellerbotelho.com.br
Sem tirar nem por uma vírgula! Avenida Q é um programaço!
Valeu muito a pena!
Meus personagens preferidos: os ursinhos do mal....
Abs
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