14.7.08

O abraço da vó emprestada...

Dona Verônica mora em Picada Café, na Serra Gaúcha. Eu e a equipe a conhecemos durante a semana passada quando, voltando de uma gravação, resolvemos parar às margens da BR-116 para conferir os preços de uma loja especializada em produtos de couro. Foi lá que a simpática velhinha descendente de alemães - como quase toda a população do município - cativou a todos nós. Risonha, falante e doce, dona Verônica nos arrancou muitas risadas e demonstrou, imediatamente, ser daquele tipo de gente que nos faz crer que a vida vale a pena.
Não tive dúvidas: no mesmo dia, agendei uma gravação com ela, a ser realizada na manhã de domingo.
A gravação foi ontem. Olhos da cor do céu, cabelos da cor das nuvens que enfeitam o firmamento em dias de sol, dona Verônica fez questão de se pentear e passar um pouco do gloss da neta nos lábios. Queria se enfeitar antes da entrevista. Como se fosse possível se tornar uma pessoa mais bela...
Durante a gravação, ela falava comigo das maravilhas de sua pequena cidade. Entusiasmada, exalava aquele jeitinho de quem vê a vida sempre pelo lado bom. Contava que, aos 75 anos ("e indo aos 76"), faz questão de trabalhar na loja de couro do filho. Libriana como eu, contou que faz aniversário um dia depois de mim, em nove de outubro...
E eu ali, tentando me concentrar na entrevista, tentando frear minha mente que insistia em trazer à tona a saudade que tenho da minha velhinha querida; da minha vó que era tão fofa e simpática quanto dona Verônica e com quem eu tanto gostava de conversar.
No fim, dona Verônica disse que não gosta de levar tristeza às outras pessoas. Mas eu tinha os olhos marejados. Fiz um esforço danado pra não começar a chorar na frente dela, mesmo quando ela me puxou pelo braço na hora da despedida e me deu um abraço carinhoso que tanto me lembrou os abraços da minha vó. Então, abracei aquela " emprestada" que ganhei de presente num domingo ensolarado e pensei em como é duro saber que os abraços da minha vó de verdade eu nunca mais poderei sentir...
Voltei pro carro e chorei.
Ontem fazia sete meses que minha vó foi-se embora...

6 comentários:

Tell Aragão disse...

e é assim a saudade...
com o tempo, vai ficando mais amena...
mas, ainda assim, lágrimas virão em certos momentos...

O melhor da Baixada disse...

Viu como Deus é bacana AC? A cada novo passo podemos encontrar pessoas que nos fazem acreditar que ainda queremos morar nesse país, embora motivos para se pensar o contrário sejam muitos. E acreditar também que quando somos relmentes bons, temos um coração puro, atraímos pessoas parecidas para perto da gente. Suas avós, a de verdade e a emprestada, são belos exemplos.
Abs!
Obs.: mande um bjão pra Aninha!

® ♫ The Brit ♪ ® disse...

Isso foi um texto lindo Murilo!
Eu tb sabe muito bem como e para tentar controlar as lagrimas quando pessoas ou coisas me lembrar minhas avós e minha mae muito querida (quem tambem faleceu)... maioria das vezes não consegue controlar mesmo.

Os anos vai passar mas as memorias ficar por tudo nossas vidas até nos encontrar eles de novo...
Abração amigo!

Anônimo disse...

Fala amigo! Blz?

Seu texto é lindo! E entendo perfeitamente isso... Lá se vão 5 anos que a minha se foi e ainda tantas saudades dela!

Com certeza ela tem muito orgulho do neto que tem!

Um abração!

Márcio André Lima disse...

Uma coisa eu aprendi quando "minha vida era andar por esse país": No interior do Brasil, estão as pessoas mais maravilhosas do MUNDO!
Sua avó lhe abraçou naquele dia, acredite!

Unknown disse...

Queridos, obrigadão pela força!