Marília Pêra faz rir em dose dupla no filme que marca a estréia do multimídia Miguel Falabella como diretor de cinema...
As mazelas, insatisfações, neuroses e esquisitices que fazem parte do cotidiano de todos nós ganham a tela no longa de estréia de Miguel Falabella - agora, também, diretor de cinema. Com roteiro igualmente assinado pelo eterno Caco Antibes e inspirado na peça "Como encher um biquíni selvagem", outro sucesso da lavra do artista multimídia, o filme traça um bem humorado painel da sociedade atual.
Encabeçado por Marília Pêra, genial nos papéis das gêmeas Magali e Magda, o elenco é de primeiríssima categoria. Arlete Salles, como a atriz à beira de um ataque de nervos, rende momentos hilariantes. E deixa claros os motivos de tanta reverência do diretor, que sempre a escolhe para seus trabalhos.
Stella Miranda, como Dulce, faz um trabalho primoroso. Na mais comovente cena do filme, não há quem não se identifique com a dor da mãe de fala mansa que revela como acabou indo trabalhar num centro de atendimento a suicidas. Aliás, vale o registro, Neusa Borges cumpre com muita eficiência o papel de coadjuvante nessa bela cena. E se comove, Neusa também faz rir. Numa ligação telefônica conturbada, a Crioula defendida pela atriz tem diálogos engraçadíssimos com Marília Pêra, Jacqueline Laurence e Arlete Salles. É o melhor do texto de Falabella, em diálogos ágeis, ácidos e hilários, a serviço de um dos momentos mais engraçados do filme.
Na ala masculina, o destaque é Otávio Augusto, vivendo o típico cidadão de classe média que morre de amores pelo automóvel - no qual, aliás, conserva os plásticos que envolvem os bancos. Uma clara referência falabellística à "pobreza", tão alfinetada por Caco Antibes...
Alexandre Slaviero destoa do restante do elenco e faz do seu Arnaldo um mauricinho um pouco over e, em alguns momentos, até um pouco afetado. Juliana Baroni, Ana Roberta Gualda e Nicolas Trevijano, no entanto, acertam em cheio em seus papéis.
Se Marcos Caruso parece pouco aproveitado e Natália do Vale aparece num tipo frio demais, Marília Pêra é só calor em seus dois papéis. E protagoniza uma cena que valeria o ingresso quando, surtada, Magali põe-se a reclamar da vida: "Um marido que ronca, um filho que bebe e uma irmã que liga a cobrar", diz a personagem, arrancando risadas fartas da platéia - aliás, pequena para um filme que poderia ter tanto apelo popular.
Enfim, Falabella estréia mostrando que tem fôlego para produzir também para as grandes telas. E se o filme tem alguns probleminhas técnicos, como a falta de sincronia entre áudio e vídeo em algumas cenas, o roteiro, os personagens e a fotografia - onde se nota uma forte influência da cinematografia de Almodóvar - tratam de dar ao público motivos de sobra para rir.
Recomendo para quem quiser se divertir sem grandes pretensões. E, cá pra nós, nada melhor do que rir despretensiosamente...
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