13.5.07

Carta ao leitor...

Antes de mais nada, quero dizer que esse é, será e sempre foi um espaço livre para a manifestação de idéias e de opiniões. Não só minhas como a de vocês, que me honram com suas visitas e com seus comentários. Mas este é um blog de alguém que tem um comprometimento com o respeito às diferenças; de alguém que acredita que a beleza da vida em sociedade está na
heterogeneidade - na força que nos faz complementares, mesmo sendo todos tão diferentes como somos. Por essa - única - razão, sinto-me obrigado a replicar sempre que algum comentário - direta ou indiretamente, intecionalmente ou não - acabe resvalando para uma abordagem que possa ferir esses valores.
Três recentes posts aqui do B@belturbo abordaram conceitos e dogmas de duas diferentes igrejas: a Católica e a Universal. Posts que tiveram repercussão e que acabaram por lançar luz sobre algumas das grandes polêmicas atuais: o uso de preservativos - condenado pela Igreja Católica - e os preconceitos contra os homossexuais.
Rodrigo Bahiense comentou em pelo menos dois desses posts. Eis o que disse o leitor numa de suas mensagens: "O que não concordo é que nos obriguem a aceitar o homossexualismo como natural do ser humano, e pior do que isso, com as novas leis não podemos sequer passar aos nossos filhos o que achamos coerente com pena de sermos processados".
Rodrigo, como você, também não acho o homossexualismo natural do ser humano. Há animais - de outras espécies - que também têm essa orientação - e a Ciência ainda não explicou se trata-se de uma conduta adquirida ou se ela é congênita. Agora, ao que me consta, ninguém quer obrigar ninguém a aceitar nada. Trata-se apenas de respeitar! Respeitar o outro, respeitar a condição do outro; como eu, você e tantos outros heteros, bi, pan e multi-sexuais devemos e merecemos ser respeitados. Com os homossexuais, honestamente, não vejo o porquê de ser diferente. Quanto ao receio de "passar aos filhos o que achamos coerente", não sei se te desanimo, mas devo dizer que não conheço, até hoje, um pai que tenha dito ao filho para ingressar no mundo da homossexualidade. Porque essa não é uma orientação que se dê, é algo muito pessoal, que cada indivíduo vai elaborar da forma como lhe parecer melhor. E vice-versa: dizer ao filho para não ser gay não me parece o suficiente para que alguém que tenha essa orientação, essa pulsão, deixe de sê-lo; para que deixe de buscar sua felicidade. E isso independe do desejo - e da aprovação - do pai, da mãe, da Igreja, ou de quem quer que seja.
O mesmo leitor, em outro post, comenta sobre a postura da Igreja Católica, respondendo ao texto A Igreja parou no tempo. Rodrigo diz concordar "quando o Papa afirma que a Igreja procura qualidade e não quantidade". Rodrigo, o próprio Papa cobrou mais empenho da cúpula da Igreja, aqui no Brasil, para conter a perda de fiéis: "Trata-se efetivamente de não poupar esforços na busca dos católicos afastados e daqueles que pouco ou nada conhecem sobre Jesus Cristo", disse Bento XVI, e essas não me parecem palavras de quem quer apenas qualidade. Falo isso sem querer arranhar a imagem do Sucessor de Pedro; trata-se apenas de uma constatação: as igreja são feitas de e por pessoas e - independente de qual religião estejamos falando - são essas mesmas pessoas que sustentam essas instituições.
Justificar o aparecimento da Aids como "uma doença de uma sociedade moderna" também me parece um raciocínio pouco robusto. Lá pelo século XVII, a sífilis já matava muita gente. E trata-se de uma DST também. Tenho pra mim, Rodrigo, que as pessoas sempre farão sexo antes, durante e depois do casamento. E, em muitos casos, até mesmo fora dele! E isso independe de suas crenças religiosas.
No mais, reafirmo: acho imprudente que a Igreja continue condenando o uso dos preservativos. Rodrigo Bahiense discorda: "A Igreja proíbe o uso da camisinha, não para ser vilã, mas para mostrar que esse modelo de sociedade estava errado, causou e está causando a morte de milhares de pessoas pelo mundo". E eu tenho uma visão diferente da defendida pelo meu leitor. Creio que a Igreja - vilã ou não - precisa se modernizar, não só para evitar a perda de fiéis como para manter viva a Palavra de Deus - que é razão primeira de sua existência. E isso não é ser politicamente correto, é enxergar a complexidade do mundo em que vivemos e lutar para que as condições, mesmo que não sejam as ideais, possam favorecer uma existência em harmonia, que favoreça a busca pela paz, pela tolerância e pelo amor. Valores que não serão construídos enquanto alimentarmos as diferenças, inflando dogmas ultrapassados e, muito menos, enquanto virarmos as costas para a realidade contemporânea.
Para finalizar, agradeço ao Rodrigo e a todos os outros leitores que comentam os posts! Voltem sempre!!!
E a todas as mães do Brasil e do mundo, parabéns pelo dia de hoje!!!

2 comentários:

Rodrigo Bahiense disse...

Murilo, agradeço por dispensar seu tempo com esse debate sadio. É importante que se respeitem as opiniões, porém o mais importante é aceitar as diferenças ideológicas.
Isso que estou colocando para você: em momento nenhum estou faltando com respeito os homossexuais, só estou defendendo um direito que tenho de expressar minhas opiniões.
Sim, alguns animais podem ter condutas homossexuais, assim como outros podem ser antropófagos, etc... Na literatura científica são inúmeros os casos estudados.
Ainda hoje existem tribos vivendo no período neolítico, onde o vencedor de uma disputa come o cérebro do derrotado para obter suas forças. São atitudes aceitáveis na sociedade moderna? Acho que não. O que nos faz compreender como inaceitáveis? A ética da nossa sociedade. Na sociedade deles é aceito como normal porque eles ainda vivem o mundo de 12 mil anos atrás.
Essa ética conquistada pela nossa sociedade levou bastante tempo para ser desenvolvida, e vou te dizer uma coisa, o cristianismo teve papel importante no mundo ocidental para isso. Querendo você ou não, muito da ética que vivemos hoje veio da orientação cristã. Não sou eu que digo isso somente. No livro “Convite a filosofia” de Marilena Chauí, a autora diz que o cristianismo introduziu a idéia de intenção, não mais de ações e atitudes visíveis, o cristianismo é uma religião de interioridade e a ética se estabelece no coração do indivíduo,tendo em vista a sua relação com o outro e com Deus.
Com isso acho que te respondo a todas as questões de maneira rápida. Nenhuma lei humana é capaz de dizer o que é eticamente correto para ninguém. Se uma lei afirma que o homossexualismo é correto, ou o aborto é correto, ou mesmo a eutanásia, essa lei por si mesma já nasce insuficiente. Ao contrário do que você pensa, o cristianismo oferece uma liberdade com consciência. O cristianismo afirma que tudo é permitido, mas nem tudo lhe convém. Entendemos isso de forma é individual, interior, em nosso relacionamento diário com Deus. Por isso o cristianismo também fala que não devemos julgar ninguém. Como podemos julgar os pensamentos de alguém? Não podemos. Nesse caso quem poderia? Somente Deus pode.
A Igreja precisa se posicionar frente a sociedade com uma palavra coerente com a fé cristã, e isso algumas vezes pode ir de encontro com novos posicionamentos. As pessoas costumam achar que a religião deve se adequar ao homem, e buscam um Deus que satisfaça todas as suas vontades, mas não é assim que a banda toca. Nós temos um Deus, que entre nós se sacrificou, mostrando que o caminho cristão é de sacrifícios também. A Igreja não poderia se posicionar a favor da homossexualidade, aborto e eutanásia, por exemplo, como falei antes seria politicamente correto e você vai encontrar religiões que apóiam, mas a religião cristã não apóia. Quero salientar que não apoiar não significa não aceitar essas pessoas ou repudia-las, muito pelo contrário, a igreja está repleta de pessoas arrependidas pelos seus atos que vão de encontro a Deus buscando esse apoio.
Um grande abraço
Fique com Deus

Carlos Zev Solano disse...

Religião, política e futebol quase sempre parecem assuntos sem fim.

No entanto, é importante lembrar que as LEIS que regem nossa sociedade brasileira não permitem discriminação por opção sexual.
Assim como sua escolha religiosa.

Ou seja, o importante mesmo é ser condescendente e - talvez o mais difícil - compreender a razão de cada um.

Usar argumentos históricos é bastante complicado, muitas coisas mudaram e continuam mudando e sabe-se lá o que irá vir adiante.

Abraços.
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