Mais do que homem público e político, o deputado Eneás Carneiro se tornou um exemplo de como a política pode, também, nos fazer rir. Seu tom raivoso, sempre falando com os eleitores como quem, de fato, parecia dar-lhes uma bronca, rendeu muita piada e muitas imitações. O "meu nome é Eneás", bordão lançado pelo fundador do extinto Prona nas eleições de 1989, acabou entrando para a história do horário eleitoral gratuito. Tinha nove anos na época, mas lembro de aguardar ansiosamente a aparição do homem emburrado e barbudo que, ao fim de um discurso quase incompreensível, vociferava: "Meu nome é Eneás!"
Ontem, quando soube da morte do deputado, comecei a pesquisar na rede sobre ele. E descobri, lendo o Querido Leitor, de Rosana Hermann, que ele era amigo da turma do "Pânico". Não me surpreendi, e logo lembrei que, nas últimas eleições, ao aparecer no horário político sem sua indefectível barba, o deputado bradou: "Com barba ou sem barba, meu nome é Eneás!". Só poderia mesmo ser alguém de muito bom humor...
Fui até o YouTube e me deparei com uma pérola: um pronunciamento do Dr. Enéas, também no horário eleitoral, que começa com a quase indecifrável frase: "Miasmas pútridos emanam do Congresso". Ri, imaginando as famílias de eleitores ouvindo tais pérolas na hora do jantar. E continuou o deputado: "Meu nome não exala odor mefítico, porque não chafurda no pântano da ignomínia". Hilário, né?
Enéas sai de cena e deixa marcas na história política do Brasil. Bateu recordes de votação e deixou seu nome gravado na história recente do país como o candidato de partido nanico a alcançar a maior votação nas eleições para a presidência, com 4.671.457 votos recebidos no pleito de 1994, vencido por Fernando Henrique Cardoso. Pode ser ignorância minha, mas não me lembro de nenhum feito do deputado. Não tenho notícia de nenhum projeto de lei, de nenhuma iniciativa que tenha conquistado espaço na mídia. Portanto, pra mim, ficará sempre a imagem do político excêntrico, que arrancou risadas, cunhou um bordão, e abriu as portas para tantos candidatos "cômicos" no meio da chatice do horário eleitoral.
Que descanse em paz...
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