Quando moleque, não entendia as coisas dos adultos. Não entendia os vincos nas testas, as expressões carregadas, a escassez de sorrisos. Não entendia tanto tempo gasto pra falar de problemas, de dinheiro, e tão poucos minutos destinados à simples apreciação das coisas belas da vida.
Quando moleque, seu problema era apenas escolher. Escolher entre o boneco do He-man ou os do Comandos em Ação. Escolher sorvete de chocolate ou de morango. Escolher entre Pac-man e River Raid no seu videogame Atari.
Aí o tempo passou. Continuava a achar todos muito sisudos ao seu redor, sempre dando muito mais importância às coisas mixurucas da vida. Fofocas, rancores e mágoas em vez de abraços e risadas. Tudo estranho. Tudo em desacordo com o que pensava que devia ser.
Aí o tempo passou. Agora, precisava escolher as pessoas das quais gostaria de se cercar. E o tipo de relação que queria ter com elas. Tinha que escolher os caminhos a seguir; e com quem queria seguir. Vez por outra, escolhia e, quando via, estava novamente só, andando rumo ao desconhecido. A companhia ficara pra trás, de novo, sem despedida.
Mesmo assim, continuava a caminhada. E às vezes, bem no meio do caminho, sentia uma saudade danada daqueles tempos em que só precisava escolher o cartucho do videogame, o sabor do sorvete ou o boneco ideal pra suas batalhas de mentirinha...
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