29.7.06

Buscando o empate*

Aquele estalo foi seguido de um profundo ardor em suas bochechas. Não tivera tempo de desviar, o tapa dela havia lhe acertado em cheio! O primeiro impulso foi pelo revide, chegou a erguer o braço direito. Baixou em seguida, amava-a demais para ter coragem de devolver aquela agressão. Em vez disso, puxou-a pelo braço e beijou-lhe a boca, com uma volúpia que não experimentavam há tempos. A respiração tornava-se cada vez mais intensa, línguas enroscadas que pareciam repetir as juras de amor de sempre.
Ela chorava pela traição, mas não tinha força para resistir aos sentimentos. Ele chorava arrependido, e queria provar que tudo tinha sido um erro, uma fraqueza; uma dessas arapucas que o destino costuma armar na vida da gente. Beijando-se, foram para o quarto. Roupas arrancadas, lingerie rasgada. Fervor. Intensidade. Paixão.
Amaram-se até alta madrugada, até que, exauridos, adormeceram. Ou melhor, ele adormeceu. Sorrateira, ela fez que dormiu até se certificar de que ele já roncava. Aí então se levantou, banhou-se, perfumou-se, vestiu-se, passou o mais vermelho dos seus batons, calçou a mais alta de suas sandálias e escreveu um bilhete. Na ponta dos pés, saiu...
Os primeiros raios de sol o acordaram. Sorridente, nem se importou ao ver no espelho do banheiro as marcas dos dedos da mulher carimbadas em sua face - lembranças da bofetada da véspera. Procurou-a na cozinha, no quintal. Estranhou a ausência naquela manhã de domingo; sabia que ela não trabalharia naquele dia. Voltou ao quarto e, no criado-mudo, encontrou a pista. Um pedaço de papel. A letra era dela:
- Eu te amo, você sabe! E vou te amar sempre! Mas, não quero ganhar nem perder nesse nosso amor! Então, pra que a gente possa continuar a viver bem, fui buscar o empate...volto pro almoço...!
* mais um esboço de crônica. Só pra não perder o costume...

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