Voltava pra casa, cansado depois de um dia de trabalho intenso. No bom e velho ônibus com ar condicionado, começava a me preparar para dormir. Entre uma e outra ajeitada na poltrona, olhei pela janela. E vi. Lá estava ela, dentro do outro ônibus, na minha direção. Moça bonita, traços finos. Não precisei gastar muitos neurônios pra deduzir que também voltava de um cansativo dia de trabalho. Estava na cara! Tinha a cabeça recostada numa das mãos, olhar voltado primeiro pra janela e para a paisagem de congestionamento que ela lhe oferecia. Depois, seus olhos se voltaram pra mim. O sinal fechado, culpado por aquele nosso encontro, me remeteu à canção de Paulinho da Viola. Ficamos assim, olhando um pro outro, durante aqueles poucos segundos que pareceram meses. Por um instante, tive a impressão de que ela tentava me perguntar alguma coisa. E também achei que ela, de longe, empenhava-se para intuir minha resposta...
Luz verde. Buzinas impacientes de motoristas eternamente estressados. O ônibus dela partiu na frente, e ainda assim nossos olhos permaneceram agarrados, atraídos. Sorri, como se com isso lhe pudesse dizer um "muito prazer" e, também, um "adeus". Ela retribuiu. Olhei-a até não conseguir mais alcançá-la com meus olhos. E sei que vai ser difícil esquecer daquela troca intensa de olhares com uma moça toda pintada de prata...
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