22.8.07

'Vidas Opostas': ficção no encalço da realidade

Jacson, o traficante da ficção: modelo para os bandidos da vida real?

Nunca vi um único capítulo de 'Vidas Opostas', a novela da Rede Record que chega ao fim nessa semana. Sei que se trata de uma história de sucesso; aliás, algo cada vez mais comum nos produtos da emissora paulista. O que é bom em todos os sentidos: oferta diversificada de teledramaturgia para o espectador, mais distribuição do bolo de recursos da publicidade para TV, e mais postos de trabalho para técnicos, cenógrafos, artistas, editores e para uma série de profissionais envolvidos na produção de uma novela.
Hoje, quis o acaso que eu me deparasse com um trecho da novela. E não há outro adjetivo para classificar o que vi além de realista. Desde a ambientação da favela fictícia até a interpretação dos atores - e nesse último caso, o destaque absoluto é Heitor Martinez, fazendo Jacson, o 'dono do morro'. Uma interpretação tão verossímil que a gente chega até a acreditar que, qualquer hora dessas, vai se deparar com a cara do Heitor estampada nas páginas policiais do jornal.
A cena? Uma perseguição pelas vielas do morro, regada a tiros e com uma execução no fim. Tudo bem produzido. Com direito à uma cena de decapitção! E aí que eu achei que o era demais se tornou muito. Muita violência pra uma novela; muito realismo! O traficante empunhava uma espada e decepou a cabeça do inimigo rindo e bradando aos demais moradores da comunidade que quem o desafiasse por ali teria fim idêntico. Um show de interpretação do Heitor, reafirmo. Mas acho que esse foi o único ponto positivo da história...
Fico me perguntando como uma cena desse tipo 'bate' em quem mora numa comunidade real. E, pior, fico me perguntado até que ponto uma representação tão realista daquela realidade não impulsiona, não inflama ainda mais os bandidos da vida real, não os motiva a querer agir como o Jacson da ficção.
Sei que não vivemos no melhor dos mundos e que, aliás, estamos longe dele. Sei que essa história de traficante com espada não é novidade aqui no Rio. Mas será que as novelas precisam mostrar isso?
Será?

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