Cigarro aceso na boca, olhava para o espelho no teto e buscava palavras para se dirigir a desconhecida que (tanto prazer) havia acabado de lhe dar. Não encontrou nenhuma e seguiu em silêncio, escaneando o ambiente com o olhar.
A luz do fim de tarde não entrava no quarto, protegido pela grossa cortina de veludo vermelho que pendia do teto. Ao lado da cama, onde imaginou que muitos outros o haviam antecedido, um abajur cor-de-rosa repousava sobre uma pequena mesinha de cabeceira, onde jaziam os utensílios da profissional.
Era a primeira vez que pagava por sexo. Era a primeira vez, em mais de vinte anos de intensa vida sexual, que se sentia tão constrangido, tão sem-rumo. Linda, a mulher ao seu lado não era sua. Sequer sabia o nome verdadeiro da moça, em quem tinha esbarrado acidentalmente no bar. Lá, ela se apresentou como Diana. Fascinado pela beleza, pela voz e pela pele macia daquela bela jovem, se perguntava que tipo de assunto deveria puxar. Aliás, será que se conversa numa hora dessas? Queria, tinha vontade de saber mais, de escutar mais aquela voz; enfim, de fazer qualquer coisa que pudesse garantir que aquele momento fosse prorrogado. Quem sabe, que aquele fosse apenas o primeiro encontro dos dois. Mas o instinto dizia apenas que o silêncio era mesmo a melhor alternativa...
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De olhos fechados, ela tentava controlar o batimento acelerado de seu coração. Ainda não estava habituada ao ofício, mas sabia que, daquela vez, o desconforto tinha uma razão diferente: pela primeira vez, naqueles difíceis seis meses na vida, um homem tinha conseguido lhe dar prazer. E isso nada tinha a ver com a (excelente) performance dele. Tinha a ver com aquele olhar...
Sentiu isso de cara, quando avistou aquele belo homem, meio sem jeito, chegando com dois amigos. Não demorou para que os companheiros se juntassem a outras meninas e o deixassem perambulando, com cara de quem está perdido numa cena errada, sem saber onde colocar as mãos e, menos ainda, pra onde voltar os olhos.
Olhos que a fizeram se derreter. E, cheia de coragem, ir até o bar, ao encontro daquele homem tímido que tanto a instigava. Sem estratégia melhor, optou por esbarrar nele e, fascinada por aquela voz de homem e, sobretudo, pela educação e pela conversa quase inocente que levaram durante quase uma hora; não teve dúvida de que queria ser dele naquela noite. Desbravando os próprios medos, apresentou-se com o nome de batismo, beijou muito e se permitiu fazer coisas pelas quais cobrava caro - e fazia, apenas, com os poucos clientes que lhe pareciam pessoas dignas.
Ali, ao lado dele na cama, chegou a ansiar por um novo momento em que ele a tocasse, acariciasse seus cabelos e a puxasse pra junto de si. Esperou pela hora em que aquela voz máscula iria novamente penetrar seus ouvidos, dando continuidade ao delicioso papo que tinham começado no bar. Fazia pouco tempo, tinham acabado de gozar. Ele falaria, claro que sim...estava na cara que ele era diferente de todos os demais...
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O cigarro acabou. E as palavras que iriam lhe tirar daquela embaraçosa situação não vieram. Teve vontade apenas de acariciá-la, mas teve receio de que qualquer tentativa fosse repreendida por ela. Era uma profissional, caramba! E o acordo feito tinha sido cumprido! O serviço, meu caro, já foi prestado!
Num impulso, virou-se pra ela...numa fração de segundos, pensou em beijá-la...
Receptiva, ela abriu os olhos e sorriu por percebê-lo novamente tão próximo...
Foi quando o celular dele tocou. Assustado, levantou-se para buscar o aparelho dentro do bolso do paletó, jogado pelo chão do quarto. Acendeu as luzes e Diana, ainda nua, envergonhou-se. Era a mulher dele, claro, ela pensou.
Não era. Era do escritório. Beto se esforçou para falar rapidamente e se liberar para voltar ao ponto em que tinham parado.
Quando voltou, Diana já abotoava o sutiã. Agora, era séria. Nem olhou mais em seus olhos. Terminou de colocar a roupa e estendeu a mão; queria seu dinheiro.
Ele deu. Deu até um pouco mais que o combinado...
Com os olhos molhados, ela notou a gorjeta e o achou o maior dos babacas que já tinha conhecido. Trocaria todas aquelas cinco notas de cem por mais um abraço e um beijo, como ele não percebeu?
Saiu do quarto batendo a porta. Beto, estranhando a própria tristeza, achou-se um imbecil por tecer qualquer esperança vã de amor com uma mulher como aquela...
Se vestiu e saiu quando o sol já estava se pondo. Nunca mais voltaria a um puteiro em toda a sua vida...
5 comentários:
Belo text Murilo!
Triste e o que muitos esses babacas ficar apaixonado com essas putas! ("Não, comigo e diferente rapaz! ela me amo!") kkkk
R$500?! caramba! junto-se com um pouco mais dinheiro e viajar para Bahia cara! rsrs
Abração!
Conto "muito legal", Murilo! Mas não dava pra mudar esse final, não?!? Achei meio pessimista e totalmente deprê... Afinal, a narrativa tinha tudo para terminar na linha "e eles foram felizes para sempre...", que prefiro mil vezes e sem constrangimento! Abs.
Brit: valeu pelo elogio! Adorei a opção baiana!
E quanto aos que se apaixonam...o amor tem razões que a própria razão desconhece, my friend!
Abs!
Serginho: final feliz sempre, só em novela das oito, rapaz! Ainda mais num conto como esse, né?
Abs!
Murilo!!! Nelson Rodrigues iria adorar o seu texto. Ele só iria acrescentar uns tapas e um flagra da esposa do Beto, que o aguardaria na porta com uma faca na mão...
Brincadeiras a parte, você escreve muito bem. Belo curta.
Que tal uma série?
Um Abraço a Todos!
Carlos Henrique, adorei a inserção da esposa na história! Ainda mais com o tapa e a faca na mão!rs...
Valeu pelo elogio, rapaz! E, sim, vou pensar na idéia de uma série...
Abs!
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