De onde veio esse manto de invisibilidade, caído sobre alguém de quem tanto se fala bem? Quando foi determinado que imperceptível seria um adjetivo associado ao seu nome, quando no singular, e aos seus sentimentos, quando no plural? Onde foi que sua trajetória se desviou do rumo que as demais trajetórias tomam, conduzindo ao caminho de alegrias, sorrisos e histórias alegres para contar? Por que, meu Deus, por que sempre era preciso saber de tanta coisa que lhe desagradava, que lhe magoava e que lhe fazia lembrar que, mesmo quando parecem, as coisas não estão se tornando melhores?
Perguntou tudo aquilo ao pedaço de papel branco. Nada ele respondeu. Então, leu, releu, amassou o confidente silencioso e arremessou para o portador de todos os seus segredos mais íntimos: o lixo.
Olhava para o cesto e podia enxergar todas as juras silenciosas de amor e fidelidade, todos os sonhos sonhados quando estava só, toda a esperança de que a fase ruim passaria logo; tudo estava lá, amassado, estragado. Relutava um pouco, mas deu o mesmo destino à coragem para continuar acreditando que um dia chegaria o seu dia.
Na estante, que só não estava mais empoeirada que seu coração, viu a ampulheta em seu eterno exercício de contar o tempo. E lembrou que cada grão de areia caído era uma chance única de ser feliz.
Cada vez havia menos areia por cair. E não estava sendo...
Um comentário:
Gostei! Beijos.
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