Num dia qualquer, tempos atrás, uma conversa parecia envolta por uma farta neblina. Espessa fumaça a esconder o que cada palavra queria dizer e o que, juntas, todas elas revelavam. Declaração improvável, impensada. E inquestionável, irresistível. Proposta irrecusável, desejo incontrolável de pular de cabeça no desconhecido.
Pulou...
Lá, a fumaça foi se dissipando. Deu lugar a uma paisagem muito menos estranha daquela que tentara imaginar do lado de fora. Reconheceu a plenitude de sua alegria logo no primeiro beijo. O desejo continuava lá, insaciável. Parecia ter certeza de tudo, via com uma clareza nunca antes experimentada.
Até notar a névoa tomar conta de tudo de novo. Devagar, entrando pelas frestas. Depois, tomando espaços, sufocando. Fazendo mesmo o que já lhe era familiar parecer estranho demais. Sentia-se prisioneiro, não era possível desvencilhar-se da neblina.
Tempos depois, quando nem mais acreditava que ela iria embora, experimentou a visão novamente. Clara, precisa. Certeira. E viu que tudo tinha mudado, que como a fumaça, todos os sonhos que haviam sonhado juntos também haviam se dissipado. E o que havia, agora, era apenas o fim.
Desfecho que nunca quis, com o qual não tinha contado nem nos piores pesadelos dos tempos de sua esfumaçada cegueira: cada qual pra um canto...
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