De repente, correria. Por trás de um dos ônibus parados no ponto-final, um cara vinha correndo, perseguido por vários outros. Corria sem roupa, rosto ensangüentado. Os algozes vinham logo atrás, gritando e ameaçando-o. A presa passou por entre nós, olhos aterrorizados. Os caçadores também cruzaram nosso caminho. Olhos petrificados, pura expressão da ira humana.
Sexta-feira, 8 e meia da noite. Centro do Rio de Janeiro...
Era um ladrão, pego por pessoas que testemunharam o delito. Estava pelado porque correu para fugir dos socos, tapas e pontapés que já tinha levado - e dos golpes com um pedaço de pau com o qual seria atingido em seguida. Na fuga, um dos agressores o segurou pela bermuda. O instinto pela sobrevivência falou mais alto: despiu-se e correu*.
Não sei o final dessa história. Não sei se o ladrão conseguiu escapar. Não sei se o mataram - como ameaçava um dos justiceiros - e também não sei se a polícia interviu....mas, honestamente, acho essa última hipótese muito pouco provável. Quase impossível...
O que sei é que esse fato me impressionou muito. O Centro da cidade é cheio de ladrões. E vazio de segurança. Falta polícia para proteger os cidadãos de bem. E para impedí-los de agir como animais em situações dessa natureza. Impedí-los de sujar as mãos em nome de uma "justiça" que não resolve nada. Só fere ainda mais a nossa dignidade - como indivíduos e como sociedade.
* Essa versão da história foi relatada pelo motorista do ônibus que eu peguei. Ele ria e parecia se divertir com aquela espécie carioca de "arena romana". E a cobradora, triste, parecia uma única voz chocada com tudo o que tinha acabado de ver.
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