Cristóvão estava dentro do ônibus, afrouxando um pouco a gravata para relaxar um bocado durante a viagem até o centro da cidade. Com o ar condicionado amenizando o calor que o terno o fazia sentir, recostou a cabeça no encosto do banco e fechou os olhos. Estava quase cochilando quando sentiu um toque suave em seu ombro. Assustado, abriu os olhos e viu a mais fiel tradução da perfeição em corpo de mulher. Vestida de normalista, a moça queria sentar justo ao lado do, ora boquiaberto, advogado.
Depois do esforço para disfarçar o choque que tamanha volúpia havia causado, Cristóvão deixou que a moça passasse para o acento próximo a janela. Foi uma atitude inconsciente e lucrativa: no caminho, a bela acabou roçando de levinho o ombro do doutor com seus glúteos firmes, apenas cobertos por uma sensual sainha de pregas...
Em poucos minutos, a mocinha normalista já estava acomodada. Cabeça apoiada na poltrona, fechou os olhos a caminho do sono. Cristóvão, então, dedicou-se a apreciar toda aquela beleza. Banhados pelo sol daquele início de tarde, mais claros ainda ficavam os loiros cabelos cacheados de Dalila - nome que o advogado acabara de atribuir à estudante. Claro também era o colo da jovem, parcialmente coberto pela clara blusinha do uniforme de normalista, com um botão entreaberto que revelava o começo dos seios altivos; benção da juventude.
As pernas, cobertas por rala penugem igualmente loirinha, estavam afastadas. E a imagem daqueles joelhos - um longe do outro - faziam o calor aumentar dentro do terno preto de Cristóvão, que já podia se imaginar perdido, brincando entre eles...
Foi quando sua mente emitiu um alerta: "Essa menina tem idade pra ser sua filha! Pode ser menor de idade! Isso é crime, seu velho pervertido!". Auto-advertido, fechou os olhos e tentou partir ao encontro da compostura esperada de um homem da lei. Cinco segundos depois, reabriu os olhos. "Ela tem 18 anos" era a frase que sua mente repetia à exaustão. "Sim, tem 18! Pelo volume dos seios, pelos quadris...só pode ter 18!", convenceu-se.
Os olhos de Cristóvão, então, puseram-se a passear ininterruptamente por toda a volúpia daquele jovem corpo de - recém-atribuídos - 18 anos. Com a pasta cheia de processos sobre as pernas, buscava esconder o processo que se passava por dentro de sua calça. Aliás, os últimos tempos faziam crer que aquele era um processo cada vez menos freqüente. Um processo pra lá de pertinente diante de uma normalista como Dalila...
Antes que pudesse concluir o processo com o discreto auxílio da pasta - o que teria acontecido mais facilmente, caso tivesse 25 anos a menos; Cristóvão foi surpreendido pelo despertar da jovem que, educadamente, ajeitou-se na poltrona, pediu-lhe licença, deu sinal e desceu do coletivo.
O doutor seguiu viagem e, à revelia, viu o processo ser arquivado sumariamente. Antes que o ônibus arrancasse, ainda pôde ver Dalila por uma última vez. E lembrou-se que devia fazer uns 30 anos que não se sentia daquela forma, vítima de uma simples professorinha...