16.1.10

Comentário sobre matéria do Jornal Nacional que mostrou resgate no Haiti...

Qual o papel do repórter? Reportar, com o perdão da obviedade. Essa função só existe - e apenas tem razão de ser - quando esse princípio é respeitado. Com a calamidade instaurada no Haiti desde o terremoto do início da semana, as principais redes de televisão do mundo enviaram suas equipes para o país arrasado exatamente para que eles contem ao mundo o horror vivido pelos haitianos que sobrevivem em meio ao caos.
Com as emissoras brasileiras não foi diferente...
Ontem, a Globo mostrou um furo no Jornal Nacional. Lília Teles, experiente correspondente internacional da emissora, passou pelas ruínas de Porto Príncipe e parou o carro no momento em que um grupo de locais, com o auxílio de soldados do Exército brasileiro, buscavam sobreviventes em meio às ruínas de um pequeno hospital. Um militar brasileiro se abaixou no monte de concreto e ouviu a voz da vítima. Foi a deixa para que começasse um longo resgate que, no total, durou três horas.
Para a Globo, o que isso significou? Um belo furo! Fico pensando em quantos milhões de brasileiros acompanharam, com os olhos vidrados na telinha, o drama daquela delicada operação, torcendo para que a enfermeira haitiana, soterrada há três dias, fosse retirada em bom estado de saúde dos escombros. Lilia Teles e seu cinegrafista, portanto, foram repórteres.
Claro, há senões no episódio: é correto que um militar brasileiro fale com repórteres em meio ao resgate de uma vítima que espera por água, por exemplo? É prudente que tantas pessoas estejam na mesma área onde há soterrados? É pertinente que a repórter diga que a sobrevivente "está acenando pra gente"?
Cada cabeça, uma sentença. O Haiti é, hoje, a mais perfeita imagem de uma tragédia. E creio que todos os envolvidos nos trabalhos no país, sem exceção, estão profundamente abalados pelo cenário que os cerca. Talvez, por exemplo, o militar tenha falado com a repórter numa explosão de alegria, em êxtase, por conseguir achar vida em meio ao caos.
Na minha opinião, Lília Teles e seu cinegrafista foram, essencialmente, repórteres. Humanos, expostos ao risco do erro, porém, sobretudo, competentes na missão de levar essa história de superação ao povo brasileiro, tão ansioso por notícias do Haiti.
E, diga-se de passagem, TODAS as emissoras de televisão dariam tudo para exibir uma matéria como essa em seus telejornais...
Se ainda não viu a matéria, assista aqui.
E você, o que achou?
Comentaê!!!

Um comentário:

Amanda Hora disse...

Não vi nada de errado quando assisti a matéria. Depois li comentários sobre a repórter dizer que a vítima estava acenando, mas achei que foi uma forma de dizer que ela estava bem, que aparentemente sairia bem daquela situação.