Faz pelo menos umas quatro novelas das oito que, quando o fim da trama se aproxima, começa a mais chata das polêmicas: vai ter ou não um beijo gay?
A história começou com "América". Na novela de Glória Perez, a cena chegou a ser gravada e, horas antes de ir ao ar, a Globo optou por não mostrá-la. Isso depois de a seqüência ter sido amplamente divulgada pela imprensa.
Mais recentemente, "Paraíso Tropical" também tinha lá seu casal de homens. Mas, dessa vez, a polêmica partiu da mídia e os autores nunca demonstraram interesse em mostrar a carícia em horário nobre. E o "fim" apareceu na tela sem que os personagens de Carlos Casagrande e Sérgio Abreu se beijassem.
Agora, chega a vez de "Duas Caras". E Aguinaldo Silva já anunciou: escreveu a cena do beijo entre Bernardinho e Carlão. Desde então não há um único dia em que as colunas sobre televisão não publiquem uma, duas notas especulando sobre a exibição ou não da seqüência. Um saco!
De uns tempos pra cá, toda novela que se preze tem que ter um par gay. Dizem que é a era do politicamente correto. Só que esse suposto avanço esbarra nessa falta de tato na hora de lidar com a questão de um beijo. Na mídia, lemos que a emissora tem medo de chocar o público. Chocar? Quer dizer que os homossexuais podem ser alvo de chacota no "Casseta e Planeta", no "Zorra Total"; podem ser exibidos como caricaturas em vários programas - dentre eles, algumas novelas - e não podem ter uma conduta normal, de casal que são? Cá pra nós: o que o público pensa que Bernardinho e Carlão fizeram na cama? Aliás, Carlão chegou a gritar que tinha sido o "ativo" no colóquio carnal entre os dois, lá pelo início da história. Isso não chocou?
Essa discussão revela, sim, uma tremenda hipocrisia. Os gays na novela são chamariz de audiência, nada mais que isso. Viram moeda de troca, usada para capitalizar e mobilizar platéias. É claro que a existência de personagens homossexuais nas tramas ajuda na diminuição de preconceitos - quando há uma abordagem séria do tema - mas essa polêmica boboca revela um despreparo total para o encaminhamento dessa questão na televisão brasileira. Afinal, se o fim de uma novela é modificado porque um beijo gay pode chocar o público, será que também é levado em conta o que pode vir a chocar o público homossexual?
Não tenho as respostas. Mas acho que o preconceito idiota sobre a orientação sexual alheia só vai ser quebrado no dia em que olharmos com naturalidade para essa diversidade. No dia em que os gays não precisarem se esconder para namorar, no dia em que seus direitos forem amplamente respeitados e, também, no dia em que um beijo fictício deixe de ser razão de polêmica nacional. E acho que se a televisão já avançou tanto desde "A Próxima Vítima", quando o primeiro casal de homens foi mostrado de maneira séria e aberta na televisão, já passa da hora de dar mais um passo e provar que, talvez, a cabeça do telespectador já esteja muito mais aberta que a dos executivos da TV...
2 comentários:
A polêmica em torno do beijo gay se transformou numa novela mexicana - com trocadilho, por favor. Como você observou, a questão da homossexualidade virou moeda de troca. Muitas vezes os gays - na mídia e na sociedade - são tratados como aberrações num circo dos horrores. Ninguém quer ver, mas no fundo há uma curiosidade absurda para dar uma espiadinha pra ver como é que é.
Oi Murilo,
Eu concorda 100% com vc.
E eu acredite o que graças a televisão Brasileira (principalmente Globo) a preconceito ficar muito forte nesse pais, e programas "comedias" não ajuda com personagems gay mostado como "aberrações num circo dos horrores" como o Gustavo falou, tudo isso e uma pena, ainda mais quando as crianças assistir essas programas e ficar com preconceito tb, mas isto e "o jogo" do Globo.
E um pena o que o Brasil e pelo menos 10 ou 15 anos atras de Europa em essas coisas, la em Inglaterra por examplo já e normal para tem um beijo gay no televisão qualquer hora de dia ou noite, mesmo de heterosexual, e a primeiro beijo gay em uma novela Inglês de 19,00 horas foi 15 anos atras...
Abração
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