Logo cedo, acordei e vi na TV o fim do "Mais você". Com tom grave, Ana Maria Braga se despedia dos convidados e dos telespectadores e justificava a não-apresentação do "conteúdo próprio" do programa. Na hora, percebi que mais uma edição do matinal da Rede Globo tinha sido integralmente dedicada ao caso da menina Isabella.
Em seguida, o "Globo Notícia" entrou no ar e Sandra Annenberg me fez entender as cenas do capítulo de hoje desse caso que a mídia transformou em novela: os principais suspeitos do assassinato da garota iriam sair de casa para depor. As imagens já deixavam claro o investimento na cobertura: tomadas de helicóptero e vários repórteres mobilizados para mostrar o exato momento em que Alexandre Nardoni e Anna Carolina Jatobá deixariam a casa rumo à delegacia.
Migrei para a concorrência e, numa rápida passagem pela Rede TV!, vi Olga Bongiovanni com o mesmo tom grave da loira concorrente, dizendo que torcia para não precisar noticiar que o pai e a madrasta de Isabella são os responsáveis pela morte da menina. Em seguida, entra um VT com uma espécie de "comovente homenagem" ao aniversário de Isabella, que seria comemorado hoje. Foi demais pra mim e optei por mudar de canal. Sem contar que é impressionante a capacidade da Rede TV! de errar feio. E quase sempre...
Na Record, que tem liderado a disputa pelo Ibope nas manhãs desde que o caso eclodiu, o "Hoje em dia" também deu adeus ao habitual conteúdo para manter o telespectador informado de todos os passos do casal Nardoni. Britto Jr, um dos apresentadores da "revista eletrônica matinal", chamava repórteres o tempo todo e fazia questão de demonstrar que as "novidades" do caso teriam total prioridade no programa. Novidades que, no entanto, eram raras e obrigaram o programa a exibir à exaustão imagens de reportagens antigas sobre o caso.
Em suma: essa foi uma manhã em que ficou claro que o covarde assassinato de uma menina virou arma da cada vez mais acirrada guerra pela audiência entre as emissoras de televisão. É claro que o caso mobiliza a atenção dos espectadores e que todos querem ser informados dos passos da polícia rumo ao desfecho dessa triste história. Mas, ao menos pra mim, também é claro que as emissoras de televisão poderiam cumprir esse papel de maneira mais serena; sem que os passos da ivnestigação parecessem novos capítulos de uma novela; sem que a opinião pública fosse convidada, a todo o instante, a "dar uma espiadinha" nesse que, até o momento, tem sido uma espécie de reality show transmitido em pool pelas redes televisivas. E, principalmente, sem que tantos e tão diversos programas e jornalistas caíssem na tentação de mandar o casal de suspeitos para o paredão da vida real.
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