O céu estava tingido de um azul intenso como não via há tempos. Era final de manhã e dirigia pensando na vida, olhando para as bobagens que os outros motoristas cometem no trânsito. Pensava em coisas triviais, como engrenar a marcha, observar o sinal de trânsito e desviar dos incontáveis buracos que tomavam conta da pista quando, num piscar de olhos, reconheceu aquela esquina...
Olhou em todas as direções e flashes de sua memória lhe revisitavam: o supermercado ali em frente, o ponto de táxi, a placa de trânsito e, lembrou bem, a locadora de vídeos ali nas redondezas. Já certo de onde estava, virou os olhos e avistou: lá estava o prédio! Aquele prédio! Lugar de tantas noites felizes, de tantas músicas ouvidas e cantadas. De tantas cantadas terminadas em beijos. De tantos beijos que sempre foram o primeiro passo de todo o melhor que sempre esteve por vir em todas as vezes que estivera ali naquele prédio.
O sinal abriu e deu a partida, deixando para trás aquele lugar que, agora, lhe parecia tão dileto. Para os outros, apenas um prédio, como há milhares em toda a cidade. Mas não era assim que via as coisas. Naquele fim de manhã teve certeza de que não importaria por quantos edifícios passasse, nem quantos pudesse vir a conhecer; como também não importaria o lugar em que estivessem fincadas essas construções: aquele seria, para sempre, o prédio onde havia experimentado alguns dos melhores momentos de sua vida...
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