Sem avisar, sem dar pistas, quase por acaso. Exatamente da forma como tinha aparecido, sumiu. Foi embora carregando coisas das quais nem podia se dar conta. Bagagem pesada demais, se houvesse um corpo físico capaz de traduzí-la, de fato, em quilos. Ou toneladas. Malas e mais malas de um amor puro, verdadeiro. Embrulhos incontáveis, cada qual cheio de sonhos que não chegariam a realizar juntos. Pacotes de esperança, que havia despertado, mesmo sem querer, ao surgir, algum tempo antes, como uma boa oportunidade de fazer nascer uma história plena.
Para quem havia ficado, tinha dias em que a tal bagagem não fazia falta. Em outros, porém, a ausência era sentida do primeiro ao último minuto daquelas vinte e quatro horas contadas e medidas por uma saudade que só fazia crescer. Nesses saudosos dias, até o vento batendo em seus cabelos trazia lembranças do jeito como aqueles outros cabelos eram bagunçados ao sabor da brisa. Dias estranhos, nos quais mesmo os bons momentos lhe entristeciam, por saber não poder compartilhá-los com aquele seu amor. Os maus, estes reforçavam ainda mais a impossibilidade de ter aquele alguém por perto, dando força, dando conselhos e dando, quando conselhos e força não bastassem mais, um longo abraço.
Nesses dias, seus sorrisos eram quase fraudes. Ensaios de uma felicidade que, um dia, achou ter encontrado. E que, sem mais, nem menos, se foi. Ressentia-se da falta de uma despedida e, num exercício de quase mutilação, esforçava-se para lembrar de como havia sido o último encontro. Lembrava e, então, lamentava por tudo o que gostaria de ter dito e não disse. Lamentava pelos momentos únicos que havia deixado passar sem fazer algo que pudesse ter impedido que o fim de tudo fosse assim. Algo que não sabia o que era.
E lamentava, sobretudo, a não existência de uma foto qualquer em que aparecessem juntos e sorrindo. Um jeito de amansar a saudade e de lembrar, para todo o sempre, que haviam, sim, sido felizes naquele tempo...
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