Dia desses, Renata Ceribelli escreveu sem seu Twitter que a imprensa tem uma parcela de culpa em tragédias como a do Morro do Bumba. Retuitei a mensagem de Renata por concordar com ela. Vendo as dimensões dessa tragédia anunciada - que sequer são totalmente conhecidas até o momento - eu me pergunto como uma bomba relógio como aquela permaneceu armada, sem que ninguém ouvisse seu ameaçador "tic-tac". Sem que a imprensa percebesse o pavor da história de vida daquelas centenas de pessoas vivendo sobre um lixão.
E fico me perguntando o porquê de tamanho absurdo não ter sido notado. Talvez porque estejamos todos - inclusive a minha classe, a dos jornalistas - insensíveis ao fato de que os pobres, nas periferias das grandes cidades, serem tratados como lixo. E se assim são vistos, passa a ser natural que habitem sobre um lixão.
Talvez as condições de vida no Morro do Bumba jamais tenham sido denunciadas porque a imprensa anda elitista demais, porque as redações estejam repletas de coleguinhas habituados ao mundinho Zona Sul, que sequer sabem as cores e os cheiros da cidade que há depois do túnel.
Talvez aquela triste realidade jamais tenha encontrado o merecido espaço em sites, jornais, revistas e programas de rádio ou TV porque estamos, todos - jornalistas ou não - cada vez mais focados em nossos umbigos...
Uma pena....
Hoje, no fim do Profissão Repórter, Caco Barcellos foi abordado por um morador de uma das comunidades atingidas pelo rastro de destruição e morte deixado pelos temporais da semana passada. Sofrido, o homem pedia "um favor": que Caco voltasse ao local dentro de seis meses, para ver como aquela comunidade estará vivendo. Experiente, o repórter respondeu: "Não é um favor, é nossa obrigação". Concordo com Caco. É mesmo obrigação de todos nós estar em comunidades como aquela; denunciar situações como aquela. E, sobretudo, alertar para que tragédias daquelas proporções jamais se repitam.
No Morro do Bumba, falhamos todos...
3 comentários:
Colega, essa semana assitindo ao VT do sempre excelente 'Conexões Urbanas' no Multishow uma das entrevistadas - jornalista do Estadão, eu acho - falou sobre a dificuldade q a mídia tem em reportar a realidade das favelas por puro desconhecimento e fundamentou sua opinião numa questão simples: qts jornalistas 'favelados' estão produzindo na grande mídia? Eu e vc fazemos parte de uma elite q apesar das dificuldades conquistou o diploma e o ganha-pão fazendo o que escolheu, mas minha casa nunca ficou alagada (graças a Deus)e minha história não desmoronou. todas as notícias são um resumo do que alguém julgou mais importante e esse alguém com certeza não morava no morro do bumba.
P.S. na entrevista do 'conexões' a reporter falava sobre os conflitos urbanos, mas acho q se aplica perfeitamente a tragédia da #chuvarj. Ela ainda comentou que as favelas do rio ganham destaque pq a bala perdida acerta a janela do cara q mora de frente pro mar, já as favelas de sampa, por exemplo, não viram notícia com tanta frequencia pois vitimizam apenas a mesma classe social... Gostei dela!
Murilo,
Mais uma vez, fiquei muito sensibilizada com teu texto e acho que ele rende uma boa reflexão,pois é fato que a imprensa promove um "mundo da fantasia", enquanto se distancia cada vez mais do propósito original da profissão, tão bem destacado por você!
Evidente que ainda é muito pouco, mas o primeiro passo para reverter isso é mesmo refletir, pôr esse assunto na pauta da mente e do coração. Em setembro do ano passado a questão foi assunto de um post do "Bate e rebate". Se puder, dá uma olhada: http://bateerebate.blogspot.com/2009/09/entulhos.html
Beijos
Lu, boa a posição da coleguinha mesmo. Se tiver o nome dela, manda depois.
Concordo, claro! Sobra a visão da Zona Sul nas redações. E falta gente que conheça a cidade como ela é fora dos cartões postais.
Bj!
Raquel, brigado pelo carinho de sempre. Vou dar uma olhada no teu texto agora.
Bj!
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