7.4.10

Chuvas no Rio: desabafo de um carioca...

Pai carrega o corpo do filho, uma das vítimas fatais da tragédia que se abateu sobre o Rio de Janeiro
Desde terça pela manhã, quando cheguei em casa depois de passar a noite da tempestade na TV, acompanho as notícias sobre a calamidade que se abateu sobre o Rio. Dormi pouco, agitado com tudo o que tinha visto pelo caminho; um rastro de desgraça espalhado pelos quatro cantos da cidade.
Até o momento, são 138 mortos. Número que pode aumentar substancialmente, visto que ainda há muitos desaparecidos e que, há pouco, mais um grande deslizamento de terras atingiu casas em um morro, em Niterói. As primeiras informações colocam ao menos 60 pessoas soterradas.
Toda essa tragédia me deixou muito triste. Lembro especialmente de um motoboy que escapou do desabamento da própria casa por um buraco, mas sem conseguir salvar a mulher e o filho. Lembro da mãe que perdeu os dois filhos. Da mãe que foi resgatada e viu que o filho, deficiente, não teve a mesma sorte. Lembro da história da criança de 8 anos que, prestes a ser resgatada pelos bombeiros, foi coberta por mais escombros, frutos de um novo desabamento. Foi encontrada no dia seguinte, sem vida. Sem falar na expressão de dor do pai que escolhi para publicar sobre esse post. Carregando no colo, pela última vez, o filho...
Vejo toda essa dor e me sinto impotente. Pequeno demais diante de tamanha tragédia. E sinto, meus amigos, muita revolta. Não de Sérgio Cabral, Eduardo Paes ou Lula. Sinto revolta contra toda a sucessão de culpados, que, há décadas, viraram as costas enquanto todo esse cenário assombroso que estamos vendo hoje começou a se desenhar nas encostas dos morros. São esses os culpados pelo caos e pela dor que tantos cidadãos cariocas e fluminenses estão amargando.
E antes que alguém me acuse de defender Lula, Cabral e Eduardo Paes por eventual afinidade política ou eleitoral, advirto: para os três, tomar qualquer atitude diante de um cenário construído ao longo de décadas de permissividade com o uso da terra é muito mais difícil. Como todo problema, esse deveria ter sido atacado na raiz. Mas não foi o que os responsáveis, à época, optaram por fazer. Afinal, uma atitude firme e não-popular não rende votos...
Nessa hora, todos somem. Mas ontem, um desses senhores teve a pachorra de surgir no Twitter para dizer que o volume de chuvas não "justifica" o caos carioca. Fui obrigado a respondê-lo que, talvez não justifique. E que, talvez, tenha faltado dinheiro. E que, ainda talvez, esse dinheiro tenha sido gasto por ele numa obra faraônica chamada Cidade da Música.
Fosse esse um país sério, gente desse tipo estaria banida da vida pública. Afinal, sobre a tal Cidade da Música, que ele inaugurou sem sequer estar pronta - como ainda não está - pairam grandes suspeitas de irregularidades.
Fosse esse um país sério - e fosse nossa gente consciente de suas responsabilidades - gente dessa laia jamais seria eleita em qualquer tipo de pleito. Pelo simples fato de carregar, na testa, o rótulo de co-responsável por uma tragédia de tamanhas proporções em nossa tão amada Cidade Maravilhosa...

2 comentários:

Raquel Med Andrade disse...

Murilo,
Você foi perfeito!Parabéns pela coerência e contundência do teu texto, obra prima publicada nesse espaço!Obrigada por ultrapassar as barreiras do lamento silencioso.
Beijos!

Vitor disse...

Filhote...não esqueça da prece para os que foram...e para os que ficam. Parece pouco, mas boas energias ajudam sempre. É triste mesmo. (E bonito texto, rapazinho.) Inté.