Carl Gustav Jung cunhou o conceito de sincronicidade na primeira metade do século passado. O termo foi usado para definir acontecimentos que se relacionam não por mera coincidência e sim pelo significado. Ou seja: quando está em cena um significado igual ou semelhante e não a causalidade.
Ontem, três fatos me levaram a pensar num mesmo tema. E essa tema me levou a escrever esse post. Mais um sobre a homofobia.
Quando um jornal direcionado aos alunos de um curso da maior universidade pública do país incita estudantes a jogar "merda" em "veados" para, assim, ganhar ingressos para uma festa, nota-se que valores como dignidade e respeito estão longe de fazer sentido para essa gente. E estamos chegando ao fim da primeira década do terceiro milênio...
No Programa do Jô, Luiz Mott, um dos fundadores do Grupo Gay da Bahia, falou sobre preconceito, ironizou as novas siglas do Movimento Gay e chamou a atenção para fatos históricos que demonstram que, em outros tempos, ter uma orientação sexual diferente da que se convecionou achar a "padrão" não chocava. Citou a Grécia Antiga e seus deuses. Belos e bissexuais. Citou Freud, para quem todos nós somos bissexuais por natureza. E citou o Big Brother Brasil, em sua décima edição, pelo mérito de ter colocado em discussão em todo o país o conceito de homofobia, bem explicado por Mott como o "racismo contra os gays".
Depois do Jô, mudei a TV para o TC Premium e me deparei com Milk, a voz da igualdade. Um grande filme, que choca por mostrar como, há pouco mais de 30 anos, as sociedades eram intolerantes e cogitavam reprimir os direitos civis de cidadãos homossexuais. Sean Penn faz um grande trabalho ao interpretar Harvey Milk, o primeiro homossexual assumido a ser eleito para um cargo público nos Estados Unidos, na segunda metade de década de 70. Milk travou uma árdua luta contra grupos cristãos que, sob as mais toscas justificativas, tinham o objetivo de banir os gays da face da Terra.
Quando o filme acabou, foi inevitável associar a história que tinha acabado de conhecer à entrevista de Luiz Mott e ao triste episódio que ocorreu na Faculdade de Farmácia da USP. E foi igualmente inevitável pensar em como permanecemos estaganados, importando-nos com o que cada um faz de seu corpo e de seus desejos, em vez de brigar mais pelo que realmente importa à coletividade.
Afinal: por que será que os homossexuais da USP incomodam tanto ao autor da infeliz frase publicada no jornalzinho da faculdade? Será que ele não devia se importar com as condições da Universidade? Com a aplicabilidade dos conhecimentos que tem desenvolvido em seu curso? Com as condições do mercado de trabalho que deverá recebê-lo em breve? Com os rumos da política nacional? Diante de tanta coisa mais interessante, um sujeito jovem resolve pregar a intolerância, o preconceito e a violência contra gays. Só posso concluir repetindo uma das ótimas frases de Luiz Mott em sua entrevista a Jô Soares: "Todo machão preconceituoso guarda dentro de si uma bicha muito doida!".
Portanto, esse infeliz que conclamou aos colegas a jogarem "merda" nos "veados" devia, sim, começar esfregando "merda" na própria cara. E, depois de se lavar, cair em si e começar a brigar pela sociedade melhor e mais justa que todos queremos. É para isso, aliás, que pagamos os impostos que permitem a um imbecil como ele a oportunidade de estudar, de graça, naquela que é apontada como a melhor universidade do país.
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