Dia desses, num almoço com companheiros de trabalho, falávamos sobre a série da TV Globo e a cobertura que a imprensa brasileira tem dado para a vida dos famosos. Em todo o mundo - e isso é um fato - o jornalismo de celebridades conquista espaço no mercado, atrai anunciantes e desperta cada vez mais o interesse do público. A demanda por notícias sobre os famosos - de todos os tipos - só faz crescer e, atentos ao fenômeno, setores da mídia abarrotam bancas de jornais, sites e mídias sociais com notícias de cunho duvidoso.
Seria jornalismo? Seria entretenimento? Seria a boa e velha fofoca?
Definir e/ou classificar esse tipo de cobertura é algo muito complexo. Complexidade que, em geral, falta aos textos e reportagens dedicados a tratar de temas como "Fulana vai ao shopping" ou "Beltrano joga futevôlei na praia".
Antenado, Miguel Falabella mirou nesse alvo e levou para a televisão, com grande ironia, os bastidores desse louco mundo que transformou celebridades em caça e parte da imprensa em caçador. Mas o grande mérito da série é mostrar que esse não é um jogo de cartas tão marcadas e que, em muitos casos, esses papéis de caça e caçador se invertem, se combinam e funcionam a serviço de uma lógica única: a venda de produtos. Para parte das celebridades, a própria imagem é o bem mais valioso e a exposição constante faz desse valor algo cada vez maior. Para as publicações voltadas para o tema, ter notícias envolvendo alguém que atraia o interesse do público é garantia de vendas, de cliques e de audiência. Um jogo de interesses no qual a ideia - quase sempre - é que todos saiam ganhando.
E aí está outra qualidade do trabalho de Falabella em A Vida Alheia: mostrar as artimanhas empregadas quando a proposta não é exatamente a de enaltecer ninguém. No tal almoço com os amigos do meu trabalho, alguém disse que a série apresenta uma visão "rancorosa" da mídia que, "aqui no Brasil não se vale de recursos como câmeras secretas, flagrantes invasivos" e etc. Eu argumentei que a série é ficção, não pretende um tom documental. E relativizei dizendo que, aqui e ali, há casos em que a mídia brasileira dá, sim, mostras de que vale tudo pela notícia. Mesmo quando essa notícia, do ponto de vista do interesse público, não vale nada.
Agora, navegando pela web, achei um desses exemplos. Uma matéria publicada pela coluna Retratos da Vida, do jornal carioca Extra. Um flagrante do ator Marcos Pasquim traindo a namorada numa boate. A namorada em questão também é famosa: a atriz Suzana Pires. Eis o link.
Muita gente pode dizer que Pasquim é uma pessoa pública e foi flagrado em ambiente público. E mais: que chegou a fazer pose para as fotos. Sim, é verdade. O que mais me chocou na história foi a informação de que a coluna ligou para a atriz antes de publicar as comprometedoras fotos para checar sobre o andamento da relação dos dois. Desavisada, a moça disse que tudo estava às mil maravilhas. O trâmite tem explicação: era preciso ligar para que a (até então) suposta traição fosse confirmada. Afinal, se a atriz dissesse que o namoro já estava acabado, não haveria "notícia".
Diante dessa história toda, pergunto: era preciso publicar essa conversa? Suzana Pires, que não foi flagrada em lugar nenhum, merecia ser exposta como "corna" assim, nacionalmente? Essa é ou não é uma demonstração de que o jornalismo de celebridades embarcou numa busca desenfreada por histórias que não respeitam os limites da vida alheia???
Acho esse um tema instigante. E polêmico, sem dúvida...
E você, o que acha?
Comentaê!!!
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