20.4.07

Horizonte distante*

A correnteza era forte e seus braços estavam cansados. A água era fria, turva, inimiga imbatível. Chovia bastante e não conseguia ver quase nada do que havia à sua frente. Nadara muito, até demais pra quem sempre esteve contra a maré. Buscava um horizonte cada vez mais inatingível, onde, como em seus sonhos, estaria livre das ameaças, encontraria abrigo. E onde, enfim, poderia ser feliz.
Braçadas infrutíferas, que não conduziram à lugar algum. Até ali, seguira tentando só por acreditar que, um dia, quem sabe, a correnteza pudesse ceder. Por muito tempo torceu para que chegasse o momento em que as águas clareassem, tornassem-se menos gélidas. Um dia outro, de sol e de céu claro, em lugar das nuvens escuras de agora.
Dia que não veio...
Quando parou de nadar, sentiu na boca o gosto amargo da derrota. Era um sabor tenebroso, que começava como que num pontapé em seu estômago. A correnteza não cessava. Brincava com seu corpo, ora empurrando pra um lado, ora pro outro. Não tinha forças, não sabia mais o que pensar. Lembrou apenas de seu novo e belo horizonte, que, agora sabia, não chegaria a alcançar jamais. Fechou os olhos e, antes de afundar nas águas escuras de sua dor, tentou se convencer de que, se havia nadado errado - ou mal - o fizera com o único objetivo de acertar.
Mas havia errado...
(Título extraído da canção homônima do grupo Los Hermanos, composta por Marcelo Camelo)

Um comentário:

Carlos Zev Solano disse...

Bela metáfora Murilo.
Abraços e um bom feriado.

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