No último domingo eu cobri a Parada Gay do Rio. Vi a Avenida Atlântica tomada por uma multidão colorida, alegre e consciente da importância das reinvindicações do Movimento Gay. Há muito o que avançar no que diz respeito à garantia de direitos básicos para homens e mulheres que amam pessoas do mesmo sexo e que, muitas vezes, são tratados como cidadãos de segunda classe. Reflexo de um preconceito cristalizado, segundo o qual a sociedade julga essas pessoas pelo que elas fazem entre quatro paredes, e não pela vida que levam em grupo.
Entrevistei gays, lésbicas e travestis. Entrevistei um rapaz heterossexual que foi à parada para apoiar o pai, homossexual assumido. Entrevistei uma senhora lésbica que se disse descrente do poder de mobilização da parada - segundo ela, apenas um "momento de liberdade". Ouvi um jovem dizer que "ser gay é ser normal, como outra pessoa qualquer". E ouvi muitas coisas que me fizeram crer que o Brasil pode estar avançando como sociedade que respeita os direitos individuais.
Aí, voltei pra casa. E vi a história do jovem agredido com lâmpadas na Avenida Paulista, coração de São Paulo. Horas depois, soube do jovem agredido no Arpoador, logo depois da Parada Gay, no Rio de Janeiro. Casos isolados, mas que jogam luz sobre uma trágica realidade: a homofobia é parte do cotidiano de milhões de brasileiros diariamente.
A mídia pouco noticia casos dessa natureza. E, como li dia desses no Twitter de @jeanwyllys_real, quando esses fatos ganham espaço, raramente aparecem associados ao termo "homofobia". Há medo de assumir - e, portanto, de enfrentar - essa grave forma de discriminação. Cheguei a ouvir ontem um comunicador de rádio dizer claramente que o jovem foi baleado no Arpoador porque estava namorando num local público, enquanto "devia estar namorando em casa". Segundo o radialista, "ainda não estamos preparados para ver dois homens se beijando".
Pergunto: estamos preparados para ver alguém usar um microfone para banalizar um crime?
É claro que a sociedade é heteronormativa e, portanto, resiste à ideia de ver casais de iguais trocando carícias publicamente. Mas também é claro - e um evento de mobilização como a Parada Gay do Rio ajuda a comprovar isso - que esses tabus precisam ser revistos. Eles não podem impedir o avanço das conquistas das minorias. Tabus como esses existem para que sejam superados. Do contrário, ainda teríamos negros sendo trazidos da África como escravos e mulheres tolhidas de qualquer direito à participação nas decisões coletivas e impedidas de ingressar no mercado de trabalho.
Fico feliz de trabalhar numa emissora que cobre um evento como a Parada Gay sem interesse nos estereótipos e sem "carnavalizar" uma mobilização que é séria. E que, se tiver atendidos suas reinvindicações, poderá impedir que novos gays, lésbicas, transexuais e transgêneros sejam vítimas fatais de crimes bárbaros como esses de que tivemos notícia nos últimos dias.
A gravação que fiz para o Salto vai ao ar na temporada de 2011. Aviso aqui quando estiver perto.
E você, o que pensa a esse respeito?
Comentaê!!!
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