Desde domingo, a população do Rio de Janeiro vive assustada. A onda de ataques incendiários a automóveis, ônibus e vans - em vários pontos da cidade e da Região Metropolitana, além de Cabo Frio - parece ter pego de surpresa os cariocas, numa inversão da lógica de redução dos índices de violência que vinha sendo registrada ao longo dos últimos 15 meses.
Se nos prendermos aos fatos, veremos que, depois de décadas encarando a questão da Segurança Pública como uma colcha de retalhos de ações pontuais, o Estado do Rio tem construído uma política clara na área. Essa política prevê a recuperação de territórios ocupados pelo crime organizado e a pacificação dessas comunidades por meio da instalação de unidades de policiamento. De acordo com o Governo do Estado, as UPPs tiraram mais de 200.000 cariocas do domínio da marginalidade.
Ainda atendo-me aos fatos, causa estranhamento, no entanto, que a política de pacificação tenha transcorrido na mais perfeita tranquilidade. Lembro-me apenas de reações pontuais no Pavão-Pavãozinho, em Copacabana. Em geral, a polícia chegava e encontrava a comunidade abandonada pelo tráfico. E a sociedade ficava sem entender o rumo que os marginais estavam tomando.
Esses são os fatos. Que geraram boatos...
Qual foi o carioca que não ouviu dizer que, acuados pela ação policial, os bandidos estavam se reunindo no Complexo do Alemão? Qual morador do Rio não soube que a Rocinha estava tomada de armas, que os traficantes estavam recrutando moradores e distribuindo armamento para reagir a uma eventual ocupação pela UPP? Quem não ouvir dizer que as UPPs expulsariam os bandidos dos morros e os jogariam no asfalto?
Boatos que até fazem sentido, mas que ainda não foram comprovados. As ações empreendidas por criminosos desde o último domingo revelam, sim, que eles se sentem na necessidade de brigar porque, pela primeira vez, estão acuados por uma política que não apenas reprime, mas que, de fato, enfraquece o crime e o tráfico de drogas. Ao recompor territórios dominados até então pela criminalidade, o Estado demonstra força e passa a contar com o apoio da população. Basta ver que o tema da segurança foi determinante na última eleição para o governo do Rio.
E é contra esse apoio da população que o crime organizado se volta. Ao fabricar o medo, os bandidos pretendem ver a sociedade, acuada, se voltar contra a política das UPPs, numa lógica simples: devolvam os morros pra eles pra que possamos ter paz no asfalto de novo. O que os bandidos querem, portanto, é repartir a cidade que as UPPs estão começando a unir. Querem que tenhamos medos de uma política que está jogando a bandidagem pra cima da classe média, e tirando esse ônus apenas das classes mais populares.
Concordo quando o governador fala em desespero. E esse despespero não pode contaminar a sociedade. É lastimável ver que perfis no Twitter e em outras redes sociais espalhem o terror, propagando boatos infundados. Hoje, li sobre incidentes em dois shoppings importantes da cidade. E nenhum dos dois episódios, de fato, aconteceu. Disseminar o medo não contribui em nada para que o atual estado de coisas seja revertido e não nos ajudará a retomar a paz e a vida normal. É claro que precisamos de cautela. Mas duvido que alguém, que não esteja a serviço da bandidagem, tire proveito da boataria.
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