Primeira mulher eleita Presidente do Brasil, Dilma Rousseff conquistou cerca de 56% dos votos válidos |
Já no início da cobertura das eleições, a imprensa falava numa campanha plebiscitária. PSDB x PT, disputando voto a voto o direito de comandar o país pelos próximos quatro anos. Acompanhei todo o processo com particular interesse - porque realmente gosto de política - e confirmo esse tom polarizado na disputa. Mas creio que ele foi muito além da briga entre as duas legendas mais fortes da jovem democracia brasileira...
O que vi ao longo dos últimos meses aponta para um país dividido. Um país marcado por preconceitos que, de tão profundos e arraigados, fazem-se crer inexistentes. Uma nação na qual parece ter valor apenas o saber da Academia, na qual só pode ter autoridade para representar sua população um orador fluente, capaz de dominar a língua e todos os seus meandros. Preconceito antigo, que há pelo menos 25 anos recai sobre Luiz Inácio Lula da Silva...
E esse foi apenas um dos preconceitos que desabaram sobre Dilma Rousseff desde que seu nome começou a despontar nas pesquisas de intenção de voto. "Ela fala mal", diziam uns. "É grossa", disparavam outros. "É feia", opinava outro grupo. Sem falar em outros comentários que, de tão pequenos, sequer merecem menção. Um lamentável show de preconceitos estampados na testa de muitos cidadãos.
Mas, na minha opinião, nada pode ser mais cruel do que o preconceito de classes. Sim, ele não só persiste como é muito forte. E, nessas eleições, surgiu sob uma lógica que apregoava, aos quatro cantos, que o Bolsa Família estaria "comprando os votos dos pobres" para a candidata de Lula. Argumentação tola e elitista, que, em momento algum, considera as substanciais melhorias na qualidade de vida de milhões de cidadãos brasileiros que, nos últimos oito anos, passaram a ter o "privilégio" de...comer! Argumentação de quem sente falta de um passado no qual a miséria era aquela ilustre desconhecida, escondida nos rincões do Jequitinhonha ou do Nordeste, abafada nas favelas das periferias do Sul e Sudeste, submersa sob as palafitas de quem só tem madeira e papelão pra chamar de lar.
E quem disse que é pouco ou menor votar pela continuidade de um governo que, pela primeira vez, proporcionou que famílias até então miseráveis tivessem garantido o direito à alimentação? Quem disse que esse voto não é legítimo?
Quem disse que é vergonhoso votar pela continuidade de um governo que fez avanços tão importantes no que diz respeito à diversidade? Governo que devolveu a crianças e jovens negros e pobres o direito ao sonho com um futuro melhor, com a universidade no horizonte?
Lá atrás, Lula falou que a Esperança venceu o medo. E venceu mesmo! Hoje, os 56% de eleitores que conduziram Dilma Rousseff ao mais alto posto da nossa República demonstraram claramente que gostaram de ter de volta a possibilidade do sonho. E que esperam um governo que faça mais e mais. Por todos! Mas, sobretudo, pelos setores da nossa sociedade que, historicamente, foram alijados das possibilidades de inclusão.
É com esses setores que me identifico. Por ser sensível à luta histórica desses setores votei, com orgulho, em Dilma Rousseff - nos dois turnos dessa eleição. E é por esses setores, por Dilma e por um Brasil cada vez melhor que me dedicarei a torcer daqui pra frente.