30.1.07

Sem mão

Só tinha a Deus ali. Ou, quem sabe, até Ele poderia estar cansado de ouvir suas lamúrias. Só tinha a si. Mas sabia que não se agüentava mais. Só. Só e ninguém. Só e o vento. Só e o penhasco. Só e o nada que reunia tudo o que estava ao seu redor.
Pensou na vida e no sentido dela. Pra quê tudo aquilo? Pra quê continuar com tudo aquilo? Nada lhe amarrava, mas nada lhe tirava a sensação de estar preso num lugar que não era a sua casa. Nada lhe parecia capaz de matar aquela saudade estranha, voraz, de algo que nem sabia ao certo o que era.
A terra escorregava por baixo do solado de seu sapato, o vento bagunçava seus cabelos e zunia em seus ouvidos. Alto demais, pensou. Tudo muito pequeno visto lá de cima. Braços soltos, libertos, que também não tinham nada pra carregar. Tudo o que tinha para segurar era pouco, quase nada. Naquele momento, tudo o que queria era uma mão pra segurar...
Sentou e deixou as pernas sacudindo lá de cima. Lembrou-se de outro dia como aquele. E, de novo, quis ler a bula da vida.

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