Hoje, depois de longo e tenebroso inverno sem pegar um coletivo, retomei a relação com um exemplar da espécie. Tava tudo indo muito bem até eu perceber, menos de 100 metros depois do embarque, que o motorista simplesmente não conhecia o trajeto da linha. Mais: estava sendo guiado pelo cobrador.
Normal, pensei. Todo mundo precisa de auxílio quando começa num emprego novo. Relaxei. A viagem seguia com o trocador indicando os pontos para o piloto (esse é nosso! Nesse não, parceiro!) seguindo as indicações definidas pela prefeitura no tal do BRS - com o qual, aliás, também não tenho a menor afinidade, porque sou do tempo em que tudo que é ônibus parava em tudo o que é ponto, mas...essa é outra história...
Enfim, aquela espécie de curso prático de motorista seguia diante dos meus olhos quando, na Praia do Flamengo, veio o primeiro susto: o aprendiz de condutor queria fazer uma curva à esquerda - ignorando completamente o rumo a ser tomado. O cobrador, atento, corrigiu o equívoco e iniciou uma breve palestra sobre os limites de velocidade na praia do Flamengo. "Aqui é mais rápido andar de patinete ou carrinho de rolimão (sic) porque ninguém pode meter mais que 60", advertiu. Mas também não precisa andar a 30km/h, pensei, mas respirei fundo e me diverti com a situação. Primeiro dia, caramba. O cara tá inseguro. Super compreensível...
Eis que, no fim da Praia do Flamengo, o motorista novato não seguiu pela Praia de Botafogo. "Ih, me distraí, foi mal", gritou o cobrador-navegador, atrasado e ciente da confusão criada.
- Que ônibus é esse, mermão? - berrou um passageiro.
- Não sabe dirigir, fica em casa! - advertiu uma senhora estressada e com voz de tenor.
- Pultaquimilpariu, resmungou o senhor que suava num terno no banco ao meu lado.
Não disse nada. A simpatia pelo motorista-de-primeira-viagem acabou, admito. Ele não tem culpa, claro. Mas não pode ser séria uma empresa - ou uma cidade - que permite uma situação dessas. Imagina um médico operando assim? Um engenheiro atuando assim? Não pode! Não dá!
"Quem quiser descer, desce aqui. É o jeito!", sugeriu o trocador, que também seria reprovado se estivesse sendo avaliado como formador de condutores. Puxei a cordinha e desci. Foi o jeito. O jeito que cada um de nós, o tempo todo, é obrigado a dar num país que se move aos trancos e barrancos; desprezando regras, leis, fluxos, processos; trocando tudo pelo jeitinho.
Ê, Brasil...
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