Há quase três semanas, fiz a entrevista mais difícil de toda a minha carreira. Num início de noite, eu e a equipe do Salto cruzamos a Ponte Rio-Niterói para gravar uma entrevista com Angélica Ivo. Angélica é uma mulher jovem, bonita, simpática e, infelizmente, marcada por uma tragédia. Alexandre Ivo, seu filho, foi brutalmente assassinado, aos 14 anos, num dos mais recentes - e bárbaros - casos que envolvem a homofobia no Brasil.
Ali, diante de Angélica, precisei me conter por diversas vezes para não acompanhá-la no choro - embora meu desejo fosse abraçá-la e chorar com ela. Afinal, o que se diz para uma mãe que passa por uma tristeza imensa como essa?
A blusa de Angélica trazia uma foto do filho. Alexandre, menino que nunca veremos adulto, terá para sempre aquela fisionomia doce, inocente. Ali, durante a gravação, por várias vezes me peguei olhando para aquela fotografia e me perguntando como alguém pode ter coragem de cometer uma atrocidade daquelas. Que sentimentos tem alguém que tortura, maltrata, espanca e mata um garoto de 14 anos?
Voltei para a TV muito triste. Tão triste que não tive cabeça para escrever sobre a entrevista aqui no B@belturbo. Os dias foram passando, comecei a editar a reportagem - tarefa que devo concluir nessa semana - e um episódio envolvendo o deputado Jair Bolsonaro me fez ter disposição para falar no tema aqui no blog.
Acho que é dispensável situar o que o pronunciamento da "excelência" tem a ver com o fato. Afinal, não me parece equívoco algum dizer que quem propaga a homofobia e o preconceito - como fez e faz Jair Bolsonaro - coloca armas nas mãos de criminosos como os que acabaram com a vida de Alexandre Ivo. Quem acha aceitável repudiar homossexuais - condição que não atribuo ao menino, que fique claro - defende que mais e mais assassinatos bárbaros sejam cometidos por quem, na verdade, está em crise com a própria sexualidade.
E pergunto: o que pretende quem hoje argumenta que a homofobia não pode se tornar um crime em nome da "liberdade de expressão"; ou seja, para que lhes seja garantido o direito a "criticar" a orientação sexual alheia? Pretende ditar os preceitos da moral e dos "bons costumes"? Pretende propagar suas visões de "certo" e "errado" e empurrá-las goela abaixo do restante da sociedade? Pretende parar por aí? Ou pretende, no futuro, voltar-se contra os rituais indígenas, as manifestações da cultura afrobrasileira e tudo o mais o que parecer "diferente"?
Não sei o que move essa gente - além do preconceito e da ignorância, claro. Só sei que a sociedade precisa enfrentar essa discussão de frente. Encará-la como um assunto importante, que pode poupar vidas inocentes como a do Alexandre Ivo. Porque uma sociedade que permite que seus jovens sejam barbaramente assassinados não pode se dizer uma sociedade séria.
No mais, uma profunda vergonha de viver num país que tem representantes do quilate de Jair Bolsonaro...
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