Eduardo: mais um "futuro bonito" que nunca vai chegar... |
Eduardo de Jesus Ferreira tinha 10 anos. Passava 10 horas por dia no colégio, um CIEP de Olaria. Era filho de uma diarista. Sonhava com um futuro bonito e dizia à mãe que a amava várias vezes por dia.
Que tristeza ter de escrever esse texto conjugando todos os verbos no passado...
Eduardo foi mais uma triste vítima da tragédia da segurança pública de uma cidade que, em vez de extinguir abismos, apenas resolveu fingir que eles não mais existiam. Um Rio de lágrimas - e de sangue - que segue mais partido do que nunca.
Eduardo foi morto e vi no Twitter sua foto sem vida. Terrível, trágica, dolorosa. Estirado e ensanguentado como jamais deveriam aparecer nos jornais meninos de sua idade - sobretudo quando a absurda extinção de suas vidas decorresse de tamanha negligência. De tamanho descuido. De tão absurdo silêncio de todos nós para uma história que se repete à exaustão. Não exagero: na última década, no Rio de Janeiro, 50 crianças foram mortas por policiais em incursões tratadas como rotineiras pelo Estado.
O que se faz diante disso?
Nada.
A gente sofre, a gente se entristece. E vem um novo escândalo, vem uma nova manchete terrível; vem uma nova piada no whatsapp.
E a gente esquece.
A gente esquece do Eduardo, esquece da dor incurável da mãe que estava se desdobrando para pagar cursos de inglês e informática pro garoto. A gente esquece do futuro bonito que ele nunca vai ter. Esquece de todas as contribuições que ele poderia vir a dar para ajudar a curar essa sociedade doente, covarde, assassina. Sim, a gente esquece que empurrou o policial para aquele tiro. A gente esquece que naturaliza, dia após dia, o inaceitável. A gente esquece que o escândalo seria muito maior se Eduardo de Jesus Ferreira morasse na Vieira Souto. A gente esquece que há lugares em que a polícia jamais entraria como entra no Complexo do Alemão. A gente esquece que vive num contexto em que o CEP determina como o cidadão vai ser tratado. E esquece que esse tratamento se desumaniza proporcionalmente à redução do valor do IPTU.
A gente se esquece porque é covarde. Porque se acostumou a achar que as coisas são assim. E porque não sabe como ou o quê fazer para alterá-las.
Queremos alterá-las?
A gente se esquece porque é cômodo. Porque Eduardo, infelizmente, não foi o primeiro e não será o último.
Quantos mais serão?
A gente se esquece porque favela é perigoso. Porque acha que - como ouvi dia desses - quem mora lá já sabe que o futuro pode nunca chegar.
E chegará?
A gente se esquece, sobretudo, porque vem esquecendo a cada dia mais o que significa a palavra humanidade.
Humanidade?
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