Desligou o telefone e o silêncio devastador confirmava: tudo estava deserto, vazio como seu peito. Nada havia mais a fazer, a dizer...a sonhar! Só restava sentir. E sentir aquela dor, sabia, seria o seu destino dali pra frente. Até que toda aquela sensação fosse parar no limbo, num canto qualquer do universo onde ficam guardadas as expectativas frustradas, os amores não-correspondidos e todos os laços que se desfazem nesse mundo tão superficial e descartável.
Já com o rosto deformado e ainda chorando, enfrentou a pior das inimigas de quem sofre: a própria mente! Pôs-se a lembrar de cada momento em que julgou ser tão feliz, das palavras amorosas ditas e das ouvidas. Abriu o álbum de fotos e reviu cada sorriso, cada abraço, cada pixel que parecia traduzir a mais bela e verdadeira das histórias. Verdadeira? - perguntou-lhe seu cérebro. Verdade? Sinceridade? Onde andava tudo isso? Em que momento, sem que pudesse notar, tudo tinha virado fantasia? Quando foi que se distraiu a ponto de confiar que agir bem é a garantia para se ter boas atitudes de volta?
Não achou respostas. E sofreu...
Sofreu só, sem o ombro amigo de todas as horas. Sofreu como nunca havia experimentado na vida. Era inédita a sensação de ver que pior que um castelo de areia que se desfaz e extingue os sonhos é a dor de uma realidade que, de uma hora pra outra, vira pó e se desmaterializa. Uma dor para a qual não estava preparado, porque ela era forte, cruel e pesada demais. Castigava-lhe o coração de forma a tornar impossível a tarefa de fingir que uma das poucas certezas que tinha nessa vida, dali pra frente, não existiria mais.
E lembrou do seu medo. O velho medo que externara numa tarde, na beira do mar. O medo de ser o bom garoto que, após um ano inteiro se comportando bem, veria Papai Noel, cruelmente, entregar seu tão sonhado presente para outro.
Chorou mais.
Mais que o seu maior presente, Papai Noel também tinha dado um jeito de lhe passar um recadinho com aquela atitude. E ,para quem sempre sonhou, é bem complicado perceber que, assim como os sonhos, os sentimentos verdadeiros não valem muita coisa hoje em dia...